Corrupção e pecado (1)

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Caros amigos, trago à reflexão um tema atualíssimo para a sociedade brasileira e que, por outra parte, apesar de muito falado, denunciado e debatido, é pouco aprofundado na reflexão de nosso povo: a corrupção.

Claro está que quando se ouve falar de corrupção todos concordam em que se trata de algo ruim, condenável, maligno. Ninguém gosta da corrupção! Mas, então, por que ela existe? A doutrina da Igreja e o Evangelho lançam uma luz sobre este problema e nos ajudam a entendê-lo melhor.

Em primeiro lugar, "toda corrupção social não é mais que a consequência de um coração corrupto. Não haveria corrupção social sem corações corruptos” (Card. Bergoglio, 08/12/2005). No Evangelho, Nosso Senhor é categórico: "Ora, o que sai do homem, isso é que mancha o homem. Porque é do interior do coração dos homens que procedem os maus pensamentos: devassidões, roubos, assassinatos, adultérios, cobiças, perversidades, fraudes, desonestidades, inveja, difamações, orgulho e insensatez. Todos estes vícios procedem de dentro e tornam o homem impuro” (Mc 7, 20-23).

Mas o que é esse "coração” do qual saem coisas boas ou más? O "coração”, no sentido comumente empregado no Evangelho, é o centro interior do homem, capaz de aderir por uma "opção consciente e livre” (Cfr. GS, 17) a uma causa, uma opção fundamental, uma finalidade. Também no Evangelho Jesus Cristo disse: "Porque onde está o teu tesouro, lá também estará o seu coração” (Mt 6, 21).

Concluímos, então, que a corrupção tem sua origem quando o homem transforma a imanência deste mundo — as coisas materiais, o prestígio, o poder e até mesmo pessoas e objetos — na finalidade última do seu coração. Sendo que, o único que pode ocupar satisfatoriamente este lugar privilegiado em nossa interioridade é Deus: Bem Supremo do coração humano.

Uma outra ideia que nos ajudará a refletir sobre o tema diz o seguinte: se a corrupção nasce de um coração que se apegou a um "falso tesouro”, ela não é propriamente um "pecado”, mas uma desordem. Pecados serão os atos do corrupto. A corrupção, entretanto, é um estado de alma que necessita conhecer e se converter ao Deus verdadeiro. 

Assim, muito mais do que ser "perdoado” de pecados pontuais, o corrupto necessita ser curado dos apegos desordenados de seu coração.

Façamos uma reflexão pessoal: quais são os anseios do nosso coração? Em que estamos habitualmente pensando? Quais são os projetos que alimentamos? Depois de um exame atento, não deixemos de confiar tudo ao Coração de Jesus, que pode curar toda desordem.


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Dom Edney Gouvêa Mattoso

A Voz do Pastor

Buscando trazer uma palavra de paz e evangelização para a população de Nova Friburgo, o bispo diocesano da cidade, Dom Edney Gouvêa Mattoso, assina a coluna A Voz do Pastor, todas as terças, no A VOZ DA SERRA.

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