Corrupto é sempre o outro

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Confesso não ter visto nenhum rubro-negro protestando contra o gol de Guerrero, decretando o empate do Flamengo contra o Corinthians, no último domingo, 23, num Maracanã lotado e todo vermelho e preto. Na quinta-feira passada, 20, o Fluminense acabara de marcar seu gol de empate, no Flamengo x Fluminense, em Volta Redonda.

Em flagrante impedimento, o gol foi validado e, após muita confusão corretamente anulado, mesmo sendo mais difícil sua visualização do que o do atacante rubro-negro. Nesse episódio, os protestos dos jogadores e dirigentes do Flamengo foram veementes fazendo com que o árbitro da partida voltasse atrás de sua decisão inicial, quando validou o gol, não respeitando a sinalização do bandeirinha, mostrando a irregularidade do lance. No domingo, nenhum protesto desses mesmos dirigentes ou jogadores. A pimenta ardia do outro lado.

Minha intenção não é falar de futebol, mas sim da corrupção entranhada em nossa gente, desde a descoberta do Brasil; essa pecha maldita pesando sobre nós, a de um dos povos mais corruptos do mundo. Temos corrupção no atacado e no varejo, grandes médias e pequenas.

No atacado quando descobrimos um governo, no caso o de Luís Inácio Lula da Silva e, depois o de Dilma Rousseff, que para se manter no poder barganhou com deputados federais, senadores, governadores, enfim, com a classe política em geral. Através de propinas, tráfico de influência e favorecimentos fez da corrupção uma meta, com o fim único de se perpetuar no poder.

Conseguiu seu intento por quase 15 anos. Produziu um dos governos mais corruptos de que se tem conhecimento em terras brasileiras, arrebentando com a nossa economia.

No varejo quando nós, povo, cometemos pequenos atos no nosso dia a dia que são, sim, genuinamente corrupção da maneira mais explícita. Um exemplo: um cidadão chega numa bilheteria de um teatro, cinema, enfim, de um espetáculo pago. A fila está imensa, dessas de virar o quarteirão; aí o indivíduo encontra um amigo próximo ao caixa e, na maior cara de pau, pede para que ele compre o seu ingresso. Não se dá nem ao luxo de se afastar, permanecendo ao lado do amigo, batendo papo, como se esse fosse um procedimento mais do que normal.

Outro exemplo: estaciona-se o carro num local sabidamente proibido e o guarda municipal ou policial militar saca do talonário de multas. Se o dono do carro chega nesse exato momento, a primeira reação do dono do veículo é tentar dar um agrado ao executante, na tentativa de se livrar da multa.

Ou, uma pessoa entra no supermercado e ao pagar a fatura, nota que o caixa lhe deu o troco errado. Se for para menos, chama esse caixa de desonesto, se para mais, fica quieto e se afasta o mais rápido possível, com aquele sorriso cínico do malandro que levou vantagem, mesmo que com isso prejudique um semelhante. Nesse exemplo, a desonestidade simplesmente mudou de lado, mas não é assim que funciona?

Por isso, o projeto de combate à corrupção que tramita no Congresso Nacional, de iniciativa popular, com mais de 1,5 milhão de assinaturas, aliado à operação Lava-Jato são de grande importância para o Brasil. No entanto, mesmo que deem certo será preciso no mínimo duas gerações para que comece a surtir efeito.

É preciso também uma mudança radical na nossa cultura, pois ela tem muito a ver com nosso “modus vivendi”. Exemplo vivo dessa necessidade nos deu, esta semana, o presidente do Senado Federal, Renan Calheiros. Com um baita telhado de vidro falou mal, gratuitamente, de um juiz de primeira instância e um ministro de estado, sob a alegação que o “juizeco de primeira instância” não poderia mandar prender os policiais do Senado, pois essa ação só poderia ser feita pelo STF. As alegações do magistrado, para a prisão, eram de que os policiais estavam prejudicando as investigações a cargo da Polícia Federal e do Ministério Público.

Será que aí também não tem o dedo de Calheiros, com vários processos em curso em ambas as instituições citadas? Mas, corrupto é sempre o outro.

Quem viver verá.

TAGS:

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.