​Vamos falar sobre suicídio

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), cerca de um milhão de pessoas cometem suicídio por ano. Quase 2.740 por dia. Cerca de 114 a cada hora. O suicídio é a segunda maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. Também com alto índice em idosos e pessoas que foram vítimas de violência.

Não gostamos de falar sobre a morte. Em famílias de uma mesma cultura, o assunto de sofrimento, dor emocional, morte, é negado. Se algum membro destas famílias apresenta uma doença grave, por exemplo, câncer, é comum se referirem ao câncer como “aquela doença”, ou “aquilo”, ou “aquele problema”. Mas não falam o termo “câncer”.

Há pessoas que ao invés de se referirem à morte diretamente, dizem: “Se acontecer algo comigo, façam assim...”. Por que é difícil falar “morte”, “morrer”, “quando eu morrer”? Por que tentamos fugir da coisa mais certa da vida que é a morte? Não a evitamos ao não falar dela. Pelo contrário, por não falar, alguns se acumulam de tristeza e se matam.

A revista Quatro Rodas certa vez publicou uma matéria com o título: “Carros que você precisa dirigir antes de morrer”. Vamos morrer. Seja você pobre, classe média, rica, muito rica, vamos todos morrer. Morremos à cada dia. Mas negamos. E alguns vivem como se fossem durar a eternidade, juntam dinheiro como se fossem viver três, cinco, ou vinte vidas superconfortáveis. Não se saciam com o que possuem, querem mais e negam a morte.        Quando lhes abate uma doença, tragédia, acidente grave, alguns passam a se interessar pela vida religiosa, fazem discursos tipo “agora vejo que o material não é o mais importante”, rezam juntos em família e muitos logo estão de volta à vida anterior mesquinha em termos materiais, novamente negando a finitude, o limite humano, a morte. Não aprenderam? Não tiveram um despertar espiritual? Foi um momento de religiosidade superficial movido por medo e não por convicção de que há realmente algo maior no significado da vida do que apenas dinheiro, fama, prazer?

Quando consideramos as estatísticas de tentativas de suicídio (os não concretizados) o número sobe para entre 15 a 25 milhões por ano. De 41 mil a 68 mil por dia. O Brasil é hoje o oitavo país do mundo em número de suicídios, tragédia que afeta pessoas de todos os níveis sócio-econômico-culturais.

É importante que na família, nas escolas, nas igrejas, se fale da morte e de morrer sem medo, sem constrangimento, sem eufemismos (palavras mais “agradáveis”). Isto ajuda a pessoa que está com, ou que pode vir a ter, pensamentos suicidas a entender, discutir o assunto, vencer tabus, não sentir isolado, fazer perguntas etc. Falar ajuda a curar.

Ainda importante na prevenção do suicídio é a criação de vínculos de ajuda mútua, pois favorece a sensação de pertencer, integrar, apoiar. E procurar ativamente um sentido para a vida que promova a esperança, produz a fé, aumente a intimidade com Deus e uns com os outros. Suicídio tem muito a ver com perda da esperança.

Precisamos reconhecer nossos limites também. Nós não podemos tudo, não temos respostas para tudo. Isso é ser humano. Qualquer pessoa pode se deprimir e chegar a pensar em morte, em suicídio diante de sofrimento que não vê solução. E se esta tristeza desesperançada estiver associada ao esgotamento físico e emocional, problemas econômicos, isolamento por falta de amigos, a situação fica mais grave.

Alguns “gatilhos” que favorecem a idéia suicida pela perda do desejo pela vida podem ser: falência financeira, término de relacionamento amoroso, perda do emprego, perda de uma pessoa amada como um filho, irmão etc, injustiças na vida profissional que favorece o fracasso, abuso moral nas empresas, abandono social, solidão.

O que ajuda a prevenir a possibilidade de suicídio? Desenvolver amizades, evitar clima de competição nas escolas, empresas, igrejas quando se tenta mostrar que um é melhor, é mais esperto, mais poderoso do que o outro. Não fomos criados para competir, mas para compartilhar.

Veja os termos que a mídia e locutores esportivos usam: “o time A massacrou o time B”. “O time C arrasou o time D”. Massacrou, arrasou. É esporte para recreação ou para destruição? Tenho atendido clientes competentes que estão com síndrome de esgotamento (burnout) porque nas empresas a competitividade e cobrança são desumanas já que o mais importante para muitos patrões é o capital, não a pessoa.

Ajuda, portanto, a prevenir o suicídio parar de competir, sair do padrão compulsivo de trabalho com o fim de ter tudo o que a sociedade consumista diz que é preciso ter para ser feliz, tendo consumo mais simples. Valorizar amizades. Desabafar com conselheiro ético. Descansar. Meditar. Desenvolver a espiritualidade. Ajudar outras pessoas de graça.

Fontes: www.ultimato.com.br/conteudo/o-suicidio-e-o-papel-preventivo-da-igreja

http://ultimato.com.br/sites/casamentoefamilia/2016/09/15/o-caminho-sombrio-para-o-suicidio-de-pastores/

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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