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O que é uma pessoa boa para a educação?
Creio que todos os ministros escolhidos para as várias pastas do executivo federal devem ser pessoas “boas”. Esta afirmação da Presidente da República responde a uma série de indagações e, ao mesmo tempo, deixa um vazio no ar. O que será ser bom para a educação?
Se um ministro é esperado, entre outras coisas, para fazer ajustes políticos nas bancadas e ser um articulador no entrosamento entre o executivo e o legislativo, então ser um “bom” ministro extrapolaria a ação específica conforme cada pasta.
Espero que esta pessoa “boa”, na expressão da primeira mandatária, seja afinada com os avanços que a educação brasileira requer. Nossos problemas são múltiplos e dependem da vontade política dos executivos municipais.
Só no Maranhão, por exemplo, há 1.092 escolas em estado de calamidade e, num determinado município, a única escola nova e pronta para funcionar está fechada por questões de embates políticos entre o governo municipal anterior e o atual.
Estas questões não deveriam mais existir porque há verbas para esse fim. Um bom ministro deverá incrementar o avanço das universidades federais para o interior e o saneamento em relação ao sucateamento sofrido pelas universidades mais antigas.
Um bom ministro, além de ser um articulador entre reitores de várias unidades, precisa com urgência estabelecer pontes que permitam a formação continuada dos professores de nossas graduações, com reflexos diretos sobre os formandos em cada unidade.
Enquanto alguns países já avançam para eliminar as disciplinas e estabelecer currículos com base em fenômenos ou temas transversais, nós ainda engatinhamos no cartesianismo que picota tudo o que encontra pela frente.
Um bom ministro precisaria voltar um pouco no tempo para verificar que o relatório Faure de 1971 não foi colocado em prática e que o outro grande relatório solicitado pelo governo Mitterand e abraçado pela Unesco, conhecido como Religação dos Saberes, coordenado por Edgard Morin, também teve caminho direto para as prateleiras das bibliotecas.
O Brasil tem na pessoa do educador Paulo Freire, o patrono da educação; no entanto, quando se trata de alfabetizar brasileiros, o método preconizado por Freire não é usado e nós amargamos uma quantidade expressiva de analfabetos puros.
A carreira do magistério não é atrativa e os municípios e estados mal conseguem pagar o piso nacional. Qualquer aumento dependerá ou da federalização dos salários ou de uma reforma tributária. E também nesse aspecto o novo ministro terá que agir.
Um “bom” ministro para nossa educação terá de ser tudo isso e mais alguma coisa. Não será uma tarefa fácil. Mas, se dele for exigido além de tudo, ser articulador político, as vinte e quatro horas de cada dia não serão suficientes.
Hamilton Werneck
Hamilton Werneck
Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.
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