Salve, Tiamat, mãe de todos os dragões!

quinta-feira, 16 de junho de 2016

“Há muito tempo, desde o começo da humanidade, o dragão, com seu corpo de serpente e seus poderes mágicos, esteve presente entre nós, sugerindo-nos que existe um ser imortal presente no interior de todas as coisas.”
Francis Huxley, 1977

Guardo lembranças dos dragões que passearam pela minha infância, período da vida em que brincava a perder o tempo, principalmente na casa da tia Marina, em Teresópolis, quando subia em telhados, atravessava rios e descobria trilhas sinistras, como a da Toca da Onça. Só que tinha um problema que não considerei grave, nem foi assunto nas minhas tantas sessões de terapia; eu era a única menina, entre seis meninos. Com isso, quero dizer, não tinha o costume de brincar de boneca ou casinha. Aliás, esses momentos quando aconteciam eram tão raros que até me faziam estranhar. Para contrabalançar tal imposição do destino, tinha avós que me contavam histórias. Tive que sobreviver ao mundo masculino que acabou se tornando tão interessante e dele tenho imensa saudade. Inclusive dos meus primos, Dom e Tuca. E de todos os monstros que enfrentamos com bravura e fomos vencedores.

Qual criança que não se fascina com dragões?

Por que tantas pessoas os trazem tatuados no corpo?

Os dragões são a obra-prima da imaginação humana ante sua fragilidade. São, provavelmente, as figuras mais extraordinárias, famosas e estudadas no mundo pelo que significam: poder e imortalidade. Está presente em quase todas as culturas e civilizações, desde os tempos mais remotos, sendo representados de diferentes modos. Na cultura chinesa, por exemplo, significa um ser dotado de qualidades superiores, vitalidade e transformação. Em outras, está relacionado à religiosidade. Na literatura fantástica é um ser de poderosas forças. Supõe-se sejam filhos de Tiamat, deusa da mitologia babilônica, divindade associada à água salgada dos oceanos e descrita como uma serpente marinha que deu à luz a dragões, serpentes e sereias. Também há quem diga que sejam oriundos das terras de Atlântida. Ou da era dos dinossauros. Enfim, o certo é que eles são criaturas míticas e fantasiadas, sem comprovação científica de existência real, pelo menos até os dias atuais.

A palavra dragão é derivada do verbo grego drakein e significa ver claramente ou aquele que enxerga longe; significa conhecimento. Sua figura causa estranhamento e fascinação por ter grandes dimensões e poderes sobre-humanos, até sobrenaturais. Além do que possui características de vários animais: podem ter chifres dos cervos, cabeça de camelo, olhos do demônio, pescoço de serpente, barriga de molusco, escamas de peixe, garras de águia, pés de tigre e orelhas de boi. Como também por vir dos altos-mares e de sombrias montanhas, o que favorece à construção de ilusões e todos seus efeitos perceptivos.

A literatura fantástica, gênero literário caracterizado por narrativas ficcionais, centradas em elementos mágicos e não reais, privilegia os dragões. Este gênero atrai o interesse do público leitor, principalmente do infantojuvenil, que necessita do pensamento mágico para apreender o mundo e situar-se no âmbito das relações humanas. Isto porque a dinâmica entre a razão e a imaginação favorece os processos de construção da identidade individual e social, uma vez que estimula os processos reativos ante as situações quotidianas.

Os autores de ficção, criaram, ao longo do tempo, diversos dragões na literatura fantástica, desde os mais “simpáticos”, aos mais “pavorosos”, dando às histórias um toque de suspense, o que sempre despertou o interesse do leitor.

Queria terminar esta coluna com uma mensagem para Tiamat.

Tiamat,

Bom conhecer você. Agora sei que é uma deusa importante para nós, os leitores e os escritores. Não vou mais me assustar com a terrível aparência dos seus filhos que têm nos oferecido diversão e crescimento. E tanto contribuído para o desenvolvimento do hábito de leitura. Aliás, a literatura não seria a mesma caso não existisse. Sempre que encontrar algum dos seus filhos nas histórias, vou sentir imensa alegria. Quem sabe, um dia me aventure em imaginar uma história sobre você e sua família.

Tereza, sua fã.

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