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Depressão: só medicamento resolve?
Estudos da OMS (Organização Mundial da Saúde) apontam que a depressão deverá ser a segunda doença a afetar os seres humanos em 2020, e a primeira em 2030. Por que a depressão avança como uma epidemia no planeta?
O mundo está “bombado”. Milhões de pessoas vivem sob efeito de medicamentos, dentre eles os psicotrópicos. Psicotrópico significa que o remédio migra para o cérebro, atua nele e produz algum efeito, seja sedação, euforia, confusão, prejuízo na memória recente, etc. Em parte, as pessoas com sofrimentos mentais estão supermedicadas devido à visão reducionista biológica do ser humano, a qual conduz a abordagens também somente biológicas, como a psicofarmacoterapia (remédios que atuam no cérebro).
Mas onde está o subjetivo? E a pessoa em conflito? Que conflito ela apresenta que produz sintomas? Que dores experimentamos na vida que são inerentes ao existir humano? O profissional médico ou psicólogo, ao atender um deprimido, considera estas coisas? Olha somente a doença da pessoa e se “esquece” da pessoa que tem a doença? Que personalidade é esta? Desde quando ela apresenta sofrimentos emocionais importantes? Como ela lida com a dor emocional ao longo da vida? É alguém impaciente? Tem limiar baixo para lidar com a frustração? Foi superprotegida e, assim, não aprendeu adequadamente a administrar seus “fantasmas” mentais?
O remédio não resolve tudo. Mesmo os naturais, como Hipérico (Hypericum perforatum), um fitoterápico antidepressivo com bons resultados para alguns com depressão moderada, mas sem funcionar bem para depressões graves. Fitoterápico não é homeopatia e nem é floral, e sim medicamento preparado à partir de plantas medicinais.
Assustadoramente, as novas gerações de humanos estão se condicionando com um comportamento superficial, emocional, hedônico (hedonismo: doutrina que prega o prazer como bem supremo), que audaciosa e erroneamente têm a crença de que o que vale é o que faz você sentir-se bem, não importando os meios para isto. Uma loucura esta filosofia de vida!
Então, ao não se sentirem bem, ao surgirem emoções dolorosas e frustrações porque seu egocentrismo é ferido, seu prazer acaba; logo, querem “algo” para voltar a ter bem-estar. Este “algo” pode ser álcool, sexo, jogo, compras, trabalho, cocaína, crack, maconha, domínio sobre outras pessoas, dinheiro. Mas e a dor original? De onde vem esta dor que tira o prazer? A verdade é que algumas coisas boas passam. Mas algumas coisas ruins também passam. Entretanto, há uma angústia em cada ser humano que não passa com nada. Por isso, um dos maiores estudiosos da angústia humana, o filósofo Sören Kierkegaard, disse que aquele que aprendeu a lidar com sua angústia, aprendeu o mais importante. Por isso, o maior filósofo de todos os tempos, Jesus Cristo, disse: “No mundo tereis aflições.”
Todos temos dores. O bebê nasce com angústia. Os filósofos a chamam de “angústia existencial”. E em cima dela, ao longo da vida, surgem outras angústias, seja por traumas de uma infância complicada com um pai ou mãe alcoólico, ou por agressões físicas e emocionais, divórcio, crianças criadas por mães solteiras, violência no lar e por aí vai.
Os medicamentos psiquiátricos têm seu lugar. Em alguns casos eles são o número um no tratamento, como em psicoses graves. Mas perguntas que o deprimido precisa fazer a si mesmo para sair da depressão incluem: Que coisa ocorreu em minhas expectativas de afeto que me frustrou? Além da dor pela perda daquela pessoa (por morte, separação, abandono, negligência), o que perdi nisto? Perdi minha segurança emocional, minha dependência, minha fonte de afeto? Coloquei exagerada dependência de aprovação, carinho, apoio em algum ser humano? Se sim, o que me levou a criar esta armadilha para mim mesmo(a)? O que posso fazer para evitar repetir isto? Como aprender a me valorizar, me respeitar, a fim de me sentir melhor comigo mesmo(a), em vez de ficar dependendo de alguém para isto? Qual o sentido de minha vida? O que estou fazendo nessa existência? Tenho vivido só olhando para meu umbigo? Vivo reclamando? Não tenho cultivado gratidão? Tenho que acabar com ressentimentos?
Estas reflexões podem gerar pensamentos que podem auxiliar você a tomar decisões, fazer escolhas para sair da depressão com, sem ou apesar de remédios. O remédio antidepressivo não pensará em seu lugar. Pense. Elimine os pensamentos, disfuncionais, negativos, distorcidos. Cultive pensamentos de otimismo, gratidão, perdão, seriedade para com a vida, de ajuda para alguém. Estes são os melhores remédios para a depressão.
Cesar Vasconcellos de Souza
Saúde Mental e Você
O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.
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