Antidepressivos e placebo

domingo, 15 de novembro de 2015

Placebo é um medicamento sem componentes químicos que é dado a um grupo de pessoas que se submetem a um trabalho de pesquisa em que se compara um (ou mais) medicamento(s) com ele para ver os resultados sobre os sintomas de determinada doença.

Há cerca de 20 anos atrás a ciência apontava que os antidepressivos apresentavam bons resultados para 70% dos deprimidos enquanto que o placebo ajudava 30% deles. (U.S. Department of Health and Human Services. Depression in primary care: treatment of major depression. V.2, Clinical Practice Guideline N.5.Washington: U.S. Gov. Printing Office, 1993.)

Se achava que as pessoas com depressão vital, melancólicos, internados, respondiam melhor aos fármacos da época (imipramina, fenelzina, etc), e depois a indústria farmacêutica lançou vários outros antidepressivos no mercado. Mas novos estudos verificaram que parece que houve uma sobre estimação dos resultados destes remédios e que não seria 70% o índice de melhora dos pacientes deprimidos em uso destas drogas.

Um grande estudo feito no Texas em 2004 revelou que somente 4 de cada 10 pacientes deprimidos tratados com Citalopram melhoraram. (Rush AJ, Fava M, Wisniewski SR. Sequenced Treatment Alternatives to Relieve Depression (STAR*D): rationale and design. Control Clin Trials 2004;25: 119-42.). Daí surgiram críticas por parte de acadêmicos e público em geral sobre os resultados “otimistas” que as indústrias farmacêuticas apontavam para seus produtos para depressão.

Verificou-se que os resultados da redução de sintomas depressivos com medicamento placebo nos estudos sobre depressão não derivados da indústria farmacêutica eram bem melhores. Ou seja, estas indústrias estavam mostrando resultados muito melhores dos seus antidepressivos comparados com o placebo, resultados estes não encontrados em outros estudos feitos por acadêmicos desvinculados com os laboratórios farmacêuticos.

Verificou-se também que o deprimido melhorava mais quando também se submetia a tratamento psicoterápico junto ao tratamento medicamentoso. Vários estudos mostraram que quanto mais a equipe da pesquisa e os pacientes não sabiam quem recebia qual medicamento (antidepressivo ou placebo), o placebo tinha melhores resultados. Isto indica confiança da pessoa no remédio. De alguma forma a confiança atua no cérebro, melhorando sintomas depressivos e outros.

O FDA norte-americano, que é correspondente a ANVISA no Brasil, determinou que as indústrias farmacêuticas têm que demonstrar que um antidepressivo é sempre superior ao placebo em todos os estudos, antes de obter a aprovação para sua comercialização.

Aquele conceito antigo de que as pessoas com depressão grave apresentam melhores resultados com antidepressivos, enquanto que os com depressão menos grave respondem bem ao placebo, se mantém até agora nos estudos científicos, mas não com os índices de antigamente. (Khan A, Brodhead AE, Kolts RL et al. Severity of depressive symptoms and response to antidepressants and placebo in antidepressant clinical trials. J Psychiatr Res 2005;39:145-50.).

Pessoas com depressão leve a moderada podem se beneficiar com psicoterapia, exercícios físicos, apoio familiar, sem possivelmente necessitar de antidepressivo. Na psicoterapia elas aprenderão a perceber pensamentos distorcidos (“ninguém gosta de mim”, “a vida não faz sentido”, “sou um peso para os outros”, etc.), crenças centrais negativas (“não tenho jeito”, as pessoas são cruéis”, “eu sou sem valor”, etc.), e poderão trabalhar consigo mesmas para trocar estas maneiras de pensar e ver a vida por outros pensamentos e crenças saudáveis. Isto o remédio não consegue fazer. Só a pessoa pensando.

Dados dessa matéria foram obtidos do trabalho “Antidepressivos frente a placebo en la depressión mayor – una perspectiva general”, A. Khan, W.A. Brown, publicado na revista da Associação Mundial de Psiquiatria, vol.13, n.3, p.294-300, 2015.

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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