Doutor Amâncio

sábado, 28 de março de 2015

O Doutor Amâncio não gostava de perder. Nem no futebol e nem na política. Não levava desaforo pra casa. Se o back entrasse duro numa dividida, na próxima ia ter forra. E assim também era na política. A primeira ofensa nunca era sua, mas a resposta vinha sempre à altura. O seu pequeno consultório vivia lotado de gente, e ele calmamente atendia a todos, não importando se o pagamento era "cash” ou se lhe agradeciam com um abraço e até logo. Tinha uma variedade de amostras grátis que eram distribuídas carinhosamente aos mais necessitados. Tinha por objetivo na vida honrar o nome do velho Jerônimo, autor do enredo e criador do Espelho Friburguense. Na prefeitura atendia a todos, sem promessas; o caso mais simples era solucionado na hora e pros mais complicados, pedia tempo para estudar. Tinha uma mania que o deixava mais politizado do que era: lia a coluna do Castelinho, articulista do JB, por dentro dos meandros da política. Vivia política, esporte e medicina intensamente. Pra tudo tinha uma resposta na ponta da língua. Foi um verdadeiro médico dos pobres. Sua visão pecuniária era modesta, às vezes até ajudava na compra de remédios. Era um líder verdadeiro que ouvia a opinião dos seus liderados. Nos projetos mais intrincados da câmara pedia a opinião de Walter Azevedo, mais apimentada, e Ventura, mais pragmática. Aí, seu "feeling” é que ordenava e daquela mixagem extraia a tomada de posição. A medicina vinha progredindo muito  e ele despontava como um grande clínico. E olha que naquele tempo não existiam os super especialistas de hoje, o médico tinha que ter uma cultura geral da medicina. E assim foi o Amâncio, auscultador do corpo humano e prefeito obcecado pelo objetivo de atender a cidade, o campo e, principalmente, os mais necessitados. Foi deputado estadual três vezes, reflexo do agradecimento do povo ao seu trabalho. Até hoje, nos problemas maiores que surgem, tem sempre uma palavra que diz "tá faltando o Dr. Amâncio aqui”. Foi um homem que deixou saudade pela sua sensibilidade e uma vontade enorme de botar Friburgo pra frente e pro alto. Em cada rua, viela ou praça, tem um pouco dele. O asfalto fala por ele. O problema de água resolvido fala por ele, assim vai, com tudo que construiu e que nos lembra o nome que entrou para a história da cidade. O doutor Amâncio foi um orgulho friburguense. Seu Jerônimo e sua mãe já diziam com a boca cheia: "este é o meu filho.”

 

 

 

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Jorginho Abicalil

Jorginho Abicalil

Recado de Jorginho Abicalil

Como era Friburgo antigamente? O que o tempo fez mudar? O que não mudou em nada? Essas e outras questões são abordadas, aos fins de semana, na coluna “Recado de Jorginho Abicalil”, onde o cronista relata a Nova Friburgo de outros carnavais.

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