Ah, meu caro editor...

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Não foram poucas as vezes em que, mesmo na primeira divisão, eu li em alguns jornais, assisti nas emissoras de TV ou escutei pelo rádio que o Botafogo corria riscos de fechar as portas. Tão logo o Glorioso confirmou a queda para a série B, em 2014, esse tipo de manchete mais uma vez tomou conta da imprensa carioca e brasileira de uma forma geral. Lembro-me de um famoso impresso do Rio de Janeiro, que estampara ironicamente - e não menos de forma desrespeitosa - a frase: “E agora, Botafogo?”

Ah, meu caro editor desse referido jornal... Mais culpado do que o seu repórter, esse mesmo que escreveu essa calúnia, é o senhor. Você teve a chance de consertar essa barbaridade, mas preferiu reafirmar o impossível para vender jornais para os convenientes. Esses mesmos, que se animam por qualquer vitória, embalados por uma mídia que privilegia os que possuem a capacidade de raciocínio limitado, facilmente manipuláveis. Os que vivem apenas de momento, e não de paixão. Os que têm o clube de futebol como instrumento para criar situações de superioridade onde não existe. Aqueles mesmos que aceitam toda a qualquer colocação feita pela imprensa e são felizes por viverem acobertados por mentiras. Sim, estou falando desses que apreciam futebol. Nós vivemos futebol. O Botafogo é a nossa vida.

O Botafogo, na verdade, é a razão de milhões de apaixonados em todos os cantos do Brasil. Certamente, meu caro editor, o senhor não assistiu ao jogo do Botafogo contra o Mogi Mirim, na última sexta-feira. Gostaria apenas que olhasse para as arquibancadas lotadas de alvinegros no Espírito Santo (a mais de 700 km do Rio de Janeiro), num jogo de série B, sexta-feira, às 21h30, contra um adversário inexpressivo. O senhor certamente concluiria que existe algo chamado sentimento, que jamais deixaria uma expressão como o Botafogo cogitar o fim. A sua história já o imortaliza, meu caro editor. Infelizmente para o senhor, nós somos muito maiores do que as suas inverdades tentam mostrar.

Dentro desse contexto eu me lembro daquelas afirmações estúpidas de que o Botafogo não tem torcida, etc., etc. Será que o time da série C consegue lotar algum estádio longe do Rio de Janeiro (onde também é raro esse tipo de acontecimento)? Ainda bem que contra fatos não existem argumentos. Até onde esse colunista soube, o Botafogo liderava a venda de camisas na mais famosa rede de lojas de material esportivo do país no mês de setembro. Isso sem considerar as dificuldades que o torcedor encontra para adquirir o manto. Aquela história do “Elefante Acorrentando”, lembram-se? Pois um dos elos dessa corrente é o próprio Botafogo.

Mas deixando essa história de lado, vamos ao jogo. A emoção tomou conta dos alvinegros logo na descida das escadas dos vestiários para o campo de jogo. Dezenas de crianças aguardavam ansiosamente os jogadores do Glorioso, mostrando que não importa Giarettas, Serginhos, Thomas e outros. É o Botafogo que está ali, o clube mais tradicional e apaixonante do país. Para representar a nossa verdadeira história, um goleiro de Seleção, disputado por cada um daqueles pequeninos que ali estavam, encantados com a possibilidade de ver os ídolos de perto.

É por eles que precisávamos vencer o jogo. Não só pela importância do resultado e a proximidade do acesso com os três pontos. A recordação que cada criança leva pra casa é de uma vitória, de festa. E desta forma a paixão cresce, se multiplica, se espalha. O Glorioso começou fulminante com o gol de Roger Carvalho, mas talvez a fragilidade do adversário fez a equipe relaxar. E é sempre perigoso, pois uma bola pode complicar um jogo simples. Jéfferson teve trabalho no segundo tempo, reforçando essa teoria e deixando lições para a sequência da temporada.

Os pequeninos botafoguenses certamente gargalharam (pra não dizer reclamaram) com o escanteio cômico cobrado por Thomas. Mas logo depois vibraram com o gol deste mesmo jogador. Já estaria de bom tamanho, mas as arquibancadas clamavam por um gol do capixaba Luis Henrique. A jóia do Glorioso não decepcionou, e ainda nos transportou às lembranças de Loco Abreu e sua cavadinha. Perfeito para encerrar mais uma noite de vitória e deixar em êxtase a nova geração de torcedores.

Pois é, meu caro editor. Prepare esses mesmos dedos que escreveram uma das maiores mentiras da história da imprensa esportiva para registrar o retorno do Gigante. Falta pouco, apenas seis vitórias. Você mesmo, meu amigo, que elogia a administração daquele time rubro-negro em uma matéria, mas que na mesma edição noticia que eles possuem a maior dívida entre os clubes do Brasil. Mesmo que o senhor não queria ou não seja conveniente, terá que se render a força de um clube único, mágico. Capaz de renascer das cinzas muitas vezes, e retornar ainda mais forte. No campo, na bola, na força da camisa. No amor de sua torcida, que Ninguém cala jamais!

Saudações alvinegras! Faltam seis! Mas eu volto antes, já na próxima semana.

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