Professores e carnaval, que bela combinação!

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016
Foto de capa

Comecei a escrever esta coluna no domingo de carnaval e vou terminá-la hoje, terça-feira. Passei pelos dias de escolas de samba e blocos de rua, refletindo sobre os momentos em que o povo, mergulhado em histórias, se entrega à alegria.

Vendo de longe o carnaval, lembrei do que vivi nos dias em que caí na folia. Também pensei nos professores e nas salas de aula, no tempo em que convivi com os alunos e com tudo o que acontecia entre os corredores e pátios do colégio, onde havia movimento e vida. A energia que corre dentro dos seus muros é a mesma que existe dentro dos cordões que delimitam a passagem dos foliões.

O carnaval é inspirado na literatura, tal qual é a educação com a vida, em seu melhor. Ambos são renovados todos os anos.

Como meu pensamento gosta de passear, imaginei os professores trazendo para a sala de aula os elementos do carnaval para ensinar história, literatura ou língua portuguesa; para estimular a criatividade literária, musical ou artística.

Os elementos do carnaval têm riqueza cultural; as fantasias, as músicas, as máscaras e os cenários contam a história das civilizações desde os mais remotos tempos e relembram as características de época. O carnaval corre no sangue do brasileiro como barcos à vela, apesar de não ter surgido em terras verdes e amarelas. Nasceu em solo vermelho, branco e verde, na Itália, em Roma, no ano de 604, quando o papa Gregório I determinou que as pessoas deveriam ficar reclusas em suas casas por quarenta dias, em estado contemplativo, voltadas para si mesmas; um período que foi chamado de Quaresma. Muitos anos depois, no século XI, nos dias que antecediam a este período, o povo começou a sair nas ruas para dançar, comer, beber e se divertir. E, assim foi que o carnevale (adeus à carne, em italiano) surgiu.

Tive o prazer de conhecer a figurinista Marie Louise Nery que fez a indumentária de uma peça que adaptei para o teatro. Naquela ocasião, ela me disse que através do figurino era possível conhecer a história dos povos. O que me reforça a ideia de que o nosso olhar para a expressão carnavalesca pode observar este aspecto e não somente se deter no samba.

Das fantasias, as tradicionais são Pierrô, Colombina e Arlequim, personagens que fazem um triângulo amoroso; Pierrô ama Colombina, que ama Arlequim que ama Colombina. São personagens criados no século XVI, também na Itália, durante o renascimento, no movimento “commedia dell’arte”, cujas peças eram encenadas para as classes populares nas ruas e praças. Mais tarde foram apresentadas na França e Espanha. A peça ainda é atual! Foi fonte de inspiração da série Tapas e Beijos, exibida pela Globo.

Ainda temos os personagens das histórias infantis de Monteiro Lobato, como a Emília, o Visconde, Pedrinho e outros do Sítio do Picapau Amarelo que foram motivos de fantasias, enredos de escola de samba, como “O Mundo Encantado de Monteiro Lobato”, apresentado pela Estação Primeira de Mangueira, em 1967. Monteiro Lobato foi um dos maiores escritores de literatura infantil do Brasil e sua obra mostra o momento histórico que o país vivia quando escreveu sua vasta obra, como “O Petróleo é Nosso”.

As escolas de samba também homenagearam um dos maiores escritores de literatura infantil, Lewis Carroll, autor de “Alice no País das Maravilhas”, que esteve presente em duas escolas de samba de São Paulo no ano passado.

Um bom modo de conhecer Nova Friburgo é ler sobre os enredos das suas quatro escolas de samba, cujas letras das músicas, fantasias e cenários dos carros alegóricos contam a história da cidade, bem como enaltecem a beleza e a riqueza da sua natureza. Este ano a Unidos da Saudade homenageou a gastronomia com o enredo “Samba, Sabor e Paixão”. E, aqui, não é uma região onde se valoriza o hábito de se comer bem?

O carnaval tem inteligência emocional e criativa. Envolve o trabalho de inúmeros profissionais que podem ser abordados na fase em que os alunos pensam nas profissões que gostariam de escolher.  Envolve sonhos e os modos como vão ser realizados, desde os idealizadores dos enredos, até os foliões que desejam desfilar nas escolas de samba. Sem falar dos esforços e dificuldades que todos passam para colocar a escola na avenida e concorrer ao primeiro lugar.

Vou terminar, então, a nossa coluna com “As Pastorinhas”, linda marchinha de carnaval que gosto de cantar, de autoria de um mestre da música brasileira, um letrista que tive a honra de conhecer, o Braguinha (sogro de um grande amigo do meu pai), em parceria com outro mestre, Noel Rosa.

A Estrela-d’alva
No céu desponta
E a lua anda tonta
Com tamanho esplendor
E as pastorinhas
Pra consolo da Lua
Vão cantando na rua
Lindos versos de amor
Linda Pastora,
Morena,
Da cor de Madalena,
Tu não tens pena
De mim
Que vivo tonto com o teu olhar?
Linda criança,
Tu não me sais da lembrança...
Meu coração não se cansa
De sempre, sempre te amar!

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