Pose de rico, vida de pobre

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Feriado é tudo de bom. Os feriados funcionam como quebras de rotina, e é indiscutível o aspecto de que sejam muito bons para diversos segmentos diferentes, como turismo, gastronomia, automóveis e até o consumo tem bons momentos de venda, mas será mesmo um bom negócio para todos?

A primeira coisa depende de qual seja seu destino turístico, pois enquanto alguns destinos lotam, outros ficam às moscas, assim seu restaurante pode não vender nada. O segundo aspecto é questionar quem paga a conta, pois, para cada dia não trabalhado, alguém ou "alguéns” pagam a conta.

Com leis trabalhistas antiquadas que oneram o empregador, feriados impactam sobremaneira no custo de se ter um trabalhador, visto que este recebe e não trabalha. Tal custo é repassado na diminuição do valor deste trabalhador, no aumento do custo do produto/serviço ou ainda na redução da capacidade de investimento do negócio. Nos Estados Unidos, modelo de consumo cultuado por nós, o trabalhador recebe por hora trabalhada, então, trabalhador com juízo não quer feriado, pois isso impacta diretamente no orçamento dele. Queremos ter consumo de americano e vida de paraíso tropical, é preciso fazer escolhas. Aliás, precisamos descobrir quem somos, pois somos ao mesmo tempo uma economia liberal, uma antiquada, uma capitalista, uma socialista... 

O Brasil precisa definir o que vai ser quando crescer, quando vai finalmente se tornar uma nação e assumir os compromissos de ser grande e de ser responsável pelo que é melhor para todos e não o que é mais desejado ou mais eleitoral. Temos que parar de investir em manobrar o superávit fiscal e ir para mudanças estruturantes. Precisamos parar com a criação de novos feriados e reduzi-los, pois nesta cultura de pão e circo o país perde — e junto perdem seus cidadãos e os filhos destes.

Considerando que o país não cresce economicamente, pois cresce pifiamente e bem abaixo do crescimento da população, a riqueza por pessoa diminui e só se desloca de bolso; em vez de se multiplicar, a riqueza tem sido dividida.

Dividir é o conceito dos feriados, que divide opiniões, divide a semana e divide o pensamento de quem vai viajar. Se olharmos todas as economias que se desenvolveram nas últimas décadas, o foco foi em educação e trabalho. Foco em conhecimento, comportamento, produtividade e resultado. Isto é, sem foco em feriados!

É preciso reduzir feriados e focar na geração de riqueza, inclusive aumentando a poupança interna, e esse é outro problema gerado por feriados, que ampliam o endividamento através de parcelamentos e gastos não previstos, e diferente do que muitos acreditam, consumo financiado a taxas de juros altas é péssimo para economia e ótimo para bancos, pois aumenta ainda mais a concentração de riqueza e tira muito dinheiro do consumo.

A internet e suas vendas on line tem seu pior momento nos feriados, as vendas na internet despencam, pois o maior resultado dos e-commerces acontece enquanto as pessoas estão trabalhando, ou melhor, no trabalho.

O ano de 2015 trará pelo menos quinze feriados, um volume respeitável de dias úteis se perderá. Com isso, dias de aula se perderão junto e estaremos mais perto da praia e mais longe de um futuro mais consistente. Nossos filhos terão que trabalhar ainda mais ou nosso país será ainda mais pobre, ou os dois. 

Num país onde uma em cada quatro pessoas recebe sem trabalhar, teremos um em cada dezesseis dias úteis sem trabalho. Somos ou não somos um país rico, muito rico?

Com tanta pobreza por erradicar, é claro que o caminho que estamos tomando está errado, vamos continuar posando de rico, mas vivendo como pobres.


Roberto Mendes é publicitário, especialista em marketing pelo Instituto

de Administração e Gerência da PUC-Rio, pós-graduado em Engenharia

Ambiental, professor titular da Ucam e sócio da Target Comunicação


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