Deixe o sentimento de lado

quinta-feira, 03 de dezembro de 2015

As emoções têm influência sobre nossa fisiologia mais do que pensamos ou acreditamos. Fisiologia é como nosso organismo funciona. Não é só química, sejam enzimas, vitaminas, sais minerais, proteínas, sódio, potássio, etc, que está relacionada com o funcionamento dos órgãos humanos. Os sentimentos também influenciam bastante.

Há pessoas que quando saem de casa e viajam, apresentam prisão de ventre que não está relacionada com alguma comida diferente. Ao voltarem para casa ou ao passarem a se sentir seguras onde foram, o intestino volta a funcionar bem.

Há crianças que quando se sentem deprimidas, voltam a urinar na cama (enurese noturna) quando já conseguiam controlar.

Há adultos que, diante de muito estresse, apresentam crises de enxaqueca. Outros perdem a fome e outros atacam a geladeira quando estão nervosos ou tristes.

Isto é psicossomática. Ou seja, a relação entre a mente e o corpo. Mas o tema de hoje “deixar o sentimento de lado” tem a ver com aprender a não ficar preso a um sentimento desagradável, como a angústia, ou o medo, ou a ansiedade excessiva.

É normal nessa vida sentirmos tristeza, medo, ansiedade, angústia, porque ocorrem perdas, traumas emocionais, problemas familiares graves, tensões no trabalho, na escola, na universidade, além de frustrações sociais.

Algumas pessoas podem se sentir bem travadas por causa de alguma emoção dolorosa. Por exemplo, se você experimenta por vários dias uma sensação de perda de energia, tristeza, desânimo e também angústia, esta experiência emocional desagradável pode lhe puxar para baixo e prejudicar seu desempenho escolar, no trabalho, no relacionamento com as pessoas, etc.

Então, é importante aprender a lidar com estas emoções dolorosas usando o pensamento, a análise ou reflexão, a paciência, lutando para desfocar da dor, e fazer o que é possível cada dia, sem ficar se cobrando de que teria que funcionar melhor.

Emoções desagradáveis ou dolorosas não surgem sem causa em nossa mente. Podem ser, por exemplo, ligadas a interpretações erradas que damos aos fatos, quando, então, distorcemos o pensamento e pensamos de uma forma que não é sadia e sem base na realidade. Exemplo: você telefonou para sua amiga com quem fala todos os dias. Mas hoje ela não atendeu sua ligação. Daí, seu pensamento imediatamente disse a si mesma: “Será que ela está chateada comigo? Acho que ela viu que era meu número de celular no celular dela e não quis atender”.

Na manhã seguinte você consegue falar com ela, comenta sobre ela não ter atendido seu telefonema, e ela diz: “Poxa, nessa hora que você diz que me ligou, eu havia deixado meu celular dentro do carro e estava no supermercado!”.

Então, a interpretação sua de que ela não quis lhe atender foi uma distorção de pensamento. Distorções como esta (há vários tipos) produzem sentimento doloroso, desagradável, que pode ser tristeza, sensação de rejeição, raiva, etc. Se você, portanto, não corrigir estes erros de pensar, as emoções desagradáveis não irão embora.

Quando você tiver algum sentimento desagradável, verifique se ele não surgiu por causa de uma interpretação errada ou falsa da realidade. Se o sentimento doloroso lhe perturba por vários dias, então procure não se concentrar nele. Deixe o sentimento ruim de lado e faça o melhor que puder neste dia. Você poderá funcionar em suas tarefas, mesmo sentindo algo desagradável. O que é bom, do que a gente sente, passa. Não é normal sentirmos ótimos 24h por dia, sete dias por semana. Mas o que é ruim dentro de você também passa. Deixe o sentimento de dor de lado e tente focalizar em outra coisa sem ser no que está sentindo. Isto é um aprendizado adquirido com treinamento pessoal. Um dia de cada vez.

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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