Não se discute o indiscutível

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Amigos alvinegros... Passado o reinado de Momo, dizem que o ano começa de verdade no Brasil. Esperamos que o mesmo aconteça com o Botafogo. São quatro jogos, quatro vitórias e convencimento zero. Apresentações bem abaixo da linha do aceitável para um gigante do futebol mundial. Para uma camisa que é reconhecida e respeitada em qualquer canto do planeta, embora absurdamente questionada vez ou outra em nosso país, pelos mesmos ingratos que enchem a boca para exaltar o pentacampeonato brasileiro. Esquecem eles que o Glorioso é responsável direto por, pelo menos, três dessas cinco Copas. Confesso que nem perco tempo de começar a ler um texto que tenta denegrir ou mesmo defender o Botafogo, simplesmente porque não se discute o indiscutível. Mas convenhamos: somos um pouco responsáveis por esse tipo de discussão, que sequer deveria ser cogitada.

Por enquanto, não vou entrar no mérito do histórico dos últimos 20 anos. Basta analisar o início desta temporada, e observar que Gegê tem sido o jogador mais lúcido do meio-campo alvinegro. Esse fato é, sem dúvidas, um motivo de grande preocupação. Praticamente não utilizado em 2015 e componente certo da lista de dispensas para este ano, o jogador, de uma hora para outra, assumiu o lendário número sete. Essa camisa não deveria ser utilizada por nenhum outro atleta que não fosse a referência do elenco alvinegro. Hoje ela é de Gegê. Injusto? Pelo rendimento de seus companheiros nessas primeiras rodadas... Não!

Pelos próximos dez anos, acredito – e lamento por isso -, não haverá meios de analisar a montagem de qualquer time do Botafogo sem lembrar as dificuldades econômicas. O cenário é sombrio, e neste momento do texto sim, é preciso citar as nossas últimas duas décadas. Investimentos foram feitos de forma equivocada, sem que tivéssemos a oportunidade de levantar algum título de nível nacional. Nos contentamos com os estaduais, que têm a sua importância, claro, mas não sustentam e satisfazem uma história tão rica quanto à do Botafogo.

A galeria de troféus, que conta com três mundiais (volto a bater nessa tecla: precisamos reconhecê-los o quanto antes, para mudarmos o nosso patamar perante aos olhares dos comuns) aumentou pouco na comparação com as nossas dívidas. Times caros foram montados, com poucos resultados interessantes. Conseguimos o nosso estádio, mas sofremos com as interdições absurdas (repletas de terceiros interesses) e momentos em que precisamos entregá-lo para eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas deste ano. Essa última motivação já era prevista, mas não houve planejamento para amenizar os efeitos negativos.

O Botafogo, em dado momento, especialmente a partir da metade dos anos 2000, começava a se reerguer a partir da construção de uma base forte. Mas quando o “prédio alvinegro” parecia perto de ser concluído, os alicerces se revelaram fracos demais, resultando em nova queda de divisão no futebol nacional. O Glorioso não voltou à estaca zero, e sim, caiu um nível abaixo. Não é um trabalho simples e rápido, mas ele pode ser melhor conduzido, planejado e executado. Este que vos escreve acredita, de verdade, nas boas intenções da nova diretoria. Carlos Eduardo Pereira parece realmente ser um homem correto, honrado e com os pés no chão. Mas peca em alguns aspectos, como em não profissionalizar áreas essenciais para o desenvolvimento do clube, à exemplo do marketing.

Essa não é uma crítica direta ao trabalho do Padilha, mas é preciso um especialista à frente do projeto (se é que existe algum). Nos mais diversos cursos sobre o tema, uma frase bastante repetida diz que “o marketing é tudo, e tudo é marketing”. No momento em que não temos a mídia ao nosso lado – pelo contrário -, essa sentença faz todo o sentido para o Botafogo. Fechamos um contrato de 40 milhões de reais por três anos com a Topper. Boa parte da imprensa desdenhou dessa informação, que foi dada de maneira oficial pelo clube. E, pasmem, há torcedores alvinegros duvidando desses valores. Não se pode perder a credibilidade junto à sua própria gente. Esse tipo de “desgaste” precisa ser evitado, e um bom trabalho de marketing ajuda a viabilizar informações como esta, que deveria ser comemorada e exaltada, e não questionada.

Quanto ao time montado para 2016, apesar das dificuldades escancaradas nos 360 minutos jogados até aqui, ainda é o momento do voto de confiança. Ricardo Gomes recebeu um elenco completamente remodelado, limitado, mas que pode render mais. Discute-se o quanto e até onde, é verdade. No entanto, é visível que Yaca e Lízio ainda não estão adaptados, e sentem o calor do Rio de Janeiro (essa é uma análise otimista sim, amigos!). Salgueiro é um bom reforço, e o retorno de Neilton pode representar uma injeção de qualidade ao sistema ofensivo. Airton começa bem a temporada, e as primeiras impressões são boas quanto ao Bruno Silva. Diogo Barbosa cresce de produção, e apesar das críticas, Luis Ricardo não é uma opção ruim, até pela falta de opções no futebol brasileiro – e mundial, eu diria – para a lateral direita. Alguns garotos têm potencial, mas é preciso tempo para o desenvolvimento pleno. O problema é que o Botafogo tem pressa, e por isso são necessárias novas contratações.

Relendo este mesmo texto, a sensação é de que o clube Mais Tradicional do país ainda está bem distante de alcançar os seus reais objetivos. Contudo, precisamos acreditar, apoiar e participar, aderindo ao sócio torcedor, comparecendo aos jogos e adquirindo produtos oficiais. É urgente a necessidade de levantar uma Copa do Brasil ou um Campeonato Brasileiro. Não para reafirmar o nosso amor pelo clube, uma vez que este é infinito e incondicional. Somos o Glorioso desde 1904, gigantes pela própria natureza, e não precisamos ser “inventados” na década de 80. A história jamais poderá ser reescrita ou modificada. Mas os títulos são importantes para, além de fortalecer o lado comercial, marketing, mídia e tantos outros aspectos que são consequências de grandes conquistas, não dar margem para que o indiscutível entre novamente em discussão.

Saudações alvinegras a todos! E até a próxima...

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