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Cidades necessitam de maior cuidado dos prefeitos
Passei o fim de semana na vizinha Teresópolis e fiquei decepcionado com o que vi; uma cidade suja, esburacada, um trânsito pesado, com a saúde pública sucateada e a privada seguindo o mesmo caminho. Mas o pior é a sensação de que a população desistiu, que não acredita em mais nada. Aliás esse é o mesmo quadro visto em Nova Friburgo e nas demais cidades do combalido estado do Rio de Janeiro. No entanto, creio que o problema seja nacional, retrato fiel de uma política velha, bolorenta e ultrapassada.
Na cidade do Dedo de Deus, Mário Tricano entrou, saiu e entrou de novo como prefeito eleito. Um político que teve direitos eleitorais suspensos, de acordo com a decisão de 13 de dezembro de 2012, “quando o pleno do Tribunal Superior Eleitoral manteve, por cinco votos favoráveis e um contrário, a decisão de todas as demais instâncias que o imputavam as sanções da Lei da Ficha Limpa”.
“Condenado, quadruplamente, pelos crimes de abuso de poder econômico e de meios de comunicação, Tricano agora só poderá voltar as disputas eleitorais, no âmbito municipal, em 2020”. “Como divulgado pela Justiça Eleitoral de nosso estado todos os seus votos foram anulados e na próxima semana receberá o diploma de prefeito de Teresópolis o atual ocupante do cargo interinamente, Arlei Rosa, do PMDB”.
No entanto, em 12 de janeiro de 2016, o STF, pelas mãos de seu presidente Ricardo Lewandoswski, concedeu uma liminar para que Tricano assuma a prefeitura com o cândido argumento de que: “Existe um grande risco de que, se o recurso [do candidato] vier a ser admitido, não haja mais tempo hábil para que o prefeito assuma o mandato, ou o faça por pouco tempo, o que causaria prejuízo irreparável a toda a coletividade do município”.
Essa tal de presunção da inocência, mesmo com todas as evidências mostrando o contrário, é, ao meu ver, uma das causas da justiça brasileira não ter o respeito que lhe seria devido. Por outro lado, um furto menor, por um cidadão comum o levaria inexoravelmente para o xilindró, sem direito a recurso.
Nova Friburgo já viveu um episódio semelhante com o prefeito eleito Nelci da Silva sendo empossado, em janeiro de 1993, no meio a uma guerra jurídica desencadeada por Heródoto Bento de Mello ao não se conformar com a derrota nas urnas, na eleição de 1992. Nesse caso a visão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) foi diferente e Nelci cassado em 1994. Assumiram Heródoto , segundo colocado, e seu vice Gilberto Salarini. O povo e a cidade mais uma vez eram apenas um detalhe, já que a diferença de votos entre Nelci e Heródoto foi de dez mil sufrágios, quando o colégio eleitoral era de 90 mil eleitores.
As eleições são decididas não pela capacidade ou desempenho profissional do candidato, pois o que importa é o seu poder financeiro. Mais grana, mais votos. É um absurdo o que se gasta numa eleição, principalmente quando sabemos que o salário de um presidente, governador etc, nos quatro anos de mandato, não seriam suficientes para saldar o montante financeiro gasto. Mas, esse dinheiro vem de algum lugar e é aí que tem início essa corrupção descarada que assolou a política brasileira desde a queda da ditadura de 1964.
A presidente Dilma Roussef recebe R$ 26,7 mil por mês; no entanto gastou R$ 56,2 milhões no pleito de 2014. Ou seja, teria de trabalhar 175 anos, sem gastar um único tostão, para pagar essa soma. A meu ver essa é uma das explicações, para a podridão em que se transformou a política brasileira.
Com a falta de cultura política da maioria dos nossos eleitores, não importa a capacidade do candidato, mas sim o quanto ele tem para investir nos votos. É urgente uma reforma política no Brasil, mas mais urgente ainda, uma mudança no modo de pensar dos eleitores.

Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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