Limonada e oportunidades

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Crise é igual ao conceito de concorrente. Melhor sem, mas já que existe, tiramos proveito. Limonada é a palavra de ordem, afinal, se o horizonte são limões, que façamos limonada.

A primeira característica de uma crise, que pode ser muito vantajosa, é peneirar o mercado. Só os fortes, os mais bem adaptados saem saudáveis de uma crise, ou ao menos vivos. Os lentos, os frágeis e ultrapassados tendem a morrer. Outra grande característica de uma crise é a mudança de status quo, ou seja, o que deu certo até agora pode ser que não dê mais. Isso permite oxigenação do mercado, novas mentalidades, mais bem adaptadas à nova e mutante situação.

Portanto, acredite, seu negócio pode estar ameaçado ou com uma grande oportunidade pela frente. Seu concorrente pode ser seu algoz ou finalmente vai sucumbir frente a essas dificuldades, deixando tudo limpo para o próximo ciclo de crescimento que deve recomeçar em um ano e meio ou dois.

De cara o que conseguimos ver é como uma crise modifica o mercado gerando alegria de outros mercados que prosperam na crise. Transporte público se amplia na crise. A falta de dinheiro que banque o combustível nosso de cada dia empurra multidões a mais para dentro de ônibus já lotados. Venda de consórcio prospera, na mesma perspectiva. Com a alta dos juros a taxa de administração, relativamente, abaixa e torna um produto ruim, “menos ruim”.
Deste modo é preciso entender que o mercado não acaba, ele migra, muda, modifica e se ajusta, sempre se ajusta. 

Viagens ao exterior serão fortemente prejudicadas pela alta do dólar, mas viagens no Brasil tenderão a crescer. Férias de final de ano serão no Brasil para quem ia ao exterior, e serão no próprio estado para quem ia para outro estado, o que é ótimo para o mercado interno do turismo. Novos clientes, portanto, serão conhecidos, talvez clientes um tanto frustrados, é verdade, mas clientes. 

Claro que há uma imensidão de problemas nisso tudo, e que muito do que estamos passando e vamos passar é consequência de uma péssima administração motivada por objetivos eleitoreiros e que poderiam ter sido evitados, mas se o que nos restou foram limões e roubalheira, que façamos limonada e pensemos 10 vezes antes de reeleger qualquer um que fez parte de tudo isso.

O mercado está se reorganizando, o consumidor está reaprendendo a consumir, reescrevendo sua lista de prioridades e interesses. Quem fez um bom trabalho de fidelização durante os bons ventos tem mais chance de ser guardado na nova lista de prioridades durante o mormaço. Marcas de maior força no mercado terão maior lembrança e maior desejo e preferência. Quem tem dinheiro em caixa poderá anunciar numa relação custo-benefício melhor agora. Se não por melhores preços, por um momento de mídia mais limpa e menos concorrida. Pode ser a hora de ser um ícone de desejo, quando a maré virar, multidões virão em busca de sua marca, produto ou serviço.

O consumidor em mudança migrará de mercado, penetrando em novas searas e conhecendo e experimentando novos produtos e marcas, por força de um orçamento menor ou nova vizinhança, novos percursos. O mercado de autoestima tende a crescer; diante de ausência de prosperidade na própria vida, um banho de autoestima pode compensar altas doses de frustração. Lembre-se. Haverá oportunidades!

O fato é que não gostamos de mudanças, em especial mudanças que tiram de nós conquistas. Mas mudanças trazem oportunidades, e oportunidades são um futuro por escrever. Portanto peguemos os limões e a caneta e vamos escrever um futuro melhor do que andam planejando para nós, regado a uma doce limonada.

“Roberto Mendes é publicitário, especialista em marketing pelo Instituto de Administração e Gerência da PUC/RJ, professor titular da Universidade Candido Mendes e sócio da Target Comunicação.”

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