Nós sempre abraçaremos!

segunda-feira, 07 de dezembro de 2015

Depois do título brasileiro de 1995, não havia dúvidas de que o Botafogo havia escolhido pelo menos mais um torcedor. Toda aquela loucura durante a comemoração da conquista, o aeroporto com mais de 20 mil pessoas e grandes ídolos, como Túlio Maravilha e Wagner fizeram a Estrela brilhar mais forte dentro do coração daquela criança de apenas cinco anos de idade. Nem foi preciso a influência do pai, um botafoguense fanático! Com o tempo, conhecendo a Gloriosa história e a sua importância para o futebol mundial, veio a confirmação de que fazer parte da constelação de cinco milhões de apaixonados foi um grande presente divino.

Mas confesso a vocês que aquela criança também sofreu outra importante influência. Localizada no Centro de Nova Friburgo, em uma das principais avenidas da cidade, a Serra Fogo era mais do que apenas um espaço decorado com pôsteres, faixas, camisas e os mais diversos adereços do Botafogo. Os frequentadores formavam uma verdadeira família, e as reuniões para assistir aos jogos se transformavam em uma tremenda festa. E quantas vezes sorriram, choraram, se abraçaram e correram em direção da pequena janela, localizada ao lado da televisão, para gritar “Fogo!”, seja por conta de uma conquista ou simples comemoração de um gol. Em tantas outras vezes faltou coragem para descer as escadas depois de um resultado negativo. Ali, em meio à tantos botafoguenses e amigos, eles pareciam inatingíveis para qualquer tipo de zoação. Mas era preciso continuar a vida. Descer, pegar o carro, triste ou feliz, já na expectativa de retornar ao mesmo local na próxima partida. Alguns, inclusive, abrindo mão do conforto da própria casa para estar ali. Chegavam mais cedo, organizavam um churrasco. Conversavam, debatiam, projetavam, escalavam, reclamavam, recordavam. Aguardavam ansiosamente pela hora do jogo. Sonhavam. Uma rotina doce, por vezes um pouco amarga, mas sempre prazerosa.

Ali, aquela criança percebeu e sentiu o que era o Alvinegro de General Severiano. Assistir àquele Botafogo x Atlético-PR de joelhos, em 2004, e chorar com o gol de Schwenck, que evitou o novo rebaixamento alvinegro no Campeonato Brasileiro. Ou então sair cabisbaixo depois daquele Botafogo x River Plate, na Argentina, pela Sul-Americana, sem entender o que havia acontecido. Momentos proporcionados pelo Glorioso e eternizados naquele espaço. As lágrimas daquela criança, ao lado do pai, fortaleciam um sentimento entre eles. O filho, o pai, o Botafogo. Os amigos que também foram embora pensativos, cabisbaixos, intrigados. Jamais, porém, sem perder a esperança! Como pode? Claro que pode! Tudo pode! O Botafogo não se entende, se vive.

Foram muitos os encontros fora daquele espaço, idas a hotéis onde o Botafogo estava hospedado em Nova Friburgo. O meia Valdo, por exemplo, ganhou uma festa de aniversário. E as excursões para o Maracanã, Caio Martins, Nilton Santos... As risadas, os momentos, os laços que jamais foram desfeitos. O espaço não mais existe, e alguns dos frequentadores já deixaram este plano. No entanto, o sentimento Botafogo ainda une todos aqueles que um dia ocuparam aquela pequena sala para assistir ao Mais Tradicional em campo.

O referido sentimento voltou a unir de fato boa parte dos integrantes em 2015, direta ou indiretamente. Ano complicado para o Botafogo, que iniciaria nova disputa de série B com poucas perspectivas. Pelo menos para quem não conhece o Glorioso e a sua grandeza. Mas até os apaixonados, que nunca duvidaram da força daquela camisa, questionaram os meios que seriam utilizados para terminar o ano voltando pra casa. Não só se perguntaram, como também quiseram participar e iniciaram uma belíssima mobilização. Através de Max Bill, Rafael Faustino, Bruno Oliveira, Vinicius Vargas, Franco Queiroz e tantos outros alvinegros que se juntaram ao grupo – muitos deles remanescente da Serra Fogo – nasceu o Movimento Abrace o Botafogo.

O nome, por si só, sugere o espírito do projeto. Sem fins lucrativos, a iniciativa tem como único e exclusivo objetivo ajudar a fazer toda aquela gente que se reunia no pequeno espaço e os outros milhões de apaixonados voltarem a sorrir. O Abrace o Botafogo realiza eventos periódicos, sem apoio algum do clube, para incentivar o cadastro de novos sócios torcedores. Em seu primeiro ano, foram três encontros: Nova Friburgo, Sumidouro e Aperibé. Somando todos, mais de mil alvinegros participaram das confraternizações, que contaram com a presença de grandes ídolos. Maurício, Wagner e Gonçalves abraçaram a causa, e fizeram o botafoguense viajar no passado sem esquecer a importância de olhar para o futuro.

Ah, Botafogo... Imagine, pelo Brasil inteiro, e até mesmo pelo mundo, quantas pessoas não fazem loucuras por você. Já perguntaram se outras torcidas realizam mobilizações parecidas, mas é improvável. Ninguém ama como o botafoguense. No lugar do coração bate uma estrela, que nos guia em nosso dia-a-dia. O futebol, para o alvinegro, é mais do que simpatia ou divertimento. É religião... É a sua vida! Um sentimento que somente cinco milhões terão o prazer de sentir. Felizmente aquela criança citada no texto, exatamente este que vos escreve, é um desses escolhidos.

Saudações alvinegras! Que venha 2016! Continuaremos, ano que vem e até o final da nossa existência, abraçando o Botafogo...

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