Ministro da Justiça se compromete ao receber advogados de corruptos

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Num governo em que o presidente da República fez uma visita oficial a uma das ditaduras mais longevas, corruptas e sanguinárias da África, a título de abrir mercados para o país; justamente em um território no qual esse mesmo cidadão, agora ex-presidente, mas como embaixador honorário de sua sucessora, voltou a visitar a Guiné Equatorial, em 2011, levando a tiracolo um dos diretores da Odebrecht — empreiteira atolada até o pescoço no escândalo da Petrobrás — não é de se estranhar o comportamento esdrúxulo e comprometedor do ministro da Justiça, Sr. José Eduardo Cardoso, ao receber em seu gabinete advogados dessa mesma empreiteira investigada no esquema de corrupção da Petrobras.

Numa recente entrevista aos jornalistas Chico de Góis e Sérgio Fadul, do jornal O Globo, esse cidadão foi perguntado: "Não é estranho eles [os advogados] pedirem um auxílio do ministério sobre o DRCI (Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional) justamente depois de serem acusados de pagar propina para o esquema do Paulo Roberto [diretor da área de abastecimento da Petrobrás, preso e beneficiado pela delação premiada]?” A sua resposta deixa bem claro que José Cardoso não entendeu o seu papel como ministro de estado, ao responder: "A mim não cabe fazer qualquer juízo de valor sobre isso. O que um advogado tem é o direito de fazer um pedido em nome de seu cliente. Se ele faz o pedido, cabe a mim apreciar se esse pedido é procedente ou não. Não me cabe julgar as razões que motivam alguém a fazer determinado pedido”. 

Ministro não tem de julgar nada, nem advogados têm de se reportar diretamente ao ministro da Justiça para pedir alguma coisa referente a processos. Para isso existem os tribunais de Justiça, as instâncias superiores, o STJ e o STF. Ou nos dá o direito de pensar que tais pleitos têm o objetivo de usar a influência do ministro para aliviar a barra de transgressores da lei, da ética e da moral, o que não seria de se espantar nos governos atual e anterior, sob a tutela nefasta do PT. Além do mais, se eu ou você, leitor, nos dirigíssemos ao Sr. José Eduardo Cardoso para pleitear algo junto à Justiça, seríamos ignorados solenemente. Afinal, não contribuímos com altíssimas somas para sustentar o PT e suas campanhas eleitorais.

O Brasil é hoje um país desacreditado, à beira do colapso financeiro e, o que é mais grave, da falência moral; mas o triste disso tudo é a compreensão de que seremos nós a pagar a conta, como sempre. Creio ser essa a grande falha da democracia, ou seja, não ter previsto que o alto custo da lambança dos governantes teria de ser pago por eles e não pelo povo. Povo esse na maioria ignorante, pois a boa educação lhe é negada, intencionalmente, daí a grande maioria não ter a mínima ideia da gravidade do momento atual. Mas, como diz meu filho mais novo, no dia em que faltar a cerveja, aí sim, o povo se revolta.

No entanto, o mais surpreendente é a passividade da sociedade diante do grave problema por que passa o país. Temos todos os elementos para convocar a presidente da república a explicar — e sem subterfúgios — sua atuação inconsequente e irresponsável como chefe de estado. Presidente do Conselho Administrativo da Petrobrás assinou, sem contestação, a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, contrariando a opinião de técnicos da estatal, com certeza aqueles que não tinham sido indicados por Luís Inácio e correligionários do PT. Dinheiro jogado fora. Em campanha eleitoral, mentiu descaradamente para aquele segmento da população que nos referimos acima e, foi com eles que conseguiu os votos para sua reeleição. Acintosamente, ridicularizou a população culta do Brasil, ao tentar imputar a culpa pela corrupção que assaltou a Petrobrás ao governo anterior de Fernando Henrique Cardoso, que graças a Deus não tem codinome para ser lembrado. Usa e abusa da tentativa de fazer crer que a crise atual é fruto do movimento das elites em prol da privatização da Petrobrás. 

Ou seja, tem-se em mãos todos os elementos para a convocação de uma CPI da presidência da república. Será que nossos deputados e senadores são machos para isso?


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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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