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Esperar o quê?
Vaias, gritos de “queremos jogador” e um Jéfferson consciente. Estávamos nós, há poucas semanas, recordando o título brasileiro de 1995 e saudando os 20 anos de mais uma dentre tantas conquistas históricas. Tudo para tentar diminuir o aperto no peito e o vazio deixado pelo período sem jogos oficiais. O botafoguense estava com saudades de ver em campo o uniforme mais tradicional do país, com a famosa e inconfundível Estrela Solitária no lado esquerdo do peito. Ele, o alvinegro, assim como eu, adiou compromissos, largou tudo o que poderia fazer em um sábado à noite para reencontrar o seu grande amor. Para os escolhidos, não é sacrifício algum. Afinal, és o Glorioso o imenso prazer desses cinco milhões de apaixonados. E é assim, Botafogo, que você retribui a essa gente que tanto te ama, apóia e te banca nos bons e maus momentos? E agora? Esperar o que?
Vaias, gritos de “queremos jogador” e um Jéfferson consciente. Repito o início deste texto porque, nessa pequena frase, podemos ter uma ideia da primeira impressão do Botafogo 2016. Na análise fria da montagem do elenco, as perspectivas já não eram boas. De terceiros reservas, Airton, Gegê, Octávio, Jean e outros passaram a ser solução para os problemas. Gostaria de entender o quanto evoluíram em tão pouco tempo a ponto de o clube apostar neles e abrir mão de Diego Jardel, Elvis e tantos outros, que eram limitados, mas de qualidade superior.
No primeiro momento, a paixão falou mais alto que a razão, e acreditamos na chegada dos reforços estrangeiros. Fingimos até mesmo “não saber” que apostar no Neilton é um risco, e festejamos o “fico” do atacante. Jogador irregular durante a carreira, que fez uma série B razoável, mas ainda precisa provar muita coisa. Principalmente para vestir a sete de Garrincha, Túlio e tantos outros. Perdemos o Navarro por questões financeiras, e agora queremos pagar mais dinheiro por atacantes tão desconhecidos quanto era o uruguaio. Em toda essa análise, não levo em conta o nosso departamento jurídico, que é o “Íbis” dentre todos os clubes brasileiros! Qualquer jogador ganha do Botafogo na justiça. Por que, se todos devem? Qual a lógica disso tudo?
Amigos alvinegros... Como costumo escrever, o Botafogo é a certeza de que, apesar de todas as incertezas, não há nada errado. Parece não ser esse o nosso caso em 2016. O alvinegro deposita as esperanças nas contratações feitas no mercado sul-americano. Assisti ao Lizio em duas oportunidades: no treino, durante a apresentação do elenco para a torcida, e nesse teste contra a Desportiva. Parece não ser ruim, mas tenho minhas dúvidas se poderá ser ele o nosso camisa dez, o ponto de desequilíbrio. Nuñez e Carli foram poupados no último sábado, mas não podem ser piores do que aqueles que começaram o jogo no Espírito Santo. O zagueiro argentino, de boa estatura, naturalmente precisa jogar numa defesa que não ganha absolutamente nada pelo alto. E Nuñez, tão bem falado por quem acompanha os treinamentos, fecha os olhos e escolhe a posição no meio-campo.
Desconfiança, esperança e medo convivem em "perfeita harmonia” com o botafoguense neste início de temporada. Perder um amistoso para a Desportiva já é um absurdo. E apresentando aquele nível de futebol é preocupante. O Botafogo esteve perdido em campo, desarrumado na defesa e pouco criativo no ataque. Faço aqui algumas ressalvas: o lado direito, com Luis Ricardo e Diego, até que pode funcionar; o Bruno Silva parece realmente ser um bom jogador e o Diogo, pelo pouco que mostrou, tem tudo para render mais que o Carleto. Pequenos pontos positivos em meio à uma imensidão de incertezas. Neilton, Airton e Nuñez, hoje, são titulares desse time. Carli talvez. Os quatro não participaram do amistoso, mas não serão suficientes para transformar o horroroso em médio, pelo menos. Jéfferson foi consciente, sincero e direto: precisamos de reforços.
Uma coisa é ter o goleiro como referência quando o time funciona e o seu camisa um te garante nos momentos em que é preciso. Outra é tê-lo como esperança para que a sua equipe possa tentar chegar a algum lugar. O caso do alvinegro é o segundo. Não podemos, por exemplo, exigir que o Luis Henrique assuma a responsabilidade de vestir a camisa nove do Botafogo. É covardia com o garoto de apenas 17 anos. Queimar etapas vai prejudicar o futuro dele e do clube, que ao não protegê-lo como deve, pode deixar de consumar uma venda interessante em breve. Considerando que Lizio e Nuñez se firmem – o que é absolutamente impossível de afirmar no momento -, precisamos, no mínimo, de mais um bom meia. Com todo o respeito a Gegê e Octávio, e considerando que o Leandrinho ainda precisa de tempo e rodagem para evoluir... É muito pouco para um Giagante como o Botafogo!
O discurso das dificuldades financeiras e estruturais é absolutamente compreensível. O clube precisa se reorganizar internamente e não pode fazer loucuras em termos de contratações. Mas dá para apresentar algo muito melhor do que foi visto no sábado. Às vezes parece que o próprio Botafogo decreta o seu “apequenamento”, esquecendo que faz parte do grupo de 12 maiores clubes de todos os tempos, eleito pela FIFA. Esse título não pode ser apenas uma pintura na parede de General Severiano. Ele precisa fazer parte do dia a dia, das decisões e ser a inspiração para voltarmos a brigar pelas grandes conquistas – algo que infelizmente parece muito distante.
Se nós, clube, não reconhecermos o nosso protagonismo para deixarmos de ser apenas coadjuvante, quem reconhecerá por nós? A mídia, que só privilegia praticamente dois clubes no país? Sinceramente, não conheço nenhuma história de sucesso – em qualquer que seja o setor – que não tenha uma boa dose de ousadia. A dose de amor o Botafogo já tem, através do sentimento incondicional e imensurável de sua gente. Vamos torcer, rezar, vibrar, cobrar, vaiar, aplaudir. Vamos viver o Botafogo, para sempre, para além das nossas vidas. Mas merecemos mais. Muito mais! E podemos... Passou da hora de tirar as correntes desse gigante adormecido.
Saudações alvinegras! O ano começou... E não importa o que aconteça, ninguém vai calar o nosso amor.
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