Era apenas um treino...

domingo, 10 de janeiro de 2016

Sábado, 9 de janeiro de 2016. Mais um dia, a princípio, comum no casarão histórico de General Severiano. Comum? Não, não era. Nunca será. Cada vez em que passamos pela capela na entrada da sede e nos banhamos com a água benta nada mais é normal. A religião Botafogo toma conta da alma alvinegra, e transforma qualquer simplicidade em magia. Não há como passar pelos corredores de General, observar tantos craques e glórias e permanecer indiferente. O dia ganha outra concepção, e tudo passa a fazer sentido desde quando passamos pelo Manequinho, ou simplesmente direcionamos os olhares para o muro dos ídolos. Ali, naquele metro quadrado, respira-se nobreza, grandeza e história. Não somos comuns, e sim, escolhidos tradicionais – os Mais Tradicionais do Brasil.

O sábado prometia. Começou cedo, com a pelada dos sócios. Desta vez, com a presença especial de Jamir, volante campeão brasileiro de 1995 pelo Botafogo. Pessoa simples, simpática e grata. Aquele grupo que muitas vezes vibrou com os desarmes e aplaudiu a disposição de Jamir em campo pôde trocar passes, marcar ou ser marcado por ele durante a brincadeira. No final dos jogos, uma merecida homenagem, a foto para eternizar o momento e a emoção transparente em cada “obrigado” dito por Jamir.

Depois do futebol, a piscina. De um lado, o Cristo Redentor, e do outro o pão de açúcar. Entre eles, o Botafogo. Pronto! Qualquer turista que queira conhecer o Rio de Janeiro e a parte mais bela de sua história poderia começar assim o seu roteiro. O botafoguense tem a oportunidade única de viver isso em sua rotina. Exatamente por ser único. Exatamente por não fazer parte de qualquer rotina.  Como escrevi em coluna recente, a formação da identidade de uma pessoa passa, também, pela escolha de um time de futebol. Escolhemos ser nobres! O botafoguense, de fato, é diferente. Não se trata de uma paixão, mas de uma senha para a cidadania. Torcer pelo Botafogo ensina muitas coisas a respeito da nossa própria vida.

E a lição que se anuncia para 2016 é a da crença, do acreditar sempre. O Botafogo é a certeza de que, apesar de todas as incertezas, não há nada errado. Aqueles cinco milhões sabem o que é isso. Representados por cerca de mil sócios, eles tomaram as arquibancadas de General Severiano no sábado à tarde. Bandeiras, faixas, festa, fogos e apoio incondicional. Não era jogo, e sim, apenas um treino com direito a apresentação do elenco para os torcedores. Só que para o botafoguense, repito, não existe “apenas”. Existe o Botafogo. E ali estava ele, o Glorioso, representado por aqueles jogadores, apresentados um por um no campo histórico. São eles que temos... São eles que apoiaremos!

Tentarei ser racional na análise do elenco para 2016. Temos um goleiro de Seleção Brasileira, Jéfferson – simplesmente o melhor do Brasil, e um reserva minimamente à altura, Helton Leite. As laterais ainda preocupam, mas aposto na afirmação de Diego e penso ser positiva a renovação de contrato de Luis Ricardo, até mesmo pela falta de opções no mercado. Na esquerda, Jean precisa ser melhor trabalhado. A princípio, resta torcer pelo sucesso de Diogo Barbosa – e por que não? A defesa parece ser o setor melhor servido. Renan Fonseca terá as companhias de Carli e Emerson, com os reforços dos garotos Emerson e Igor Rabello. Na cabeça de área ainda espera-se pela chegada de Pedro Larrea. Possivelmente, para assumir a condição de segundo volante titular. Bruno Silva, recém-contratado vai brigar por posição, mas apostaria que Airton vai se firmar com a cinco do Glorioso. Apesar de contestado, possui bom poder de marcação e aparentemente está mais magro. Treinou bem no sábado! Lindoso e Fernandes correm por fora.

As maiores preocupações e incertezas começam do meio para frente. Não dá para contar com Octávio e Gegê, e o jovem Leandrinho deve ser a principal aposta. Os titulares devem ser Damián Lizio e Gervasio Nuñez. O primeiro mostrou alguma qualidade no treino aberto à torcida, enquanto o “Jacaré” ficou apenas na academia. Que esses dois gringos possam render além das expectativas, pois vamos precisar. No ataque, Neilton ainda pode ser considerado uma aposta. Teve bons momentos na série B, mas esse ano o papo é primeira divisão - e vestindo a camisa Mais Tradicional do país. Aguardemos. O jovem Luis Henrique é uma jóia a ser lapidada. Transferir toda a responsabilidade para o garoto, neste momento, pode atrapalhar esse processo. E não será Sassá a solução dos problemas no segundo semestre. Resumindo: precisamos contratar.

Pode parecer besteira, mas o que mais preocupa no atual Botafogo pode ser explicado de maneira simples. Imaginem vocês, alvinegros, em um encontro casual com amigos que, por desvio de caráter ou capacidade de raciocínio limitada, não escolheram seguir a Estrela Solitária. O primeiro diz que o Nenê pode resolver um jogo; o segundo lembra da qualidade do Sheik e do Guerrero, enquanto o terceiro deposita as esperanças em Diego Souza e Fred. E nós? Em quem poderemos apostar? Quem vai resolver um jogo decisivo a nosso favor? Vou além, com uma pergunta ainda mais simples... O Botafogo está jogando, e surge uma falta na entrada da área. Quem bate? Pode ser que algum desses gringos tenha qualidade para tal. Pode ser. Essa incerteza é que assusta o botafoguense.

Assusta sim, é verdade, mas não diminui a fé. Tampouco a paixão. Nas arquibancadas, no último sábado, eles deram o recado. Pediram para que cada um daqueles jogadores honre aquela camisa. Demonstraram o habitual apoio incondicional, fizeram uma linda festa e entoaram os mais belos cantos que uma torcida de futebol poderia ter. Exaltaram o amor pelo Glorioso, e mostraram que o time jamais estará sozinho. E olha que era apenas um treino... Jéfferson entendeu, e completou: “Não importa onde vamos jogar, nós sabemos que estarão com a gente.” Sempre, meu caro capitão! Somos herdeiros de uma paixão infinita, e apoiaremos até o final das nossas vidas. Ou ainda além! Afinal de contas, a história, a Estrela e o amor por este clube tornam o botafoguense eterno desde a data do seu nascimento...

Saudações alvinegras! Vamos apoiar e acreditar sempre! Até a próxima semana...

TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.