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Entorta o varal...
Amigos alvinegros... Cuidado! Ao retirarem as roupas das respectivas máquinas de lavar em suas casas, observem bem a resistência do local escolhido para pendurar o manto. Numa ponta ou na outra, pode resultar na queda do seu varal. Êta camisa pesada essa preta e branca, com a inconfundível Estrela Solitária no lado esquerdo do peito! A imensidão desse clube Gigante poderia, de fato, ser comparada ao seu símbolo maior: mesmo em meio a tantas opções, a Estrela atrai para ela todas as atenções. Torna-se tão atraente que consegue ofuscar qualquer outro corpo celeste. Esquecemos de tudo o que compõe o restante da natureza e paramos para observar apenas aquele pontinho brilhante. O resto não faz a mínima diferença. Exatamente por ser apenas “o resto”. E por não ter nada de apenas, na verdade. Aquele corpo chama a atenção sim, pelo seu gigantismo.
Certa vez Caetano Veloso escreveu: “Tantas estrelas dizendo da imensidão do universo. A força desse amor nos invadiu... Então... Veio a certeza de amar você...” Ah, Caetano... Eu olho para os céus e consigo enxergar UMA Estrela, Solitária, que brilha muito mais que as outras, mesmo quando tudo parece ser apenas escuridão. É ela que os cinco milhões de escolhidos e privilegiados amam. Seguem. Respiram. Vivem. E essa relação é tão intensa que os percalços, muitas vezes, fazem com que a sua gente esqueça da própria força.
Questionamos, perdemos o sono e olhamos desconfiados. Não era para menos. Um elenco, na teoria, mais fraco do que o ano passado para representar o Mais Tradicional em 2016? Certamente não teria como o alvinegro ficar empolgado. As primeiras atuações aumentaram a preocupação, embora os resultados teimassem em deixar aquela ponta de esperança no coração do escolhido. Algumas vitórias contra times de menor investimento vieram com sacrifício, sem convencimento ou perspectiva... E então viriam os dois clássicos consecutivos. Foi quando o meu varal quebrou!
Logicamente queria vestir o manto limpo, renovado para dois grandes desafios. Ricardo Gomes também, e por isso apostou na garotada. Ao pendurar o “terno” alvinegro mais conhecido e respeitado do planeta, o restante veio abaixo. O varal entortou. Olhei para a camisa e para todas as outras cores que ali estavam misturadas. A Estrela brilhava, única, soberana. Larguei o resto das roupas e fui para frente da televisão assistir o jogo contra o Fluminense. Quando o Botafogo entrou em campo e toda aquela massa alvinegra se levantou no Espírito Santo, eu olhei novamente para a camisa. E lembrei de toda a história que ela carrega...
Nesse momento, mesmo desacreditado por tudo o que havia visto até então, passei a duvidar menos. E a acreditar mais quando Gegê abriu o placar. Naquele momento o Botafogo era dono do jogo, e assim permaneceu depois do gol do Ribamar até o apito final. Qual a explicação para aquele time, que antes tirava o sono, ter demonstrado um nível razoável de competitividade em tão pouco tempo? Há de se exaltar, claro, o trabalho do Ricardo Gomes, a disposição tática e a vontade de cada atleta. Mas isso qualquer time bem arrumado de interior também pode possuir. O que não se compra ou se planta é a tradição, a nobreza ou a grandeza. Sinceramente eu tenho pena de quem ainda ousa tentar discutir o indiscutível.
Houve quem relacionasse a boa vitória do Glorioso à má fase do adversário. Poderia fazer até algum sentido, não fosse a clara intenção de diminuir o mérito de um time organizado, consistente, preciso e disposto. É fato que o Botafogo terá que provar para o torcedor – e para ele mesmo – a sua verdadeira capacidade em todos os jogos. Então, que viesse o novo teste em São Januário. Desta vez contra um rival que vive bom momento, e possui, talvez, o time mais encaixado e pronto do Rio de Janeiro nesse início de temporada. Nova apresentação digna, 1x1 no placar e invencibilidade mantida. O Botafogo sofreu o gol quando era melhor no jogo, por conta de uma falha individual do Diogo Barbosa – que na visão deste que vos escreve faz um início de 2016 de razoável pra bom. Acontece.
Em nenhum momento a equipe perdeu a organização, e aos poucos, passou a retomar as rédeas do confronto. As entradas de Salgueiro e Neilton deram o toque de qualidade que ainda é preciso ser agregada com novas contratações. É indiscutível que o Glorioso não possui time e elenco para suportar o Campeonato Brasileiro, por exemplo. Mas há uma luz no fim do túnel. E quem ilumina é exatamente a Estrela Solitária. Este colunista – sinceramente – acredita que Salgueiro e Lizio vão dar alegrias à torcida (passei a questionar um pouco mais o Nuñez... Mas ainda não o descarto). O primeiro, inclusive, participou bem dos dois clássicos. É perceptível que sabe jogar, e poderia ter saído como destaque caso Ribamar acertasse o chute que acabou travado pela defesa, exatamente depois do passe que foi consequência de um bom contra ataque construído pelo próprio Salgueiro. Para o nível de exigência deste início de ano, o time de Ricardo Gomes passou nos testes. Embora seja unânime, notória e indiscutível a necessidade de buscar qualidade no mercado para encorpar esse grupo de jovens – alguns bastante promissores, como o zagueiro Emerson. E não é só pelo gol.
Por tudo o que aconteceu nos últimos 20 anos é compreensível – embora não tão aceitável – que o torcedor botafoguense questione. Mesmo esperançoso, ele é por característica desconfiado. São duas décadas de decepções e espera por um título à altura de um dos 12 maiores clubes de todos os tempos do futebol mundial (FIFA). Isso tem um peso. Mas não há nada mais pesado do que a camisa que vestimos. É importante que o alvinegro jamais esqueça disso! Alguns pseudo-comentaristas insistem em tentar “rebaixar” o Botafogo, mas esses mesmos alienados não conseguem contar a história do esporte mais popular do planeta sem ao menos citar o Mais Tradicional. Eles falam, a gente renasce. E volta mais forte. E prova o contrário. E começa a pavimentar novamente, aos poucos, o caminho que terá um final feliz em preto e branco.
Saudações a todos vocês que foram escolhidos para vestir e ter orgulho dessa camisa pesada! Até a próxima semana...
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