Plural singular

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Quando estou triste sou o mais triste entre todos. Quando estou feliz sou o mais feliz entre todos. E sou o que sou, intenso como tem que ser, porque o que não é intenso não me apaixona e o que não me apaixona não me atrai.

Não tenho necessidade de meios termos. Não desejo nada que não seja por inteiro. Assim dispenso o que não é tudo ou todo! Admito minha voracidade, pois só os vorazes são realmente felizes.

Podem me taxar de exagerado! Podem dizer que sou dramático! Sou menino quando tenho que decidir, sou adulto quando tenho que brincar, porque um homem sábio não perde nem a sua meninice, nem seu estado permanente de adulto.

Sou canção, sou fogo. Sou furacão, sou dança. Sou arrepio, sou temperança. Sou lucidez, sou ameaça. Desafios me interessam, conquistas me instigam, mas vitórias fáceis me empobrecem. Sou misto sugestivo de buscas incansáveis com finalidades que precisam de um fim. Não posso flertar insistentemente com as reticências. Pontos finais me são bem vindos se não há mais nada que me faça permanecer. Se a história foi boa - aplaudo. Se a história foi ruim - vaio. E reconheço que até boas histórias precisam de um desfecho. Todas as histórias precisam de um desfecho, mais cedo ou mais tarde. Histórias sempre anseiam por novos personagens. O público é assim como eu, como qualquer um: precisa de constantes novidades. O tempo é um sujeito hiperativo e nem sempre brincalhão. Brincadeiras sérias, aliás, são as que mais surpreendem, ainda que sejam as que mais assustem! É preciso estar preparado! É preciso estar ciente da possibilidade de imprevistos.

As articulações se desgastam de maneira invisível, mas as pernas acusam o cansaço. Nem sempre dá para correr. Esmorecer nem sempre é uma escolha, pode ser uma prece! A pele também envelhece.

Sou desconexo! Sou ilusão passageira. Sou fugacidade incoerente. Sonhos me escapam. Não consigo cuidar de uma rosa nem por uma quinzena... Quem pode? Debaixo dos braços, as fantasias, por vezes, me pesam. Vem andar comigo! Peço encarecidamente! Peco por cultivar a raiva em não atender ao meu pedido, para depois agradecer por não ter vindo. Obrigado. Sou protegido por sei lá quem! O que sei é que sou protegido. Só vem comigo quem eu realmente mereço e quem realmente me merece. Somos todos tão iguais! Somos todo tão somas de sombras que fazem imagens que escapolem do pincel do pintor. Não! Não é possível nos copiar, reinventar ou clonar! Somos únicos! Somos sós! Sou o único herdeiro de minhas aventuras tanto quanto sou o único culpado por minhas desventuras... Todos nós somos!

Eu me escolho! Eu também quero ser escolhido para se molhar na chuva, para se banhar de sol. Eu escolho você, você e você e também posso escolher a legião sem grande intimidade comigo. Nem todos precisam me conhecer. Nem eu mesmo me conheço plenamente. Mas se você não quiser vir, não espere meu perdão! Não há por que eu te perdoar, simplesmente porque não aceitar meus convites não é nenhum erro. Você pode ter perdido algo grandioso, mas também pode não ter perdido nada que fosse fazer diferença para você. Isso não faz ninguém melhor ou pior, apenas mais íntimo, menos íntimo ou mero quilos de células que nada dizem, tipo artigos mais ou menos luxuosos que ficam na prateleira de livros que nem sei que existem. Mas considere como considero as possibilidades do que poderia ter sido. Mas, assim como eu, não se aflija, apenas siga em frente que as respostas vêm no primeiro tropeço ou no penúltimo salto.

Estou aqui e, às vezes, quero sinceramente estar lá! Mas quando estou comigo, sei que posso contar com uma penca de sonhos e uma porção de esperanças que me fazem crer que até posso voar... E voando ver o mundo lá de cima, apreciar o rosto da menina e perceber o que não percebo quando estou perto do que realmente me satisfaz. A vida me satisfaz! Os caminhos que se desenham na ponta do lápis que escrevo o meu destino me dão certa paz, ainda que paz ansiosa. Sou tantas coisas, quando na verdade quero apenas ser eu por definição, mais do que por ocasião. Do tipo feliz por ser feliz, mais do que ser feliz por algo, situação ou alguém.

Eu tenho sono, sonho, insônia, adereços. Pretextos, irrelevâncias relevantes e muitas irrelevantes mesmo. Tenho ânsia por descobertas, como desinteresses interessantes. Sou caso para estudo, estapafúrdio espantoso, sem medo, com receio. Sou singular cheio de plurais. Quando estou feliz estou ao extremo e quando estou triste também.

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Wanderson Nogueira

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

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