Qualquer dia...

domingo, 09 de outubro de 2016

Libertadores, qualquer dia... Mas qual dia? Pro Botafogo, não tem dia, não tem hora, não existe minuto. Se 90 não são suficientes, ainda há acréscimos, a favor ou contra. Quantos foram os jogos em que a vantagem era alvinegra, e a indicação de quatro, cinco minutos adicionais testava a saúde cardíaca do torcedor. Quantas outras vezes tal indicação renovou a esperança, que nem sempre se transformou em felicidade. Quem vive o Botafogo sabe que um segundo pode demorar um milésimo ou dez minutos. Depende.

Qualquer dia, há alguns dias, rebaixaram o Botafogo. Inúmeras reportagens questionavam o futuro do clube e a sua capacidade de renascimento. Falaram em gangorra, sobe e desce, instabilidade. Fecharam os olhos para a evolução da equipe dentro de campo. Esgotaram as chances alvinegras depois da demissão de Ricardo Gomes.

Qualquer dia, e não faz tempo, questionaram a escolha de Jair Ventura. Este que vos escreve questionou. A torcida quase toda também. O "já rebaixado Botafogo começaria ali a escrever outras páginas melancólicas em sua rica história". Não há mais espaço para tal na mais bela de todas as histórias. A começar pelo jogo contra o São Paulo, no Morumbi. As manchetes, do tipo “E agora?”, “Jair é o ideal?”, ou “Tem solução?” já estavam prontas para serem publicadas. Todas elas foram substituídas por outras, que trouxeram um misto de surpresa e incredulidade. Não deveria. Esqueceram que se tratava do Botafogo.

Em todas as colunas que escrevo faço questão de ressaltar sobre qual instituição estou escrevendo. Trata-se de um dos 12 maiores clubes de todos os tempos do futebol mundial, segundo a FIFA. Ninguém inventou. Aqui não é 87. É fato. O botafoguense jamais pode se esquecer desse detalhe. Alguns já "esquecem por nós", e tentam manipular os demais. Mas todas as vezes em que a Estrela Solitária estiver em campo, nada brilhará mais forte.

Qualquer dia, num dia desses, ou em quase todos os dias, critica-se Bruno Silva. Displicente em alguns momentos e tecnicamente limitado sim. Mas nunca deixou de se lutar e se entregar. Talvez no esquema com três volantes (onde todos precisam saber jogar) seja o que mais possui dificuldades de adaptação, por ter menos qualidade. Contudo, mesmo vaiado, questionado e criticado, tem o seu valor. Corre o tempo todo, e é o maior ladrão de bolas da equipe.

Graças a Bruno, qualquer dia, cantaremos “Qualquer dia tamo aeeeee...”. Que vitória! Bem ao estilo Botafogo: no fim, na última hora, na bola improvável, quando todos já se preparavam para reclamar de Pimpão. Depois de uma grande oportunidade desperdiçada por Sassá. Depois de um jogo truncado, de muita marcação. De poucas oportunidades.Tinha que ser assim. Afinal quase ninguém mais acreditava... Na vitória, na capacidade de reverter o cenário negativo no Brasileiro, na possibilidade de subir na tabela... Quase ninguém! Porque milhões sempre acreditaram. Aqueles que, mesmo quando duvidam, não perdem a fé. Que convivem com os mais diversos tipos de contradição. Que comemoram vitórias contra clubes de grande porte, e são obrigados a engolir inexplicáveis trpeços, como aquele contra o América-MG.

Qualquer dia entenderemos o por que de tudo isso? Definitivamente não. O Botafogo não se entende. Aceita-se e vive-se. Intensamente. Canta-se o hino até o meio, pois a emoção não deixa completar toda a letra. Perde-se o estádio, o Nilton Santos, injustamente por conta de uma interdição desnecessária. Um baque nas finanças e no ânimo. Mesmo assim há forças para recomeçar, encarar uma nova queda e subir. Encontrar uma nova casa, a Arena Botafogo. Remontar o time, passar por cima de contratações equivocadas e do planejamento mal feito. Se isso não é ser gigante, por favor, mudem a definição dessa palavra no dicionário.

Qualquer dia... Daqui a alguns dias, cantaremos: “Libertadores, qualquer dia tamo aeeeee... Iiiiiiiiih...”. Os organizadores da competição já podem preparar uma nova saudação para o retorno do Gigante, assim como fizeram há dois anos. O preto e o branco voltarão a encantar a América.

Saudações alvinegras! Fui tirar meu passaporte, e volto na semana que vem...

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