“Tá de sa”... Sassá!

segunda-feira, 07 de setembro de 2015

Em um ano atípico para o clube mais tradicional do Brasil, ainda há momentos em que a Estrela Solitária brilha a ponto de fazer o torcedor voltar a ter orgulho e sonhar com o retorno do verdadeiro Botafogo. Cito aqui o duelo contra o Flamengo pelo Campeonato Carioca (no dia dos 450 anos do Rio de Janeiro), adversário contra quem o bicho é sempre certo. Jogamos mais, cantamos mais nas arquibancadas e vencemos a partida. Tudo dentro da normalidade. É preciso citar também a semifinal deste mesmo estadual contra o Fluminense. Em maioria absoluta no templo Nilton Santos, o torcedor alvinegro pôde vibrar com uma classificação heróica, nos pênaltis, mesmo com o time completamente desacreditado.

Definitivamente não é normal olhar a tabela de jogos ou de classificação da série A e não encontrar o Botafogo. O campeonato perde o brilho, e o mundo inteiro questiona a ausência do Glorioso. É como um casamento onde a noiva não leva o buquê de flores. Fica faltando algo, mais do que fundamental para oficializar a importância daquele evento. No caminho para voltarmos a ser protagonistas neste “casamento”, é preciso, primeiramente, refazer o noivado e cumprir etapas importantes.

Acredito que no último sábado o Botafogo marcou a data do referido casório. Em um momento importante, onde abrir pontos de frente em relação aos rivais diretos e aqueles que se aproximam pode ser o diferencial, o Botafogo deixou a apatia recente de lado e foi o Botafogo. E logo contra dois adversários que vestem camisas cujas cores são sinônimos de freguesia. Pobre Atlético-GO, até então há oito rodadas sem perder. Provou da força do Glorioso no Niltão, onde este ano o alvinegro foi derrotado apenas uma vez, num jogo extremamente casual contra o Paysandu. Batizar a nossa casa com o nome do Enciclopédia foi o primeiro passo para valorizarmos ainda mais as futuras conquistas e voltas olímpicas ao redor da pista de atletismo, em breve reformada para as Olimpíadas de 2016.

Contudo, nesse caminho até os títulos de importância equivalente à nossa história, é preciso viver novamente momentos de Botafogo. Nada melhor do que registrar um desses lampejos no Barradão, exatamente onde demos o primeiro passo para a conquista do título Brasileiro de 1995. Na ocasião, há 20 anos, um empate por 2x2 gerou inúmeros questionamentos sobre a capacidade da equipe comandada por Paulo Autuori. E certamente, caso o jogo do último sábado terminasse empatado, haveria inúmeras críticas e dúvidas sobre o futuro do time dirigido por Ricardo Gomes. Seria, poderia, haveria. Não é, não pode e nem há. Por um simples motivo: aqui é o Botafogo!

A camisa pesa, a estrela brilha, o adversário sente e o jogador incorpora esse espírito. Não dá para negar que o Botafogo é um time muito mais organizado desde que Gomes assumiu o comando. O que ainda compromete são os erros individuais, naturalmente cometidos por jogadores de capacidade técnica limitada. Por isso, após primeiro tempo correto do Glorioso na marcação e bom na parte ofensiva depois dos 20 minutos, o torcedor terminou o primeiro tempo frustrado por não estar em vantagem no placar. Sobretudo por conta do gol perdido por Lulinha, cara a cara com o goleiro. No segundo tempo, a defesa sofreu uma sequência de panes nos minutos iniciais, e ofereceu diversas chances para o Vitória abrir o marcador. Sabe-se lá como o pior não aconteceu. Suportamos a pressão proporcionada pelos nossos próprios erros, e seguimos em frente.

É típico do botafoguense viver o momento e compartilhar o sentimento com quem é verdadeiramente apaixonado pelo clube do coração. O Botafogo é a vida de quem veste o manto alvinegro. E as lamentações pela chance desperdiçada por Lulinha deram lugar à vibração depois do golaço de Navarro. Eis que temos mais um uruguaio na vida do Glorioso. El Chino começa bem a caminhada, talvez por ter entendido o que é o Botafogo desde a sua primeira entrevista, quando disse se tratar de um dos grandes do futebol mundial.

Navarro, assim como os milhões de alvinegros espalhados pelos quatro cantos do planeta, já comemoravam a vitória, mesmo com aquele “medo” ocasionado pelo eterno convívio com o improvável. Escanteio para o adversário, aos 48 minutos do segundo tempo, a equipe vencendo por um gol de diferença... E aquelas coisas que só acontecem com o Botafogo... Aconteceram novamente. 

Revoltado, confesso que atirei o meu celular contra a parede. Mas ele “sobreviveu”, e parecia até me alertar que ainda não havia acabado. Naquele espaço de um minuto, entre os 48 e 49 do segundo tempo, quantas coisas passaram pela cabeça do botafoguense... “De novo?” “Outra chance desperdiçada para disparar na liderança?” “E agora, como será com essa tabela embolada?” “Mais um feriado de mau humor por conta de uma bobeira da defesa?” “Tá de sa... Sassá!!!” Eis que ele, tão questionado (com razão) e até então apagado, aparece para ganhar na corrida do zagueiro e tocar por cima do goleiro para dar a vitória ao mais tradicional. Coisas que realmente só acontecem com o Botafogo.

Gostaria de estar aqui vibrando com a permanência na liderança da série A. Seria muito mais condizente com a grandeza e representatividade do Glorioso. Mas o botafoguense, diferentemente de outros convenientes, vive o momento e entende a importância desta vitória - que em condições naturais seria normal. A minha realidade em um ano atípico, repito, é esta. E mais do que gostar de futebol ou de estar na primeira divisão, nós amamos o Botafogo. Esses três pontos são fundamentais, e aumentam a perspectiva positiva para a sequência de partidas contra Paraná, Mogi Mirim e Oeste. 

O meu Botafogo reagiu. Os jogadores voltaram a ter brio, a jogar com alma. A Estrela voltou a brilhar. Avisa lá que o Gigante está retornando...

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