Colunas
Percalços de uma viagem
Confesso que minha adaptação na Itália está sendo mais difícil do que foi na França nesses últimos quatro anos. Tudo bem que o francês é minha segunda língua, mas o fato de o italiano ser muito mais parecido com o português me deu a falsa impressão de que eu não teria problemas na comunicação. Ledo engano.
Castenedolo, apesar de estar colado a Brescia, é uma comunidade com pouco mais de nove mil habitantes, cuja maioria fala o italiano e muitos usam o dialeto da região; esses têm muito boa vontade e procuram nos ajudar, mas quando as palavras têm significados completamente diferentes, tentar recorrer ao inglês ou ao francês de nada adianta, e a vaca vai mesmo para o brejo. Em Brescia, uma cidade com mais de 160 mil habitantes, a coisa fica um pouco mais fácil, mas se esbarra num outro problema, esse de caráter internacional, ou seja, a invasão chinesa no mundo inteiro, principalmente nos estabelecimentos comerciais.
Como a grande maioria das etnias que imigram para outros países, eles falam muito mal e porcamente o idioma local e a conversa vira uma torre de babel. Tenta-se explicar o que procuramos, nosso italiano não ajuda, mas o chinês conhece tanto ou menos do que nós e aí, invariavelmente, ele pede ajuda a outro chinês. Após algum tempo, eles param o diálogo e pensamos que finalmente entenderam o que queremos comprar. Aí o cara chega para você e diz: “Non capisco niente” (“Não entendo nada”). Aliás, eles não fazem a mínima questão de nos vender qualquer coisa, pois nos dão sempre a impressão de que estamos perturbando a paz deles. Numa loja gerida por um italiano ou oriundi, a sensação é completamente diferente, o vendedor sabe que precisa vender e vai fazer tudo para te agradar.
Mesmo que se tenha um parente ou amigo por perto, isso nem sempre é de muita utilidade, pois eles têm a vida deles e muitas vezes não estão alcançáveis, quando precisamos, para nos livrarem de possíveis apuros. Isso também tiraria a graça da coisa, pois o importante é aprender a se virar não importa em que idioma.
Foi assim com a compra do “Lycamobile, Call the world for less”. Trata-se (é uma dica para quem vai ficar mais tempo na Europa ou em qualquer outro país) de um chip implantável em qualquer celular dual. A mim pareceu tratar-se de um WhatsApp pago, pois quando fazemos uma ligação, o desenho que aparece na tela do celular é semelhante ao do uso do “zap zap” discável. O preço do minuto é mais barato do que o de qualquer operadora local e é fácil de ser recarregado. Mas, ele só é encontrado em lan house (na Itália chama-se internet point), ou em tabacarias que fazem recarga de celulares.
A loja que entrei, próximo à estação ferroviária de Brescia, era de uma chinesa que não soube me explicar o funcionamento do mesmo e só tive a certeza de não ter levado gato por lebre, porque já conhecia o produto, indicação de uma sobrinha que mora na Alemanha e o usa muito quando fala com os parentes no Brasil. Além disso, traz instruções em italiano, inglês e alemão.
Por sorte, perto de casa tem uma tabacaria cuja proprietária é uma brasileira de Fortaleza, casada com um italiano e que não só vende e recarrega o chip, como sabe explicar o seu funcionamento. Aliás, foi ele quem fez a primeira recarga do nosso, pois o telefone a ser discado é da Itália, portanto o passo a passo é na língua de Dante Alighieri. Pode-se optar por uma recarga de 5, 10, 15, 20 ou 50 euros. De maneira geral o de dez euros dá direito a cerca de setecentos minutos de conversação.
Já começamos o curso de italiano, mas como só tivemos quatro aulas, o progresso é nenhum. No entanto, melhoramos muito, pois aos poucos estamos aprendendo a falar o segundo idioma da Itália, ou seja, o uso das mãos.
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
Deixe o seu comentário