Onde está a verdade nessa história

quarta-feira, 16 de março de 2016

Com o subtítulo “Desapropriação recente e estudo de compensação ambiental abrem caminho para que obra seja licitada em breve”, A VOZ DA SERRA anunciou em sua edição do último dia 8 que a ligação entre os bairros Debossan e Cascatinha pode sair, em breve, do papel com a reabertura da estrada do Garrafão.

Essa ideia não é novidade e, na década de 1980, quando o prefeito era Heródoto Bento de Mello, foi motivo de várias discussões entre a Associação dos Moradores do Cônego e a Prefeitura de Nova Friburgo.

O projeto de Heródoto era construir a Queijaria Escola no terreno onde hoje será erguido um mega condomínio, ao lado do Grupo de Promoção Humana (GPH). Assim, com a abertura da ligação Debossan-Cascatinha, a produção de queijo teria acesso mais rápido ao Rio de Janeiro e estaria aberta a possibilidade da transformação do Cônego em bairro industrial.

A fábrica de queijo seria o seu primeiro empreendimento. Pelo menos essa era a opinião do professor Rosalvo Magalhães, na época o presidente da associação dos moradores do bairro. Para sorte de muitas famílias, essa ideia sem propósito não vingou e a tranquilidade no bairro reinou, pelo menos, até agora.

Pelo noticiário ficamos sabendo que de acordo com o secretário da Casa Civil da Prefeitura, Edson Lisboa, o governo espera cumprir todas as exigências necessárias à abertura de licitação para que o caminho seja adaptado ao tráfego de veículos, oferecendo uma alternativa ao longo trajeto através do Paissandu.

Mas, existe uma pergunta que não quer calar que eu me faço e que, creio, as pessoas que pensam nessa cidade devem, também, estar fazendo: a estrada é apenas para os moradores do Debossan visitarem o Cônego e a Cascatinha e vice versa? Ou talvez visitarem parentes em Olaria?

Isto porque se for uma via alternativa para se chegar ao centro da cidade, não faz o mínimo sentido, pois quem mora nesses bairros têm obrigatoriamente de passar pelo Paissandu. A menos que se arrisquem pelo labirinto que é a passagem pelo Vale dos Pinheiros e Vila Amélia, aliás, uma das promessas do atual prefeito quando da sua campanha eleitoral, como alternativa para o transito intenso que passa pela famosa praça.

Outro problema a se pensar é com relação ao ecossistema daquele segmento da Mata Atlântica, preservado enquanto persistiu a contenda entre o proprietário do terreno localizado exatamente no transcurso da estrada e a prefeitura. Enquanto foi uma simples trilha, a ameaça à flora e à fauna foi pequena, no entanto, por mais que se diga que todos os esforços serão feitos para a preservação de espécies animais e vegetais, uma estrada é e será sempre uma agressão a esse ambiente, com consequências imprevisíveis.

Não podemos esquecer que estamos no Brasil e, em particular, no Estado do Rio de Janeiro e, porque não, em Nova Friburgo.

Aliás, o desmatamento é uma constante nos bairros Cônego e Cascatinha, com a construção de condomínios que mais parecem ervas daninhas, tal é a rapidez com que surgem na paisagem cada vez mais pelada dos morros da região. Reflorestamento? O último empreendimento, de início recente diz, nos seus prospectos, que vai preservar o verde, 13 mil metros quadrados. Mas, no momento, o que se vê é uma grande área totalmente devastada. Após o término das obras, farão o replantio.

Na zona rural, é obrigatória a manutenção da área de preservação ambiental, não se pode derrubar nada. Nas zonas urbanas a legislação é diferente?

Como o trânsito nesses bairros já é caótico e a tendência com a construção de uma estrada é aumentar o fluxo de veículos, acho que o mais correto por parte da prefeitura seria promover uma reunião com os moradores do Cônego e Cascatinha, através das associações de bairro e debater a questão. Não esqueçam autoridades constituídas, que o IPTU dessa região está entre os mais caros da cidade e a qualidade de vida dos moradores desses bairros tem de ser preservada.

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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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