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Como duas pessoas diferentes podem se dar bem no casamento?
quarta-feira, 18 de março de 2015
Casamento é uma união de duas pessoas diferentes. Eu disse "diferentes”. Como assim? Um é macho, outro é fêmea. Um veio de uma família com muita comunicação, e o outro de uma família onde não se falavam. Um gosta de aventura, outro de coisas previsíveis. Um adora praia, outro prefere montanha. Um quer sexo todos os dias, outro se satisfaz com uma vez na semana, ou menos. Como dar certo com estas e outras diferenças?
O problema não é a diferença, e sim como será vivida por cada um. A diferença pode servir para unir ou separar. Pode encorajar cada um a caminhar no sentido de se esforçar para se aproximar do agrado do outro, o que facilitará o crescimento pessoal.
Se você é uma pessoa muito calada e se casa com alguém muito falante, o que é calado, ao se esforçar para falar, terá uma melhora gradativa em sua dificuldade de comunicação e vai vencendo o fechamento pessoal. O que é falante, ao fazer esforço para se calar e ouvir mais, expande sua personalidade no sentido de desenvolver a serenidade, a empatia.
Parece que há diferenças que nunca serão igualadas na vida matrimonial. E isto não é um problema. A individualidade é algo que não pode ser destruído no casamento e ela significa que você prefere algo que pode ser diferente do que seu cônjuge gosta. Você pode ser, por exemplo, introvertida e preferir ficar mais tempo sozinha do que com gente em volta, e seu cônjuge pode preferir estar a maior parte das vezes rodeado de gente. A individualidade neste caso significa que cada um pode continuar a ter sua preferência sem anular a si mesmo, embora possa desenvolver flexibilidade.
Exemplo: o introvertido se contenta em ter amigos para almoçar num fim de semana que vão à sua casa uma vez por mês. O extrovertido gostaria de receber pessoas todo fim de semana. Como conciliar estas diferenças, que são parte da individualidade? Ambos, marido e mulher, precisam conversar sobre o assunto e tentar chegar a um acordo, a um meio termo, nem oito e nem oitenta. Por exemplo: receberão amigos a cada três semanas.
As diferenças no casamento se devem também às formas diferentes de pensar, de lidar com as emoções que cada um possui. O pensamento masculino em geral é mais lógico (não é necessariamente mais inteligente), enquanto que o feminino é mais emocional. Dois estudantes de uma faculdade moram numa república e decidem fazer uma salada para o almoço do domingo em casa. Ao se sentarem para comer, um pergunta ao outro, apontando a travessa de salada: "Onde você comprou esta alface?” O outro responde racionalmente: "Comprei na feira hoje”. Pronto. O assunto encerrou.
A esposa faz uma salada no domingo em casa, ela, o marido e os filhos sentam-se para almoçar e ele pergunta: "Querida, onde você comprou esta alface?” E ela, fazendo uma face de curiosa e de dúvida, diz: ”Por quê? O que achou da alface?”. Ela interpreta de uma forma subjetiva a pergunta do marido, em vez de objetivamente, daí não responde, como o rapaz na república, que comprou na feira e pronto.
Não é sem motivo que casamos com pessoas diferentes de nós quanto ao aspecto emocional. Um descontrolado se casa com uma pessoa organizada. Um falante se casa com um trancado. Uma pessoa assertiva se une com alguém passivo. Uma pessoa imatura, que age como criança, se casa com uma que adota um papel de pai ou de mãe. Os encaixes podem ser saudáveis ou não.
É possível olhar estas diferenças e procurar harmonia. Isto começa por aceitar que o outro é diferente e não ficar ressentido por isso. Começa quando você olha para a vida e entende que o casamento é uma das coisas na vida, mas não a vida em si. Sua vida tem outras coisas muito importantes sem ser seu marido ou sua esposa. É como uma estante com várias prateleiras. Existe a prateleira do casamento, a dos filhos, dos seus parentes da família de origem, do seu trabalho, da sua prática religiosa, do seu lazer preferido, dos seus estudos escolares, etc. Veja que, nesta ilustração, o casamento não é a estante! Se você aceita isto, possivelmente a frustração por conviver com alguém diferente poderá ser minimizada justamente porque você poderá se concentrar nas outras "prateleiras” da sua vida sem ficar obsessivo(a) pelo cônjuge.
Cesar Vasconcellos de Souza
Saúde Mental e Você
O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.
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