Transtornos da personalidade: conceito e tipos

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Personalidade é um conjunto de características e peculiaridades de uma pessoa que o distingue de outra, e com a qual se relaciona socialmente com seu padrão individual relacionado ao seu jeito de pensar, de sentir e de agir.

As pessoas podem ter uma alteração da personalidade chamada “Transtorno da Personalidade”. Elas manifestam um jeito de ser como indivíduo, o que é diferente de um jeito de estar dessa forma. Elas são assim. E geralmente são pessoas de difícil convivência. Há um sofrimento pessoal e elas fazem outros sofrerem.

O Transtorno da Personalidade é uma alteração no modo da pessoa ser fora das variações normais, é um distúrbio da constituição e das tendências comportamentais que não está ligada a uma doença, lesão, trauma cerebral ou outra doença psiquiátrica. Há um prejuízo geral no funcionamento desta pessoa e em geral se nota isto na adolescência, prosseguindo na vida adulta.

Todos nós temos características típicas de nossa maneira de ser. Uns são mais arrumados, outros mais bagunceiros, uns são mais afetivos, outros são mais racionais, uns são preocupados com detalhes, outros são mais desligados disso. Estas diferenças e características são normais. Mas na pessoa com um Transtorno da Personalidade estas características são exageradas, inflexíveis, dominam sua conduta e produzem problemas importantes no relacionamento familiar e social, podendo prejudicar seu desempenho.

A diferença entre Transtorno da Personalidade e Doença Mental é que esta última surge na vida da pessoa numa crise, num processo, em surtos, enquanto que os Transtornos da Personalidade acompanham a pessoa por terem a ver com a maneira delas serem.

Segundo o Código Internacional das Doenças, versão 10 (CID-10), há três possibilidades de causas dos Transtornos da Personalidade. (1)Transtornos decorrentes de lesão, doença e disfunção cerebral; (2)Transtornos específicos de personalidade, e (3)Alterações permanentes de personalidade não atribuíveis a lesão ou doença cerebral.

Os primeiros (1) ocorrem devido à mudança da personalidade causada por doenças como epilepsia, tumores, acidente vascular cerebral, traumatismo cranioencefálico, etc. Os segundos (2) surgem por causa de fatores constitucionais e ambientais e caracterizados por padrões rígidos de comportamento e desadaptação pessoal e social que se afastam significativamente da média de uma determinada cultura. Os terceiros (3) não apresentam transtorno de personalidade prévio após experiência catastrófica ou doença psiquiátrica. (“Transtornos da Personalidade”, Mario Rodrigues Louzã Neto e Táki A. Cordás, Artmed, p.19-21, 2011).

O CID-10 apresenta oito tipos de Transtornos de Personalidade:

1) Transtorno paranoide – predomina a desconfiança, sensibilidade excessiva diante de contrariedades, sentimento de sempre ser prejudicado, explorado, passado para trás ou traído, mesmo sem motivos razoáveis para isso. A expressão de afeto é restrita, sendo considerado como pessoa fria, hostil, irritável;

2) Transtorno esquizoide – predomina o desapego, desinteresse pelo contato social, retraimento afetivo, dificuldade em experimentar prazer ou expressar emoções. O que em geral desperta prazer nas pessoas não diz nada a esta, como o sucesso no trabalho, no estudo ou uma conquista afetiva. Não se perturba com elogios ou críticas;

3) Transtorno antissocial – prevalece a indiferença pelos sentimentos alheios, podendo adotar comportamento cruel; desprezo por normas e obrigações; baixa tolerância à frustração e baixo limiar para descarga de atos violentos;

4) Transtorno emocionalmente instável – marcado por manifestações impulsivas e imprevisíveis. Há dois subtipos: impulsivo e borderline. No impulsivo há instabilidade emocional e falta de controle dos impulsos. No borderline, além da instabilidade emocional, há perturbações da autoimagem, dificuldade em definir suas preferências pessoais, com consequente sentimento de vazio, não possui clara identidade de si mesmo, sem projeto de vida ou escala de valores duradoura;

5) Transtorno histriônico – prevalece egocentrismo, baixa tolerância a frustrações, teatralidade e superficialidade. Impera a necessidade de fazer com que todos dirijam a atenção para ele próprio, eterno “carente afetivo”, com comportamento sedutor e manipulador, exibicionista, fútil, exigente e lábil (muda facilmente de atitude e de emoções). Expressa emoções com exagero inadequado, como ardor excessivo com desconhecidos, acessos de raiva incontrolável e choro convulsivo em situações de pouca importância;

6) Transtorno obsessivo ou anancástico – prevalece a preocupação com detalhes, rigidez e teimosia. Há pensamentos repetitivos e intrusivos que não alcançam, no entanto, a gravidade de um transtorno obsessivo-compulsivo, tendência ao perfeccionismo, comportamento rigoroso e disciplinado consigo e exigente com os outros. Emocionalmente frio, é uma pessoa formal, intelectualizada e detalhista. Tende a ser devotada ao trabalho em detrimento da família e amigos, com quem costuma ser reservada, dominadora e inflexível. Dificilmente está satisfeito com seu próprio desempenho e seu perfeccionismo o torna uma pessoa bem indecisa;

7) Transtorno ansioso (ou esquivo) – prevalece sensibilidade excessiva a críticas; sentimentos persistentes de tensão e apreensão, tendência a retraimento social por insegurança de sua capacidade social e/ou profissional;

8) Transtorno dependente – prevalece carência de determinação e iniciativa, instabilidade de propósitos, precisa de outras pessoas para apoiar-se emocionalmente e sentir-se segura. Permite que os outros tomem decisões importantes a respeito de si mesma. Sente-se desamparada quando sozinha. Resigna-se e submete-se com facilidade, chegando mesmo a tolerar maus-tratos. Quando posta em situação de comando e decisão, esta pessoa não obtém bons resultados.

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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