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Quando você vem?
A tarde cai, enquanto a noite é espera de quem vislumbra um agrado da vida. Será que o amor virá? Não necessariamente hoje, mas um dia que não seja tão longínquo assim. Não há aqui quem esteja esperando — sentado. Mas há quem esteja na espera — descobrindo. Das formas mais cruéis — pagando para ver. E, pagando para ver sofre, tanto quanto se engana. Enquanto o engano dura, prevalece uma felicidade que ainda que momentânea, não deixa de ser felicidade. Que o engano seja permanente...
Queria poder ter a coragem de encorajar outros a também não paralisar no precipício. Se jogar, para, de repente, quem sabe descobrir que tem asas. A possibilidade de voar é um risco que vale a pena, argumento. Mais do que argumento, me uso como exemplo. E, me jogo, me atiro, entro, tento, invado. Como bala perdida viajo na velocidade do pensamento. Queria que meus sonhos se realizassem tão rápido quanto. Queria me iludir menos, mas me encantar tanto quanto me fantasio.
O medo corrói. O receio impede os melhores abraços que poderiam existir. Se há química, deixa a conexão agir e desperta. Eu não gosto de ir dormir. Eu também não gosto de acordar. Sonhar é tão bom e a falta de noção do que é realidade e sonho é fascinante. Mergulhar na magia de querer algo ou na certeza de que é aquilo... Ora, podem te julgar tolo, mas a tolice é a mãe da alegria. Quem vai se ferir? Quem vai gritar? Mais cinco minutos ou dez segundos: é só isso que peço!
Viaja na esperança de esquecer. Quem disse que o que foi bom tem que ser esquecido? Regras existem, mas se dar regras é burrice. O amor ou a suposição dele é a única burrice que não é pecaminosa, é a única premeditada burrice que aceita justificativas. Querer amar é sublime. Se entregar para o amor é renovar a fé! Não peço que ame, mas imploro que tente!
E, eu espero sem ficar sentado no sofá. Sou intromissão na noite escura, sou permissão sob o olhar do sol supremo. Travestido de herói que vem para salvar — procuro. Há quem salvarei além de mim mesmo?
Minhas habilidades não me são úteis quando na verdade quero ser apenas eu mesmo. Tento convencer de que é possível. Gasto todo o meu vocabulário, introduzo todas as peças que posso neste tabuleiro. Jogo sem saber jogar, admitindo que preciso convocar a sorte para vencer. Suspeito que a sorte seja quem está do outro lado da mesa. Minha sorte é meu adversário, tanto quanto meu adversário é meu maior desejo, minha mais divina parceria.
Tudo que quero está ao alcance. Doído é saber que o pior amor é aquele que está ao nosso tato, a tão pouca distância. Está tão perto, tão próximo... Longe! Minhas pernas ainda aguentam caminhar. Vem! Insisto para vir e sem qualquer educação dou de ombros para a intromissão. A vontade de amar me concede o direito de ser invasivo. Quero trazer a boa tormenta. Quero ser a direção desses novos ventos que passeiam por essa inquieta calma expressa no olhar que entrega a alma. Teimo.
Não tem como dizer que não é bom. Não tem como fingir que não vale a pena. Achar que pode me machucar ou se machucar é me rebaixar ou se rebaixar a uma fragilidade que não tenho, não tem, ou se tenho e tem — escondo, esconde. Ah! Invente outro tipo e forma de se autointitular. Quero você junto a mim, porque quando você passa eu me torno passageiro de uma magnífica viagem que conjuga os meus verbos mais belos e intensos.
Assim, quando você vem tudo se transforma. A matemática se esfacela, a poeira baixa, as estrelas dançam. O discurso gagueja, a madeira trinca, a música toca. O entendimento de tudo escapole, a confusão invade e tudo paralisa numa paralisia equivocada no nome, porque move tudo... Faz a roda girar e a percepção perceber que o que falta para mim é você, tanto quanto o que falta para você sou eu.
E, sou eu quem vem para te salvar. Sou eu quem vem para te confundir. Sou eu quem vem para te arrepiar. Sou eu quem vem para te mostrar tudo o que ainda não viu e ver de nova forma aquilo que supõe conhecer. No fim das contas, tudo o que faço para você é para mim mesmo. A paixão que dedico é o que alimenta a minha própria paixão pela vida! E, disso não me despeço... Então, vem!

Wanderson Nogueira
Observatório
Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
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