Meus olhos cansados vermelhos de sangue

sábado, 07 de novembro de 2015

Quando chegar a noite e eu cair na cama sei que vou desabar. O teto e o chão se unirão e eu esmagado em choro deixarei toda a dor consumir meu sono que não virá. Noite após noite, uma de cada vez, sofrerei com toda angústia permitida até que eu consiga interrompê-la ou que por tanto doer, eu acabe me acostumando com ela que já nem sinta mais nada.

Por que negar a tristeza? Ela existe e está aqui. Negar a ela é não permitir que vá embora. Deixa, então, eu me esgotar nesse mergulho profundo mesmo não sabendo mergulhar. Vou aprender. Para sarar, talvez, quem sabe num dia lindo de azul pleno.

Meu coração está rasgado. Na mesma proporção que nunca amou tanto. Estraçalhado, o coração faz de mim cacos. E a culpa foi toda minha! Sou o único responsável por minhas escolhas e a tragédia delas só tem a minha assinatura. E, o pior: minhas assinaturas nunca são exatamente iguais. Terei que costurar eu mesmo as feridas sem anestesia. Fecharão. Deixarão as cicatrizes. Por que te percebi? Por que se faz inesquecível?

Não vou prender o choro. Do sofrimento escapo com a mesma vontade que me entreguei. Disse o que tinha que ser dito. Fiz o que tinha que ser feito. O risco era apenas a verdade vir à tona. E eu sabia da verdade! Cruel comigo mesmo abandonei a submissão e humilhado já não voo, já não ando, perambulo, me arrasto na minha própria poesia. Mesmo me arrastando, ainda sim tropeço. Por que ouvi aquela canção? Minha mudez gagueja.

Sozinho comigo mesmo, sou obrigado a me aturar assim. Derrotado. Aniquilado, pergunto e pergunto: por que não eu? O que é preciso para te ganhar sem me perder? Essa é a minha condenação. Por que? Ah! Meus olhos cansados vermelhos de sangue... É apenas minha alma chorando, se questionando, clamando não por salvação, mas por uma ideia menos tortuosa de amor. Acho que o cansaço dos olhos já se aconchegam em todas as outras partes do corpo e o sangue já pulsa no espírito. Tortura te ver sem poder te tocar. Tontura que não me permite sair por aí, de novo, com a gana de quem sabe lutar. Todas as declarações são em vão. Tudo foi subvertido e eu junto.

Queria ter outras escolhas. Queria ter a força necessária de saltar no ar e ao chegar a superfície esquecer tudo - prosseguir. Não mais amar. Não mais querer. Não mais ver esse rosto me sorrindo. Saudade. Quanta saudade! Poucas horas, mas tão mágico e bom! Não foi mentira, foi?

Tento tirar os pesos dos meus ombros. Mas ainda sim meu coração decidido pesa. Qual a fórmula para esquecer um grande amor? Como podia ter um botão que nos fizesse simplesmente desligar. Ou dar um clique para ligar e mudar tudo. Desgraça essa sorte de ser apresentado a um mundo diferente e à sua mais densa e importante experiência. Como simplesmente seguir? Preferia ser tolo, desses que não sabem por não ter conhecimento. Mas agora que conheci, não dá para virar as costas e simplesmente seguir, fingir...

Dispenso os conselhos preocupados e tento resolver comigo mesmo esse deslocamento no meu peito que dói como nunca. Vou me deixar esquecer. Vou me deixar na porta de casa e seguir sem alma, sem coração, sem dedicação...

Tirar essa tatuagem do seu nome na minha vida e te ver com outros olhos. Transformar em alvo eu mesmo. Ficar surdo para esse estardalhaço que a flor branca faz ao despencar da árvore na noite escura de chuva.

Onde mora a felicidade? Qual o mapa? Tem endereço para o amor? Eu só quero sumir. Sorrir para doar educação. Dormir para não cobrar nada da esperança. Reinventar o que poderia ser em crônicas, ficção. Imaginar o que se interrompeu mais extenso para uma vida inteira. Maldito junho! Bendita paixão! Sentimental queria poder tirar essa armadura e ser apenas mais um desses que vagam, não percebem e são menos vivos, porém nunca morrem de amor.

Que as lágrimas saiam todas de uma só vez. Que toda a dor evapore. Que eu não me esqueça de como é o fim para nunca mais começar outra história assim. Minha capacidade de amar é um talento que nunca mais quero ter ou mostrar. Não me submeto mais ao amor. Que o tempo seja ligeiro a me ajudar. Que eu seja forte para esquecer o que diz a estúpida canção. Por agora, respeito o meu querer: apenas chorar, chorar e chorar... Morri de amor, mesmo nunca tendo nascido para ele.

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Wanderson Nogueira

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

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