Colunas
A Voz do Rio - 26/10/2015
Beltrame
A Polícia Militar admitiu erro de controle interno em relação a armas e munições desaparecidas de quase todos os batalhões do Rio. O documento foi divulgado depois que o corregedor coronel Victor Yunes entregou um relatório à CPI das Armas, no qual há um balanço de 457 armas desaparecidas, entre elas fuzis, que o secretário de segurança pública, José Mariano Beltrame, insiste em dizer que é o inimigo nº 1 da cidade. Além disso, o relatório aponta que 2.500 balas de armas de fogo desapareceram de uma Companhia Independente da corporação no Palácio Guanabara, que é a sede do governo de Luiz Fernando Pezão. Será que Beltrame vai continuar falando agora que as armas chegam nas mãos dos bandidos pela deficiência nas fronteiras? Só se forem as fronteiras dos próprios batalhões que ele toma conta. E agora, Beltrame?
Beltrame II
Parece que Beltrame perdeu de vez o controle da polícia ao culpar agora a sociedade por não se indignar com crimes contra policiais. Como se não bastasse, agora a sociedade virou culpada pela falta de comoção no óbito destes agentes, que morrem a serviço do estado. De acordo com Sílvia Ramos, cientista social e coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes, o secretário é o principal culpado, uma vez que o estado acha normal partir para o confronto armado, deixando claro para a sociedade que a polícia declarou guerra contra o tráfico de drogas. E numa guerra é normal que as mortes sejam banalizadas. E não é somente a morte de policiais. O assassinato de jovens negros e pobres, inocentes ou não, decorrentes de incursões policiais, também é banalizado. Se liga aí, Beltrame, ou pede pra sair...
Beltrame III
A fala do secretário de Segurança também chamou atenção de Gláucio Soares, pesquisador e professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Para ele, “parte da inteligência brasileira” não esqueceu das atrocidades feitas pela polícia quando a mesma servia de braço armado para a ditadura militar e que é reforçado diariamente pela prática de policiais corruptos. Ainda segundo o professor, enquanto os criminosos são vistos como vítimas de forças econômicas e sociais, a polícia aparece como um braço armado de vingança, e não como implementador de justiça. É um descrédito que, infelizmente, atinge os policiais de bem.
Beltrame IV
Já a ONG Rio de Paz também rebateu a crítica infeliz. Disse que já cansou de realizar manifestações em prol de policiais, mas que os próprios PMs reclamam das condições de trabalho imposta pelo governo (e não da sociedade, como faz o secretário) que os joga desprotegidos em meio ao tráfico dentro de contêineres ridículos, no coração das favelas, sem a menor infraestrutura e apoio. Ele reconhece, no entanto, que outros movimentos sociais e organizações ligadas aos direitos humanos relutam em dar voz para a polícia por conhecerem o histórico da corporação. Relutam pelo histórico de atrocidades que a polícia comete, quando tem voz de poder nas favelas cariocas.
Beltrame V
Outros oito mil projéteis de fuzil, escopeta, pistola e revólver também foram desviados este ano de unidades da Polícia Militar. Desse total, 7.600 aproximadamente saíram de dentro da Corregedoria Interna. O restante da munição desapareceu de Delegacias Judiciárias da Polícia Militar (DJPMs), subordinadas à corregedoria. Um outro documento, encaminhado pela Delegacia de Controle de Segurança Privada, da Polícia Federal do Rio, aponta que, desde 2011, também desapareceram 853 armas de fogo e 5.952 projéteis de empresas de segurança do estado. Para o sociólogo Ignácio Cano, coordenador do Laboratório de Análise da Violência da Uerj, o que mais surpreende é a perda dentro da corregedoria. Se a corregedoria não consegue dar conta das armas e munição, então o que podemos esperar do conjunto das outras instituições públicas?
Beltrame VI
O presidente da CPI das Armas na Alerj, deputado Carlos Minc, se mostrou estarrecido com a situação do controle das armas nas unidades da PM. Para ele, isso mostra a vulnerabilidade do sistema até ao lado do governador, uma vez que milhares de balas saíram de dentro do próprio palácio da Guanabara. É preocupante, porque a maior parte dessas armas acaba nas mãos do tráfico de drogas e das milícias.
Beltrame VII
Os números divulgados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) continuam sendo maquiados. Na semana passada, mais uma vez, o órgão voltou a informar que o número de roubos de celulares teve um aumento de 59,6% no estado, 61,99% a mais do que o número de ocorrências do mesmo período do ano anterior. Mas, ainda segundo o ISP, pelo oitavo mês consecutivo, caiu o número de roubos a transeuntes no estado. Mais uma vez, insisto: como pode aumentar um e diminuir outro, se eles são a mesma coisa? O ISP não explica, mas a coluna sim! Quando a bolsa da sr. fulana é roubada com carteira, documentos, e outros itens pessoais, o policial pergunta: “tinha celular?” e aí o registro é feito em cima de roubo de celular apenas, e não é registrado no roubo a transeuntes. Uma hora, a máscara vai cair. Coisa feia, Beltrame.
No mais...
Especialistas já comentam que a situação de Beltrame a frente da secretaria de Segurança Pública está ficando insustentável. A última notícia é de que o governo cortou a carne do almoço dos oficiais do Batalhão de Choque por falta de verba. Agora, no cardápio, arroz, feijão e salsicha. Isso mesmo, salsicha. Os agentes reclamam e culpam os roubos sucessivos do comando dentro da corporação pela defasagem do orçamento. O problema é que, para cair, alguém deveria pleitear o cargo na secretaria. Mas, por enquanto, ninguém quer agarrar nesse gol...
Alessandro Lo-Bianco
A Voz do Rio
Pai da Valentina, Alessandro foi repórter da Band News, revistas da Editora Abril, Jornal O Dia, Portal IG e Último Segundo. Atualmente é repórter do Jornal O Globo e ventila aqui na serra, todas as segundas-feiras, um pouquinho da maresia carioca.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
Deixe o seu comentário