A educação e o preço dos produtos

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Abordarei a diferença dos preços dos produtos dentro de uma estabilidade econômica, quando a economia não é afetada por crises e deixarei de lado as questões levantadas por Leo Hubermann em seu livro a História da Riqueza do Homem, quando fala dos preços marginais.

Por que um quilo da bananada de nossa querida vovó é mais caro que um quilo de banana colhido no sítio de propriedade dela? É uma questão bem simples: o quilo da banana dá emprego para uma pessoa. O empregado da vovó colhe o cacho, divide-o em quilos e vende por R$1,00 cada um. A vovó, quando faz a bananada, dá emprego para um grupo muito maior de pessoas: ela usa açúcar e ativa a agroindústria, usa papel celofane para embrulhar o produto, quando cozinha ativa a prospecção de gás que, por sua vez, depende de transporte até a cozinha ou de dutos. Tanto num quanto noutro foram usados produtos siderúrgicos. 

Como se vê, a inteligência e o conhecimento da vovó, enquanto proporcionam mais empregos, criam condições para este preço diferenciado e, portanto, podemos perceber sem devaneios que o maior conhecimento cria valor agregado a inúmeros produtos.

Podemos ir mais longe: quando compramos um HD para algum computador e ele é um pouquinho mais poderoso que os HDs comuns, o preço será, aproximadamente, de 250 dólares. 

Se considerarmos os celulares, a mesma coisa: enquanto montamos celulares no Brasil e os revendemos lucramos muito pouco. Os cérebros que criam celulares ganham muito mais e, portanto, são geradores de mais empregos que a indústria de montagem.

A conclusão importante que se impõe neste raciocínio é que o tipo de educação que se promove num país determinará os salários e o preço dos produtos. Se prepararmos, dentro de uma escola, pessoas que são especialistas em repetir em vez de criar, pessoas que aplicam receitas no lugar de desenvolver projetos, teremos produtos de preço baixo como o quilo da banana do sítio da vovó. Daí a importância do modelo educacional que se pretende instalar desde a educação infantil até o final da universidade. 

Se para o primeiro modelo basta o ensino fundamental até incompleto, para o segundo será necessário o ensino médio para todos e o ensino técnico e superior para um número bem maior.

Um exemplo bem prático dessa questão em relação aos salários foi o que presenciei em Tangará da Serra-MT, quando de um congresso de educação: as grandes colheitadeiras dependentes de computadores, usando GPS e, portanto, envolvidas em sofisticação e delicadeza aliada à alta tecnologia contratam mão de obra feminina nas faculdades de computação da cidade. Restam aos que não estão estudando salários mais baixos que cobrem os trabalhos de mecânica e reparos nos pneus.

É nesse sentido que a educação poderá melhorar a vida social das pessoas e distribuir riqueza. O problema, neste século, está muito além da "mais valia” marxista, ele passa, inegavelmente, pelas salas de aula e por um projeto de educação marcadamente criativo, colorido pela complexidade e o mais livre possível das segmentações.


Prof. Hamilton Werneck é pedagogo, escritor e palestrante


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Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

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