Ratos à solta na CPI da Petrobras

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Em número muito menor do que seus congêneres da atual CPI da Petrobras, os cinco roedores, dois camundongos, dois esquilos da Mongólia e um hamster, soltos na sala onde se desenrolava a sessão, ficaram apavorados. Acostumados a agir no silêncio e no escuro, os pequenos quadrúpedes se viram cercados por bípedes enraivecidos, mas cônscios de que o promotor de tal brincadeira de mau gosto dava seu recado curto e grosso.

Símbolo da sujeira, transmissores de doenças e proliferando em locais insalubres, os ratos são também um substantivo usado para, de modo pejorativo, designar aqueles que roubam, trapaceiam ou são destituídos de moral e ética. Como 37 políticos, entre deputados e senadores, foram citados na operação Lava Jato, a metáfora (se bem que fora de hora) foi usada para dar a ideia de que cinco ratos a mais ou a menos fazem pouca diferença. Se, pelo contrário, foi um ato apenas para tumultuar os trabalhos, manobra típica daqueles que têm medo de que a verdade seja apurada, a situação é mais grave e mais preocupante.

O mais triste é que esse episódio correu mundo, amplamente divulgado pela imprensa internacional, denegrindo ainda mais a imagem que se faz do Brasil no exterior. Diga-se de passagem que o mundo político é um capítulo à parte nas democracias atuais, com casos de corrupção espocando em países muito mais sérios que o Brasil, mas com a diferença de que os corruptos, quando apanhados, são destituídos de pronto de suas funções públicas, até que se prove o contrário. Não existe o subterfúgio de renunciar ao mandato para não ser cassado e voltar à vida pública nas eleições seguintes. Em alguns países como o Japão, por exemplo, os flagrados em ato de corrupção explícita chegam a cometer haraquiri, suicídio de honra, que consiste em abrir o próprio ventre com uma adaga. Se a moda pegasse por aqui, haja urna funerária.

Tal baixaria se deu quando o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, chegou ao plenário para ser inquirido por sua atuação à frente do partido, daí ter sido incluído na operação Lava Jato. Aliás, é o cargo ideal que eu indicaria sempre para um inimigo: tesoureiro do PT. No mensalão, o condenado foi Delúbio Soares; agora a bola da vez é Vaccari. Todos manipulando altíssimas somas em dinheiro, contribuições ditas legais para as campanhas eleitorais. O interessante é que todas as empresas que engordaram o caixa do PT estão arroladas na Lava Jato, com muitos diretores presos, na Polícia Federal do Paraná.

Aliás, CPI é uma farsa, uma verdadeira ópera bufa. Convocados, como foi o caso do ex-diretor da Petrobras, Renato Duque, podem se negar a responder às perguntas e ficarem mudos horas e horas. No entanto, somos nós, com o pagamento de nossos impostos, que arcamos com a despesa de transporte do preso, do Paraná até Brasília. É um silêncio muito caro.

No caso de João Vaccari Neto, assistimos a uma comédia, pois o tesoureiro alegou ter ido a uma reunião com o doleiro Alberto Youssef, hoje preso no Paraná, em seu escritório, mas que não sabia o motivo do encontro e que ao chegar lá, ele não estava. Isso é no mínimo estranho, como uma pessoa é convocada para uma reunião sem saber o horário e a pauta da mesma? Disse ainda que nunca esteve no prédio da Petrobras e que tudo o que o ex-diretor Pedro Barusco e os outros delatores falaram a seu respeito não é verdadeiro. Um pobre inocente.

Na confusão reinante, quando os cinco roedores foram soltos, um deles se feriu; o animal está bem, mas com uma das patas traseiras levemente machucada. Foi adotado por uma assessora da Câmara dos Deputados. Aliás, esse tipo de rato ainda podemos ter em casa sem susto.

TAGS:

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.