Colunas
Croniqueta
O glamour das croniquetas mudam, como mudam as flores da primavera. Como muda a pena do Pongeti, abençoando o Dedo de Deus, para aqueles que tiveram a sorte de ler a manchete por suas páginas coloridas. Como muda a Remington do gordo Maria, alcoolizado cantando Amália Rodrigues: “Sabe-se lá, o amor o que virá!”, andando trôpego pelas ladeiras de Lisboa, como se em Recife estivesse. Como muda o texto esportivo do Jacinto de Thormes, narrando um gol de Ademir, o “queixada”, arrancando do meio-campo até golear na marca do penalty. Muda quando a “solidão lhe vai ser ainda mais difícil de suportar do que é habitual”, como diriam as profecias de Rainer Maria Rilke. Muda quando a Clarice fala do “prazer do trabalho”: “Não gosto das pessoas que se gabam de trabalhar penosamente. Se o seu trabalho fosse assim tão penoso mais valiam que fizessem outra coisa. A satisfação que o nosso trabalho proporciona é sinal de que soubemos escolhê-lo”. Muda quando os dias lindos de Drummond alertam sobre o “dizer e suas consequências”: “Muitas coisas se dizem, que não deviam ser ditas, muitas outras se calam, que não mereciam calar-se. As palavras são as mesmas, em um e outro caso; só a conveniência delas, na circunstância é que varia”.
O glamour das croniquetas muda, quando o Zózimo Barrozo do Amaral redige para o Ibrahim Suede textos no estilo único de sua coluna. Nelson Motta é outro que também colaborava enviando textos para o Ibrahim. Suas palavras davam um colorido todo especial, já que tinham uma outra abordagem, mais jovem, com outros termos e novas referências. Muda o glamour quando o mestre dos mestres, Fernando Pessoa, diz que “são horas talvez de eu fazer o único esforço de eu olhar para a minha vida. Vejo-me no meio de um deserto imenso. Digo do que ontem literariamente fui, procuro explicar a mim próprio como cheguei aqui”.
O glamour da croniqueta lhe dá esta vantagem. Você pode escrever sobre o que quiser, com nexo, sem nexo, grande e pequena. Pode deixar as ideias fluírem sem compromisso, com estilo, com estética, enfim, deixar a bic correr ao sabor dos pensamentos. Deixo aqui minha homenagem ao grande Antônio Maria, que tive o prazer de conhecer e me tornar amigo em suas andanças por Friburgo. Fazia pra ele uma espécie de sex relations, reservando hotéis para suas visitas semanais à serra, cada qual com uma gata, sua inspiração do momento.
O domingo de maio estava frio e Benoni abriu a loja para suas compras de inverno. Ele escreveu no Globo que o comércio de Friburgo abre aos domingos para recebê-lo e fez referência ao locutor que vos fala. Tenho saudade do grande Maria. E para terminar, o glamour da croniqueta muda. Ainda bem que isso existe e a gente pode soltar as loucuras todas.
P.S. No tempo que eu ralava em Friburgo no carro de som, Candinho Figueiró trocava as baterias pra mim. Tenho saudade dele.

Jorginho Abicalil
Recado de Jorginho Abicalil
Como era Friburgo antigamente? O que o tempo fez mudar? O que não mudou em nada? Essas e outras questões são abordadas, aos fins de semana, na coluna “Recado de Jorginho Abicalil”, onde o cronista relata a Nova Friburgo de outros carnavais.
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