Araxá, uma cidade encantadora

terça-feira, 21 de junho de 2016

Resolvi ir a Brasília, de carro, mas por um trajeto diferente do tradicional, pela BR-040. Escolhemos ir a Araxá, Cidade de Goiás (Goiás Velho) e, por último, a capital federal.

Araxá fica a 750 quilômetros de Nova Friburgo e não aconselho ir de uma vez só, pois a viagem é muito cansativa. Na Europa, é possível fazer esse mesmo trajeto em pouco mais de cinco horas. Nós passamos pelo menos 14 horas na estrada, e o que é pior, os últimos 150 quilômetros já com noite fechada.

A cidade encontra-se na cratera de um vulcão extinto e os indígenas a designavam por este acidente topográfico; na realidade, em tupi guarani, significa terreno elevado e plano. Em função disso, o pôr do sol local é exuberante e uma atração turística a mais. Segundo levantamento do IBGE, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística,  ela tem hoje 100 mil habitantes, uma qualidade de vida invejável, com um trânsito sem engarrafamentos e sem a violência típica de muitas cidades brasileiras.

É um pouco mais velha do que Nova Friburgo, já que foi fundada em 1780, com o aparecimento de um povoado em um pouso de tropeiros, na passagem de gado que ia a localidade de Barreiro salitrar. Em 1791, foi criada a Freguesia de São Domingos do Araxá.

Mas, foi em 1836 que ela se emancipou da cidade de Paracatu, formou sua primeira câmara e elegeu seu primeiro presidente (prefeitos da época do Brasil Império).

São várias as atrações turísticas de Araxá, destacando-se o complexo hidromineral do Barreiro, com fontes de águas minerais sulfurosas, onde está o Grande Hotel e o Balneário, antigo cassino, fundado em 1944; a fonte Dona Beja, onde a famosa personagem tomava banhos de lama. Aliás, sua beleza impar para a época era atribuída a esses banhos.

São locais de visitação, também, a casa de Dona Beja, o museu Calmon Barreto, a árvore dos enforcados e o parque do Cristo, de onde se tem uma vista panorâmica da cidade.

Dois são os personagens ilustres da região: Dona Beja e Calmon Barreto. Comecemos por aquela que, segundo a história, foi a responsável pela anexação de Araxá às Minas Gerais, pois anteriormente pertencia a Goiás.

Ana Jacinta de São José nasceu em 2 de janeiro de 1800, na cidade de Formiga, Minas Gerais. Em 1805 se mudou para Araxá na companhia da mãe e do avô, aliás deve-se a ele o apelido de “Beja”, ao compará-la à doçura e beleza da flor “Beijo”.

Em 1815, dona de uma beleza incomparável, ela foi raptada pelo ouvidor do rei, Joaquim Inácio Silveira da Motta. Nesse episódio seu avô foi morto pelos dragões do ouvidor, ao tentar impedir o rapto.       

Como ele não mantinha relações amistosas com o governador de Goiás, solicitou ao rei Dom João VI, a incorporação do povoado à cidade de Paracatu, pois o governador de Minas Gerais lhe era simpático.

Após dois anos, Joaquim Inácio, que era casado, foi chamado de volta à corte e Dona Beja retornou a Araxá. Vista como amante e não como vítima, mas rica, ela construiu uma chácara, a Chácara do Jatobá, onde recebia seus amantes, todos homens da sociedade e vindos de todos os lugares do Brasil.

No entanto, ela escolhia com quem se deitar e conta a lenda que tinha duas porções: a do “não” e a do “sim”.  Se alguém insistisse em deitar-se com ela, lhe era dado de beber a porção do “não”, elixir broxante. Apesar de já ter pago pelo serviço, não havia reclamação, pois na época isso seria motivo de chacota.

Em 1853, Beja se mudou para Bagagem, hoje Estrela do Sul-MG, onde se dedicou ao garimpo de diamantes e às duas filhas. Faleceu em 1874, de nefrite, doença incurável na época.

Já Calmon Barreto nasceu em Araxá, em 1909, e mudou-se para o Rio de Janeiro aos 11 anos, para iniciar sua formação cultural. Entrou para a Casa da Moeda onde teve os primeiros contatos com a arte. Posteriormente, cursou a Escola Nacional de Belas Artes, onde se especializou em desenho e escultura. Complementou seus estudos na Escola de Arte de Roma, além de frequentar vários museus europeus.

Na sua volta ao Rio de Janeiro, colaborou com as principais revistas e periódicos da capital, criando cerca de 1.500 ilustrações de contos, crônicas, livros etc. Nessa época produziu um grande número de esculturas e pinturas em tela, como os famosos quadros sobre as paisagens marítimas de Cabo Frio.

Retornou a Araxá ao aposentar-se, em 1967, onde deu continuidade à sua obra. Morreu em sua terra natal, em 9 de junho de 1994.

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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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