Os Beatles, uma viagem a minha adolescência

terça-feira, 05 de janeiro de 2016
Foto de capa

Ao saber que as músicas dos Beatles foram executadas 50 milhões de vezes nas primeiras 48 horas em que estiveram disponíveis nos serviços de streaming na internet, senti uma vontade enorme de escrever esta coluna sobre este conjunto inglês que está tão vivo quanto antes.

Mas não vou fugir do tema da coluna, uma vez que revivê-los não deixa de ser uma abordagem literária pelas letras das músicas e por toda produção literária que suscitaram, como biografias, textos dramatúrgicos dos filmes que encenaram e histórias em quadrinhos. Quantos romances não inspiraram? Além disso, posso também indicar os diários, as cartas, as poesias que nós mesmos, os jovens da década de 60, escrevemos. Qual o escritor que não começou a escrever escutando músicas e rabiscando em pedaços de papel frases em prosas e versos? Eu, pelo menos, sou um deles.

Reviver os Beatles é um modo de recordar minha adolescência. Como todos sabem, a beatlemania caracterizou o estilo musical da juventude dos anos 60. Eles fizeram parte da minha história e de toda a geração daquela época. Suas alegres composições roqueiras, carregadas de simplicidade e afeto embalaram nossos dias, sonhos e paixões.

Eu morava na Avenida Nossa Senhora de Copacabana; em frente ao meu prédio, havia uma loja de discos e, todos os dias, a partir das 9 horas, escutava os ecos das músicas, com os ouvidos atentos aos novos sucessos.  

Era um sábado de manhã quando escutei pela primeira vez “A Taste of Honey". Eu tinha uma melhor amiga, a Maude. Imediatamente liguei para ela e fomos para a loja e escutamos não sei quantas vezes a música nos fones. Mas não compramos porque não tínhamos dinheiro. Tivemos que esperar a semana seguinte para juntar nossas mesadas, pois o disco era caro para nós.

E, assim, com os Beatles, começamos a fazer um patrimônio em comum: os discos. A maioria dos discos eram compactos de vinil e nós os guardávamos em álbuns; o nosso primeiro tinha capa rosa.

Tínhamos muito orgulho do nosso patrimônio que crescia mês a mês. Todas as semanas comprávamos um disco. E não emprestávamos a ninguém para que não fossem arranhados ou perdidos. Os álbuns ora ficavam comigo, ora ficavam com ela. Costumávamos fazer reuniões com nossos amigos para escutar as músicas e, aí, compartilhávamos os discos. Também curtíamos os momentos em que ensaiávamos passos de dança na frente do espelho, traduzíamos as letras ou líamos a respeito da vida dos Beatles e de cada um: John Lennon, Paul McCartney, George Harrison, Ringo Starr.

Os Beatles foram tão fantásticos que nossas vidas quase que giravam em torno deles. Posso dizer com toda a segurança, minha identidade pessoal foi pincelada por eles e por suas músicas.

Quando os Beatles se desfizeram, passei a ler suas biografias e pude constatar que o talento musical e o querer realizá-lo fizeram deles um conjunto que provocou transformações na cultura mundial que até hoje faz sucesso incomparável.

Os Beatles são inspiradores. Sua trajetória musical expressou a genialidade dos quatro e, certamente, por isso, transcorreu naturalmente, sem artifícios. Isso me faz acreditar na espontaneidade humana e nela investir. Como faço agora, escrevendo a respeito.

A música é arte, tanto quanto a literatura o é. O friburguense é um povo que traz a arte no sangue, como o inglês. Aqui é terra de trovadores e poetas. Lá, é da música, do teatro, do cinema e da literatura. A Inglaterra sabe gerar artistas. Nova Friburgo também, como Benito de Paula (cantor), Clóvis Bornai (carnavalesco), Reginaldo Farias (ator), Lygia Pape (escultora e pintora).

Ah, a arte engrandece, resgata e faz florescer o que existe de bom em nós!

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