Mídia e marketing

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

A mídia é o quarto poder, não necessariamente em ordem de valor. Sua capacidade de preservar ou expor os agentes públicos ou privados em determinados lugares do mundo ou da história dá a ela a posição líder em diversos momentos. Não à toa a mídia é imediatamente cerceada no caso de um governo ditador, afinal, manter a opinião pública ou do público que assiste passivamente o mundo girar é determinante para fazê-lo ir em velocidade e direção adequadas aos interesses do poder.

Dois fatos curiosos na mídia chamaram a atenção nas últimas semanas. A visibilidade dada ao Estado Islâmico, com suas atrocidades e recrutamento. Não que o que eles façam não importe ou não impacte sobre todos nós, mas pelo fato de exibirem as imagens tão inadequadas e tão desejadas pelo próprio Estado Islâmico e pela imensa visibilidade dada aos jovens recrutados. Tudo que eles querem é que o mundo assista as estas cenas bárbaras e os jovens desejam é essa notoriedade; assim, o que a mídia faz é exatamente reproduzir e propagar tudo isso. Desta forma, a dedicação da mídia em cobrir o que é bruto, selvagem e chocante é a motivação para a perpetuação da maldade e da covardia ou para o êxodo de jovens que já chega a 3mil europeus. Claro que seria também covarde culpar a mídia de forma unilateral, ela sempre exibe o que o público quer ver, saborear...

Outro fato curioso que a mídia andou saboreando foi a execução de brasileiros na indonésia. No Brasil, morrem diariamente mais de 90 brasileiros por morte violenta, em sua maioria por tiros, tiros mais covardes, sem julgamento e sem glamour de uma viagem internacional. A mas dá a um camarada, que resolve ficar rico da noite para o dia, viajando para um país onde sabidamente tem leis absolutamente duras contra o tráfico de drogas (porque não quer que suas crianças e jovens pobres se matem ou morram por causa da diversão de jovens e adultos ricos), é pego, julgado e condenado e a mídia o trata como vítima. Não foi uma decisão de impulso, foi algo altamente premeditado, havia riscos e eram conhecidos.

A mídia deu tanta visibilidade a isso que chegou a gerar um incidente diplomático, uma vez que a nossa presidente se recusou a receber as credenciais do novo embaixador da Indonésia no Brasil e agora a Indonésia ameaça não comprar mais os aviões da Embraer, um dos poucos bolsões de excelência neste país, tudo porque um traficante foi preso, julgado e será executado, como tantos outros já foram na Indonésia.

Será que é certo movimentar tanto esforço por quem voluntariamente entope sua prancha de surf de drogas e pega um avião? Será certo ignorar tantos que, por absoluto descaso das políticas públicas, têm seus filhos forcados a flertar com o tráfico em favelas e comunidades onde o poder público não entra, ou seria melhor dizer, não dropa, toma caixote e afoga-se!?

O fato é que a mídia está sempre escolhendo o assunto do momento e quem assiste parece ficar sempre passivamente recebendo o menu de assuntos, sem medir interesses e sem medir a moral, a ética, a lógica e outros parâmetros por onde o pensamento deveria ser construído e reconstruído.

O fato é que o pensamento não interessa a mídia em geral e principalmente aos outros três poderes. Assim, temas supérfulos ou contraditórios poderão ser escolhidos a esmo e transformados em relevantes; assuntos desconexos com nossa realidade se tornam importantes e os realmente importantes se aproximam do desconexo. Enquanto falamos de superficialidades o que importa segue sem solução, enquanto assistimos e reapresentamos o mar manchado de sangue, o mal se repetirá e seguiremos emprestando atenção a este mal, enquanto traficantes disfarçados de surfistas posam de vítimas, segue morrendo uma legião de anônimos e desamparados sem prancha de surf e sem passaporte. 

Quem acredita que a mídia representa sempre a opinião pública, precisa entender que via de regra ela cria e dirige a opinião do público. 

Muita informação que circula por aí vem com interesses específicos e duvidar disso fortalece a prática de uma mídia desfocada. Acreditar em tudo que se vê, ouve ou lê é continuarmos comprando droga achando que só o traficante está errado.


"Roberto Mendes é publicitário, especialista em marketing pelo Instituto de

Administração e Gerência da PUC/RJ, pós-graduado em Engenharia Ambiental,

professor titular da Universidade Candido Mendes e sócio da Target Comunica


TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.