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Reflexão sobre o impeachment versão 2016
Passados os mais de quatro meses do processo do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, terminado na quarta-feira, com a aprovação de sua destituição por 61 dos 81 senadores votantes, várias reflexões se impõem. Claro está que a minha visão é uma, de maneira nenhuma a mais acertada, mas o difícil é deixar de lado as paixões e refletir de maneira isenta.
A atuação do presidente do STF, Ricardo Lewandowsky, foi muito semelhante ao atual time do Botafogo: bom desempenho durante o jogo colocando tudo a perder nos minutos finais. O artigo 52 da constituição brasileira diz textualmente: Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:
I - Processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles;
II - Processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da União nos crimes de responsabilidade;
Parágrafo único: Nos casos previstos nos incisos I e II, funcionará como Presidente o do Supremo Tribunal Federal, limitando-se a condenação, que somente será proferida por dois terços dos votos do Senado Federal, à perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis.
Portanto, utilizar-se do regimento do Senado Federal, em detrimento da carta magna do país, para camuflar desejos inconfessáveis, não se coaduna com a postura de um jurista que ocupa o mais alto cargo da Justiça do país. Fatiar o julgamento da presidente foi um ato deliberado e de má índole do perpetrante.
Com relação ao ato político em si, já que o afastamento de um presidente é, antes de tudo, um acontecimento político, a interpretação tem que se iniciar no conjunto da obra. Só o cidadão mais empedernido ou comprometido com o status quo anterior pode ainda defender a Sra. Dilma. O Brasil atravessa uma das piores recessões de que se tem notícia, nesses 127 anos de república. O PIB (Produto Interno Bruto), no ano de 2016, está negativo em 3,20%; em 2015 foi de menos 3,80% e a inflação foi de 10,67% no ano anterior, contrariando a meta de 6,5%, aliás, o teto fixado pelo governo. Este ano deve ficar próximo aos 7%.
Esses indicadores econômicos trouxeram água abaixo as conquistas anteriores da população de baixa renda e uma fatia importante que tinha migrado da classes D e E para as C e D, retornaram à condição anterior. O desemprego, antes menina dos olhos do governo do PT, atingiu a taxa de 12%, ou seja, 12 milhões de brasileiros sem emprego. A opção pelas republiquetas da América do Sul e da África levou a política externa brasileira a ser motivo de desconfiança no estrangeiro. A corrupção, endêmica entre nós, atingiu níveis inacreditáveis nesses 13 anos de governo petista. O astral elevado do brasileiro, iniciado com o plano real, na época muito criticado pelo próprio PT, deu lugar a um pessimismo sem igual.
A proposta de novas eleições, como defendida por muitos e pela própria Dilma, durante sua defesa no Senado Federal, cai por terra por ferir a carta magna do Brasil, essa mesma que foi rasgada por Ricardo Lewandowsky. Somente a cassação da chapa Dilma-Temer, em processo em curso no TSE, ensejaria a marcação de novas eleições. Dizer o contrário é querer confundir a cabeça dos menos esclarecidos, jogar para a galera, assim como os boatos de inconsequentes ao dizerem que um possível governo Aécio Neves cortaria os benefícios sociais criados pelo PT. Aliás, o mesmo se diz em relação ao recém-iniciado governo Temer.
A lição que fica é que nunca se consegue agradar a todos e, aqueles que defendem Dilma acima de tudo, terão nova oportunidade, em 2018, de reconduzir ao poder o que sobrar do PT atual, se ainda conseguirem os 54 milhões de votos que elegeram Dilma Vana Rousseff, em 2014.
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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