Livros e lanternas

sexta-feira, 22 de abril de 2016
Foto de capa

Nesta semana, dia 18 de abril, foi o Dia Nacional do Livro Infantil, ou o Dia Nacional da Literatura Infantojuvenil, data em que se comemora o nascimento de José Bento Monteiro Lobato, um brasileiro criador de histórias e contador de causos, nascido em Taubaté, São Paulo, em 1882.

A homenagem ao livro e à literatura tem a finalidade de mostrar que o Brasil precisa das crianças e dos jovens para construir-se; eles têm o futuro nas mãos. Isto porque o livro sustenta nosso processo de construção como humanos e cidadãos. Os livros são como lanternas que iluminam a experiência quotidiana; ao mesmo tempo simples e complexo, o viver tem jeito aventureiro e acontece a cada instante do dia, muitas vezes surpreendente; precisamos da leitura, enquanto sustança que nos ajuda a subsistir aos embates, entender o novo e montar complicados quebra-cabeças. A leitura nos faz aperfeiçoar, levantar edifícios e arar pastos.

Mas não devemos esquecer dos leitores que abrem livros para conhecer um pouco mais do lugar onde vivem, o Brasil, de norte a sul, do litoral ao interior, e saber como o brasileiro cuida dos seus barcos e hortas.

Apenas estes parágrafos seriam suficientes para compor a coluna. Se os repetisse páginas afora, tenho certeza de que reforçaria a reflexão a respeito da importância do livro na vida de um país. Possivelmente, estas ideias estiveram presentes nas intenções de Monteiro Lobato quando escreveu sua vasta e inédita obra, em que demonstrou amor pelo Brasil e pelo povo brasileiro. Com personagens críticos, como Emília, apontava para o solo fértil, o clima bom, a gente criativa e o povo trabalhador do seu país.  

Não foi à toa que Monteiro Lobato trouxe o jovem e a criança para o mundo literário, enquanto personagens de um mundo mágico, tão próximo ao real, em que fez com que o O Sítio de Picapau Amarelo retratasse pedacinhos do Brasil. Tal e qual.

Ah, sou privilegiada! Tive a sorte de visitar este espaço imaginado, quando estive pessoalmente com Pedrinho, Tia Anastácia, Narizinho, Visconde de Sabugosa, Emília e Dona Benta quando trabalhava no colégio Bennett como Orientadora Educacional. Como sempre, bem metida em tudo, querendo me aproximar das pessoas e conhecer as coisas, participava intensamente da homenagem que o Colégio fazia anualmente a Monteiro Lobato. Todas a turmas faziam trabalhos interessantes, expostos na casa frontal do colégio (o colégio tinha várias edificações). Num desses anos, Zilka Salaberry, a avó de dois alunos e a atriz que interpretou Dona Benta, na série da TV Globo, Sítio do Picapau Amarelo, já bem idosa e aposentada, participou de perto da semana de Monteiro Lobato. Tive o privilégio de visitar o lugar onde o O Sítio de Picapau Amarelo era filmado, na Barra da Tijuca.

Lá, parecia que estávamos mesmo dentro dos seus livros. Ainda estão vivas em minha memória a cozinha com panelas penduradas nas paredes, a mesa com toalha de xadrez vermelha e branca, a Tia Anastácia com um turbante branco na cabeça, saias compridas e avental, o incrível laboratório do Visconde de Sabugosa com tubos de ensaio espalhados por todos os lados, o quintal da casa, onde aconteciam conversas inteligentes entre Emília e o Visconde.

As crianças embevecidas, por estarem dentro de um universo ficcional lido nos livros e assistido na televisão, ao lado de Zilka, vestida normalmente, sem os trajes de Dona Benta, tiveram a possibilidade de atravessar a ponte do real para o imaginário. E, não é que ali, dentro daquele cenário, todos nós nos sentimos acolhidos. Ah, a sensação do acolhimento é tão gostosa... Monteiro Lobato tratou das relações humanas com dignidade e respeito.

Hi! Acabo de me lembrar que, vez em quando, um pica-pau amarelo vem me dar bom dia, batendo no vidro da minha janela da sala, momento em que mais gosto de escrever.

Bom sinal!

Então, deixo aqui um abraço a todos os jovens leitores e dedicados escritores.

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