Cadê o eucalipto que estava aqui? Sumiu

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Em 28 de fevereiro de 2013, na minha coluna do jornal A Voz da Serra sobre a restauração da Praça Getúlio Vargas, eu escrevi: "Ainda em Nova Friburgo, no ano de 1881, Glaziou iniciou a obra paisagística da atual Praça Getúlio Vargas (na época conhecida como Praça Princesa Isabel) por encomenda do 2° Barão de Nova Friburgo, Bernardo Clemente Pinto Sobrinho. Ela atendia a uma necessidade de urbanização da área, que apresentava sérios problemas de alagamento, por se tratar de um pântano; foi essa a razão do plantio dos eucaliptos que até hoje embelezam e dão sombras ao logradouro. Aliás, ela foi tombada em 1972 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), daí a poda dessas arvores necessitar do aval daquele instituto”. Escrevi ainda: "Por seu conjunto arquitetônico e paisagístico, a Praça Getúlio Vargas é um dos principais pontos turísticos da cidade. É em função disso que o poder público tem a obrigação de, ao reformar aquele logradouro, ser o mais fiel possível ao projeto paisagístico original. É preciso substituir as árvores centenárias que ameaçam vidas e patrimônio, em função de sua longevidade, mas há que ser feita por espécies semelhantes ou mesmo idênticas. O que não pode é o descompasso atual em que árvores gigantescas convivem ao lado de árvores menores, secundadas pelos tocos das raízes daquelas que tombaram ou foram derrubadas. O pobre Glaziou deve estar dando cambalhotas em seu túmulo”.

 A vocação turística de Nova Friburgo vem desde os primórdios de sua fundação e aquele local, com a catedral de um lado, o Ienf do outro, além da Praça Dermeval Moreira, representa o cartão de visitas da cidade. Aliás, deve-se evitar a todo custo a completa descaracterização da Praça Getúlio Vargas, como a que foi promovida na Dermeval Moreira durante o governo Saudade Braga.

Na edição de 21 de janeiro, A Voz da Serra dizia: "A Secretaria de Meio Ambiente informou que o plantio de novas mudas na Praça não será feito imediatamente, porque existem várias etapas a serem cumpridas em relação à revitalização do local. De acordo com o secretário de Meio Ambiente, Ivison de Macedo, o projeto executivo enviado na semana passada pelo Instituto do Patrimônio Artístico Nacional (Iphan) orienta que jacarandás, ipês, eucaliptos-prateados, arecas, bouganvilles e outras espécies devem ser plantadas no local das árvores retiradas, mas esse projeto ainda será encaminhado ao setor de Patrimônio Histórico de Nova Friburgo, da Fundação Dom João VI, para análise”.  

É de se lamentar o descaso com a cidade, promovido pelo atual ocupante do Palácio de Nova Friburgo, mais um não faz diferença, no entanto, deixo no ar a seguinte pergunta: Por que a atual administração não fez um projeto paisagístico com antecedência e, no momento em que começou a liquidar as árvores, não iniciou o replantio? De acordo com o secretário de Meio Ambiente, o projeto ainda vai ser encaminhado. Aliás, o Patrimônio Histórico de Nova Friburgo não deveria ter sido consultado antes da derrubada das árvores? E o Ibama, já que no momento trata-se de um desmatamento puro e simples?

De acordo com a história da cidade, essa área era um grande pantanal e como os eucaliptos são arvores conhecidas por secarem o local em que são plantados, essa é a explicação para a escolha feita por Glaziou. Já que impacto ambiental é a expressão da moda, sem nenhuma conotação pejorativa, qual seria a consequência atual causada pela eliminação pura e simples dessa espécie que, aliás, não é nativa de Friburgo? O problema deveria ser tão grave, na época, que no projeto original foram plantados 200 mudas de eucaliptos e não os 60 de agora.

Não se deve criticar o corte em si, pois algumas das raízes mostram que o tronco já estava oco, portanto o risco de queda era grande, mas muitos estavam intactos. O que devemos criticar é a intempestividade do ato, pois corremos o risco de conviver com um descampado durante um longo tempo.


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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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