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Pão, circo e samba
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015
O carnaval é um espetáculo. Indiscutivelmente uma festa que passa por nossa cultura, nossa alegria, nossa maneira de viver.
O carnaval é a nossa Las Vegas, é uma Disneylândia de gente grande com roupa pequena, bem tropicalizada. É o momento em que tudo é alegria, tudo é mágico e tudo tem brilho, luz e vida.
Mas o carnaval atende, e bem, a uma repetida, antiga e, ainda, eficiente prática: a de distrair a todos sobre o que realmente está a nossa volta.
Roma sempre usou o pão e o circo para manter os súditos dos Césares distraídos e felizes, e sua eficácia é indiscutível, pois só isso explica que dois mil anos depois o estado permaneça incompetente, ausente em tantas áreas básicas e obrigatórias, mas sempre com verbas disponíveis para o carnaval e outras lonas e luzes.
Milhares de prefeituras têm suas escolas e saúde, o mais básico de tudo, absolutamente abaixo do nível mínimo aceitável, mas têm em suas festas momentos de riqueza e esplendor. É uma grande distração para o contribuinte ou, como prefiro pensar, consumidor.
O estado trata seu consumidor como pais irresponsáveis fazem com seus filhos, com filhos sem futuro. Enchem, a cada um de nós, de balas e biscoitos, nos deixam jogar bola, dormir tarde e não nos obriga a estudar.
Somos consumidores que recebemos apenas o que faz de hoje um bom dia, mas nada que permita que o amanhã possa ser melhor.
Nesta política de pão e circo, o carnaval se traveste de picadeiro, e ao terminar de foliões nos fantasiamos em palhaços, mais precisamente em Pierrôs: pobres, choramingando, vestidos por sacos de farinha e vítimas das piadas. Que se entenda, folião é a nossa fantasia em todo carnaval, porque somos o resto do ano Pierrôs, sem Colombina, traídos por Arlequins no melhor estilo da Commedia dell’Arte, marcada sempre pelos improvisos.
Nesta política superficial focada em distrair quem não critica e iludir quem tem bom senso, nosso mercado de consumo retrai, o empreendedor perde, o planejamento sofre e o futuro samba, literalmente.
De sexta a quarta-feira, o Brasil que produz para. O Brasil que sonha, dorme acordado, e o Brasil que consome acordará mais pobre, menos consumidor e menos capaz de alcançar seu futuro.
Para um ano que ainda não começou, muita coisa já mudou. Mudou em promessas de uma recente eleição, mudou no nível dos reservatórios, na constância da luz.
Para quem vende caixa d’água, para um ano que ainda não começou, ele promete riqueza, para quem vende bomba de alta pressão, reza para o carnaval não terminar.
Entre caixas d’águas cheias e vazias, o pão vai rolar, ainda que com pouca água na massa ou mesmo um pouco cru, já que o forno elétrico anda desligando mais cedo, mas quem se importa de verdade, esta semana tem circo...É carnaval!
Roberto Mendes é publicitário, especialista em marketing pelo Instituto
de Administração e Gerência da PUC-Rio, pós-graduado em Engenharia
Ambiental, professor titular da Ucam e sócio da Target Comunicação
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