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Uma pessoa interessante também tem problemas
Não existe pessoa humana sem algum problema ou luta emocional. Há pessoas com melhor controle emocional, melhor consciência de suas limitações pessoais, e com mais clara percepção de como tais limites podem produzir problemas nos relacionamentos e, portanto, se comportam de forma humilde diante de si mesmo e dos outros.
Pessoas prepotentes creem que podem tudo. Talvez algumas não saibam que não podem tudo. Ainda não conhecem seus próprios limites. Acham-se deuses. Mas nós não somos deuses. Podemos algumas coisas e não podemos outras. Pia Melody, num estudo sobre codependência afetiva, disse que nós, seres humanos, somos perfeitamente imperfeitos.
Todos os seres humanos estão em necessidade de equilíbrio mental. “Não há um justo, nem um sequer.” Romanos 3:10. Todos estão constantemente numa necessidade do processo de busca de equilíbrio, que é o que o corpo-mente procura fazer automaticamente. O Criador colocou este mecanismo fantástico em nosso organismo que se chama “mecanismo homeostático”, que procura o equilíbrio novamente quando o perdemos, seja no que for, em relação à fisiologia humana.
É muito comum, ao conhecermos uma nova pessoa numa reunião social, no trabalho, na igreja, na internet, criar a imagem de que ela é perfeita, mesmo sabendo racionalmente que ninguém é perfeito. Quando a emoção toma conta da mente, como numa paixão, é mais fácil crer que aquela pessoa “interessante” é a ideal para o convívio.
Isto ocorre com muita frequência com pessoas casadas que se sentem frustradas na relação conjugal. A dor da frustração com o esposo ou com a esposa facilita crer que “lá fora” haverá alguém “perfeito” para encaixar no desejo pessoal ou no modelo de pessoa que há na mente de cada um. Porque a paixão é isto, ou seja, a pessoa sob o domínio da paixão acredita que o indivíduo que ela conheceu e por quem está apaixonada é igual à pessoa que há na imaginação dela. Você se apaixona pela imagem ou pelo modelo que está na sua cabeça, que pode ser bem diferente do que o outro indivíduo é na realidade.
Quando, então, em algum lugar virtual ou real, encontra-se alguém que parece ser uma pessoa “interessante” (que pode ser mesmo interessante), há o perigo de começar-se a criar fantasias de relacionamento feliz com tal pessoa. O problema é que pode não ser fácil pensar nesse início de conhecimento do outro que este outro, ainda que se mostre como uma pessoa interessante, também deve ser portador de alguns defeitos de caráter e limitações emocionais ou comportamentais.
Há estudos científicos sobre relacionamento conjugal que revelam que quando um casamento se rompe e cada cônjuge não se permite ter um tempo para elaborar a perda, conhecer o que houve que produziu o rompimento da vida matrimonial, entender o que é o problema pessoal que contribuiu para a falência daquele relacionamento, a tendência é de que 60% dos novos relacionamentos serão rompidos outra vez.
O que ocorreu, então? Aquela pessoa que parecia ser tão interessante e que criava uma esperança de relacionamento perfeito foi parar aonde? O que mudou? Por que não deu certo de novo?
A verdade é, então, que cada ser humano, rico ou pobre, com ou sem cultura, de qualquer raça, nacionalidade e religião, tem limites, não é perfeito, necessita de mudança interior para tornar-se uma pessoa melhor. Necessita abandonar defesas disfuncionais em seu comportamento que criam barreiras entre ela e ela mesma e entre ela e outras pessoas, precisa de mais equilíbrio e mais saúde.
Mais que isso, ela precisa de uma mudança do coração, da renovação do entendimento, de uma transformação espiritual. Não coloque sua esperança final e total num ser humano. Porque uma pessoa interessante também tem problemas.
Cesar Vasconcellos de Souza
Saúde Mental e Você
O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.
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