Nova Friburgo - Duzentos mais já vêm

sábado, 16 de maio de 2015

Diferentemente de qualquer outro lugar, aqui não é preciso olhar para o céu, porque o céu está no meio de nós. As estrelas passeiam em volta de nós, e em dias de inverno dançam à nossa volta protegidas pelas montanhas.

Estamos suspensos de tal forma que não sei denominar o que está no alto. Seria o além-céu? O infinito? O que sei é que vivo em um lugar místico, encantador, mágico. Essencialmente, mágico.

Nossos passos caminham com fé. Nossas pontes são encontros com sonhos. Nossos rios derramam poesia. Três Picos é o nosso arranha-céu, ou melhor, além-céu. Catarina é uma donzela altiva apaixonada pelo Imperador. Caledônia é o conciliador.

No centro geodésico do Rio nascem eucaliptos que, ainda que decapitados, reforçam nossa esperança de novos tempos, sem perder-se da identidade de pioneira, de vanguarda, de quem sabe dar a volta por cima. Nascerão de novo no renascer de quem leva o Nova até no nome. Serão outros duzentos. Em breve. Suspiram, pois, a saudade, o ciúme e o amor. Três sentimentos numa mesma fonte. Saudade, ciúme e amor, três exclusividades tão humanas. Acalorados pelo dinamismo cultural de suas colônias, não podem nos definir como uma coisa só — somos múltiplos, plurais.

Tem cheiro de mato... Atlântica na Atlântida do coração de cada um de nós. Deslizam suaves suas cachoeiras e cascatas. É um vale com um rio no meio. É um rio que, manso, faz silhueta pelos grandes contornos de suas montanhas... Nele se encontram, cantam, se espalham em vales de luz que se derramam para iluminar o seu chão.

Difícil não te amar. Incoerente é não brigar por você. Porque quem ama luta e na luta insiste, teima e não se retira. Reitera. Canta com Benito. Bendito seja o amor que te sustenta.

Flores de maio não morrem. Há flor que se come nas cores de uma Salinas que é verde. Conquista um Campo do Coelho de morangos bem vermelhos. São Pedro que é da Serra rogai por nós na sua dança. São Jorge, São Geraldo, Santa Bernadete também. São João Batista mostra-nos o caminho pelo seu exemplo no Centro de nossa fé. Lumiar nos guia no limiar de sua Boa Esperança. Há uma Olaria que não faz tijolos, mas produz expectativas e sonhos. Mury acena ao Conselheiro que guerreiro diz: no esforço de sua gente, abriremos as fechaduras do futuro para ser melhor do que é, com tudo que pode ser — Nova Friburgo.

É tricolor a serra! Friburguense leva seu nome a todo canto e encanto. Veste-se de suas paixões a história de quem é Serrano, esperancista, Fluminense de Friburgo — Nova Friburgo. Chuta para escanteio aquilo que já não serve mais e recomecemos com o talento de quem sabe se reinventar. De tempos em tempos é preciso e mais um desses tempos nos chegou e devemos nos achegar a ele.

Não perdeu o sentido, no entanto, a poesia do poeta que outrora no seu encanto revelou: “parada de um caminho a caminho do céu”. Estamos no céu. Nessa terra flutuam estrelas entre os nossos pés. A Maria já não tem fumaça, mas de seus rastros esparsos há memória. Os trilhos ainda estão lá na Serra, em Riograndina, no Amparo de suas histórias. Nas suas ruas e avenidas nomes da sua biografia, protegidos por suas centenárias escolas. Amarelo palha. Catedral olha para a torre do saber. Palmeiras protegem José. Cadê o “Zé”? Doroteia protege Anchieta que Mercês por ele se criou. El-Jaick e Rui Barbosa são parceiros. Modelo é Santa Ignez na saudade de uma Fundação que de Nova Friburgo se cativou.  

De uma ponta vem o som da Campesina. Da outra, Euterpe já chegou. Tocam juntas, quem diria, o salvar das brenhas de um Morro Queimado que triunfou. A Vilage aprende e ensina a um Alunão que de Saudade se vê Imperatriz e cada um ao seu tempo pode reinar também. É o povo do samba nas calçadas e esquinas. São as veias de uma aventura que ainda não terminou. Quem puxa o enredo da sua biografia é uma Voz da Serra que nunca se calou.

Do tear de suas fábricas, a moda é íntima. No fundo de quintal, costureira, de repente, te faz capital. No mar da dificuldade, quem diria, metal, rural, cartão-postal... Impossível te definir se não como múltipla. E essa declaração de amor em parte advém de si mesma, que é inspiração inventiva que não precisa de poeta para poetizar.

De um janeiro que não se esquece, o inverno aqui é quem anuncia: um novo sol já vem. Serão novos duzentos de poesia. Lágrimas de verão não se verão mais. Renascimento. Serão outros duzentos. Serão duzentos mais. Na esquina dos nossos sonhos, duzentos mais já vêm...

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Wanderson Nogueira

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

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