Aprendendo a esperar num mundo agitado

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Vivemos num mundo agitado, que não pode esperar. A velocidade tem que ser maior. A resposta tem que chegar logo. A decisão tem que ser rápida. Tudo rápido, acelerado, hiperativo, agitado, impaciente. Isto é normal? Não.

Temos que aprender a esperar. Ter paciência. A precocidade queima etapas que mais tarde cobrarão no comportamento. Há sabedoria no esperar. Há vida no esperar. Esperar pode salvar vidas. Esperar por aquilo que seu corpo/mente sabem como resolver. Dê um crédito ao organismo, cuidando melhor dele e esperando que ele recupere, sem logo querer entupi-lo com remédios sintéticos.

A morte por necrose é feia, apressada, desestruturada, desorganizada. A morte por apoptose é organizada, há inteligência nela, e estrutura. A primeira é ansiosa, a última é serena. Acelerar quando se deveria esperar conduz à necrose. Esperar pelo “timing” (momento certo) conduz ao descanso.

“Se a hora ainda não chegou, espere. Se o caminho não está claro, não se atire para a frente. Se a resposta ou a decisão está confusa, espere. ... Esperar é um ação – uma ação forte e positiva. ... Não precisamos nos apressar insistindo em fazer algo antes da hora. Quando for a hora, saberemos. Nos moveremos para aquela hora natural e harmoniosamente. Teremos paz e firmeza. Sentiremos a força que não sentimos hoje. Lide com o pânico, a urgência, o medo; não deixe que eles controlem ou ditem as decisões. Esperar não é fácil. Não é divertido. Mas esperar é quase sempre necessário para conseguir o que desejamos. Não é um tempo morto. Não é um tempo inerte. A resposta virá. A força virá. A hora virá. E será a hora certa.” (Melody Beattie, “A Linguagem da Liberdade”, p. 126, 127. Edit. Record, 1999).

Há tempo para tudo na vida. Tempo de agir e tempo de esperar. Se você não parar para cheirar um flor no jardim quando vai ao trabalho, ou se não parar para ter um encontro amigável com alguém na rua, só para não chegar atrasado 5 minutos e com isso diminuir a produção, seu corpo-mente pode estar à beira de um burn-out (esgotamento).

Já reparou o ninho do passarinho naquela árvore perto de sua casa? Viu a alegria das crianças na hora do recreio parando na grade do colégio para ver aqueles rostinhos ingênuos brincando de amarelinha no pátio da escola? Reparou como aquela senhora varre bem a praça e sempre cantando alguma música? Ou não pode esperar para desfrutar destas coisas?

Esperar tem que ver com esperança. Esperança é o antídoto da depressão. A depressão deverá ser a segunda doença do mundo em 2020, segundo a Organização Mundial da Saúde. Cerca de 20% da população de um país do primeiro mundo, EUA, sofre de depressão? Por quê? Perda da esperança. Falta de esperar. Falta de confiança.

Vá, mas vá com calma. Observe. Sente no banco do carona na sua vida. A pessoa forte emocionalmente não é a que não tem angústia e nem tristeza. É a que quando tem angústia e tristeza não se apavora, não faz besteira, nas entra em correria, não foge para a “produção”. Ela espera a dor passar, tolera alguma dor (resiliência), porque sabe que nesta vida temos dores. E sabe que o que é bom, passa, mas o que é ruim, também passa.

Sabendo esperar, sua produção poderá ser de melhor qualidade, assim como sua vida. Aprenda a esperar. É possível aprender. E você aprende, dando chance a si mesmo de esperar e ouvir e perceber a vida.

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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