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Conversa de casal
Eu quero saber é se o presídio daqui admite visita íntima
- Quanto custou isso?
- Acho que você ficará mais feliz se não souber.
- Vai ver custou uns oitocentos reais! Oitocentinhas! Você não tem pena de mim, essa é que é a verdade! Pode falar: eu já tomei um Rivotril hoje de manhã.
- Foi um pouco mais de mil.
- Minha Nossa Senhora Protetora dos Maridos Falidos! Mais de mil quanto?
- Um pouquinho só, não se preocupe.
- Fala logo: quanto mais?
- Três mil e quinhentos.
- Esse troço custou três mil e quinhentos? Estou arruinado.
- Não! Custou três mil e quinhentos a mais que mil.
- Não acredito! Me empresta a calculadora.
- Não precisa: dá quatro mil e quinhentos.
- Caramba! Acho que você pensa que eu sou daquela turma da Petrobras. Pois fique sabendo: ninguém põe dinheiro na minha conta sem eu saber quem nem por quê. Aliás, só tiram. Principalmente você.
- Se acalma, homem! Há mais de 40 anos que você reclama e até hoje não foi preso, como vive dizendo que vai ser.
- Que eu vou ser preso por dívidas, não tenho dúvida. Eu quero saber é se o presídio daqui admite visita íntima.
- Visita íntima, o que é isso?
- Invenção brasileira. Preso também precisa se distrair, é ou não é?
- Eu é que não vou lá.
- Pra falar a verdade, eu não estava pensando em você.
- Rá-rá-ra! Nem solto você consegue outra...
- Desde que te conheci não sei o que é viver solto, isso sim.
- Bom, posso levar uns livros para você ficar lendo.
- Leva os livros. Cigarros também.
- Ué, você vai começar a fumar?
- Não. É para fazer política de boa-vizinhança com os colegas de cela.
- Não sei por que esse escândalo todo. Outro dia acessei sua conta e tinha mais de cinco mil. Sem falar naqueles cinquenta da poupança.
- É isso que dá confiar nas mulheres. Nunca mais te falo minha senha. Onde você vai botar isso aí?
- No quarto. Vou trocar todas as coisas velhas do quarto.
- Com certeza eu também estou nesse embrulho...
- Você fica. Por enquanto.
- Tô morto. Mortinho da silva.
- Deita aí que num instante eu te faço reviver...
Robério Canto
Escrevivendo
No estilo “caminhando contra o vento”, o professor Robério Canto vai “vivendo e Escrevivendo” causos cotidianos, com uma generosa pitada de bom humor. Membro da Academia Friburguense de Letras, imortal desde criancinha.
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