Colunas
Nandinho
Nandinho é como eu chamava o Geraldo Namen, para papos estranhos que ninguém entendia, nem nós. Era no Escondidinho, quando a tarde caía. Ele dava início.
— Gio, o gol do Larry no domingo...
— O comandante foi o Bin.
— Para, para! Cante aí o Antonico.
— "Oh! Antonico, eu vou te pedir um favor que só depende da sua boa vontade…” — e eu ia até o final…
— Diga aí os melhores goleiros de Friburgo.
E eu na lata:
— Borracha, Cabrita, Gildo…
— Para, para… Leva aí uma do Mário Reis.
E eu sem titubear:
— "Ora vejam só a mulher que eu arranjei. Ela me faz carinho até demais, chorando ela me pede: ‘Meu benzinho, deixa a malandragem se és capaz!’”
— Para, para… Sabe que o Jael vai para o Fluminense?
E eu mais uma vez:
— Ele fica lá um ano, depois volta, porque…
— Para, para… Leva outra do Mário Reis.
— Pronto, segura lá: "Você partiu, saudade me deixou, eu chorei, nosso amor foi uma chama que o sopro do passado desfez…
— Para, para! O Binha botou o golinha na lateral.
Eu argumento:
— Mas ele cai pela ponta e aí…
— Para, para, leva uma que eu não sei.
E eu firme:
— "Será feliz quem nessa vida tão ruim, encontrar uma amizade e conservá-la até o fim. Porque no mundo em que vivemos hoje em dia…”
— Para, para… O Leoni vai estrear domingo.
E eu em cima do lance:
— Eu vi o treino.
— O cara é um becão, mas…
— Para, para, tá faltando o Noel nesta roda.
— Vamos lá: "Quem nasce lá na Vila sem sequer vacila ao abraçar o samba e…”
— Para, o restaurante vai fechar. Amanhã, quando a tarde estiver caindo, eu tô chegando.
— Mas quando é que eu vou poder falar?
— Hora nenhuma. É que você cantando é melhor que falando — e saía com seu passo jingado em direção ao armazém, me deixando falando sozinho. Agora, Flávia, coloque no telefone a música: "Amigo é pra gente guardar, do lado esquerdo do peito!”
Um vento forte lustrou a foto perto do telefone. Nandinho, Tatá, Aucar, Coelhinho, Laercio, Gilberto e Jorginho. Vou mandar ampliar e colorir, é a maneira que tenho de conversar com o Nandinho, se é que ele vai me deixar falar.
Jorginho Abicalil
Recado de Jorginho Abicalil
Como era Friburgo antigamente? O que o tempo fez mudar? O que não mudou em nada? Essas e outras questões são abordadas, aos fins de semana, na coluna “Recado de Jorginho Abicalil”, onde o cronista relata a Nova Friburgo de outros carnavais.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
Deixe o seu comentário