Chega de conto de fadas! Não é?

segunda-feira, 09 de maio de 2016

Impossível, improvável, inimaginável. Irreversível, inalcançável... Inacreditável! Palavras que se encaixariam em qualquer contexto para uma equipe teoricamente inferior, em desvantagem e desacreditada desde o início da temporada. Desde que essa equipe não fosse o Botafogo. Desde que os jogadores não carregassem consigo uma Estrela Solitária no lado esquerdo do peito. Desta vez, entretanto, não foi suficiente. Faltou qualidade para transformar a superioridade de 180 minutos em gols. Mas é preciso lembrar que por trás de um céu nublado sempre existirá uma estrela, e que depois da tempestade, é ela quem brilha à noite. E traz a certeza de que outro dia está por vir.

Boa parte da mídia se esqueceu desse fato. Um pequeno detalhe que desde 1904 fascina a quem foi escolhido. E por isso não se faz questão de ser maioria no Maracanã ou em qualquer outro lugar. Apenas é preciso estar ali, representado por sua gente, sejam os 7 mil de sempre ou mais de 100 mil. Eles, de forma impressionante, se multiplicam, representam cinco milhões e valem, cada um deles, por dezenas de adversários. Cantamos muito mais! Expliquem... Ou ao menos tentem explicar! É assim que o Botafogo debocha de quem ainda duvida... Assim como Garrincha debochou de seus “Joões”, Manga, Túlio, Loco Abreu e tantos outros debocharam de seus adversários. Dessa vez, o destino foi quem debochou do botafoguense... O nosso grande ídolo, a referência, falhou. Duas vezes. Uma em cada jogo. E se não foram decisivos, os erros comprometeram e muito. Além desses gols, o que mais o Vasco criou nas duas partidas?

O Botafogo nunca será favorito. Nunca gostou disso. O Botafogo não é favorito nem quando é favorito. Ter time melhor ou pior, vantagem ou desvantagem, jamais importou. Ali, dentro de campo, durante pouco mais de 90 minutos, tudo pode acontecer. E acontece. De tudo mesmo! O torcedor botafoguense jamais acreditou que a equipe pudesse reverter a vantagem contra o Vasco. Ao mesmo tempo, tinha certeza que o título viria. Confuso? Não. Botafogo. O clube que foge do óbvio, eternamente contrasta confiança e pessimismo, e tenta a todo o tempo encontrar heróis e culpados, saídas e desculpas. E vou contar para quem ainda não sabe: todos esses sentimentos distintos convivem em perfeita harmonia no universo Botafogo. Foi assim quando Leandrinho fez 1x0. Euforia que pouco durou. A sensação de que havia garantia na defesa, pela impotência do adversário e pela qualidade do Jéfferson, se transformou em frustração. Rapidamente. Será que o time que demorou 140 minutos para transformar domínio em gol seria capaz de balançar as redes mais uma vez? Com um pouquinho mais de capacidade seria. Até mais de uma vez.

O time que chegou a nove das últimas 11 decisões de Campeonato Carioca precisou, desde o primeiro minuto da rodada inicial, provar para o torcedor e para si próprio que poderia tirar algo de quase nada. É preciso reconhecer o esforço, a dedicação e o fantástico trabalho de Ricardo Gomes. Mas... Chega de conto de fadas! Não é? Até quando o Botafogo vai ser “apenas” o clube do passado mais belo do futebol mundial com potencial para voltar a ser o Glorioso no futuro? Está demorando. E não culpo a atual diretoria pela incompetência de outrem. Mas algo precisa ser feito. Eles assumiram a direção do clube conscientes desse cenário. Entre passado e futuro existe o presente. E o Botafogo perdeu seis das nove decisões. Na metade delas, pelo menos, como na deste ano, sendo superior ao adversário em campo. Erros de arbitragem atrapalharam, mas não é positivo agora tapar o sol com a peneira. É preciso ousar, planejar, profissionalizar. Ter meta! Meta de time gigante que nós somos! Com os pés no chão sim, óbvio, mas com um pouco mais de malandragem. No bom sentido da palavra.

O torcedor do Botafogo também precisa comprar a briga. O sócio-torcedor, por exemplo, é um fracasso. Quanto ao comparecimento aos estádios, este colunista pensa ser uma questão muito mais complexa do que horário dos jogos, localização de estádio, preço de ingressos e outros fatores. Tudo isso pesa, claro. Mas a falta de perspectiva e resultados concretos – pelo menos um título nacional - pesam muito mais. Querem uma prova para a defesa de minha teoria? Lembram-se da Libertadores de 2014? Quem teve a melhor média público da competição em sua primeira fase? O Botafogo! O torcedor alvinegro precisa apenas de motivação. E com qual começaremos o Brasileirão deste ano? É preciso vencer, pelo menos, entre 13 e 15 jogos para não ser rebaixado. Isso mesmo, considerando esta a primeira meta, o que é muito pouco para a grandeza do clube. Mas friamente: será que temos time para 45 pontos, no mínimo? Será que o Botafogo vai conseguir sempre jogar no limite, como fizera nos clássicos do Estadual? Difícil. Quase impossível. Pela longevidade do campeonato, nível dos adversários e falta de elenco – principalmente.

O botafoguense sempre vai desconfiar, mas sem jamais abandonar ou carregar consigo a esperança de que tudo aquilo, que parece tão óbvio, pode ser diferente. E de repente é. E de repente foi. Mal contra pequenos, bem em quase todos os clássicos. Perdeu em jogos que não merecia, e venceu outros onde, talvez, nem tenha feito tanto por onde. Há 112 anos é assim. Por isso, não se pode ser Botafogo como se é outro clube. Tem que ser de corpo e alma. Ser Botafogo é escolher um destino e dedicar-se a ele, viver essa paixão sem procurar muitas respostas. Elas jamais serão encontradas. Campeão ou não... Mais eu vivo, mais te amo!

Saudações alvinegras! Seguimos a nossa caminhada na Copa do Brasil e no Brasileirão. Até a próxima...

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