A minoria ruidosa e a verdade do que se tem

quarta-feira, 05 de novembro de 2014

O marketing é a ciência do mercado, da compra e venda, das trocas — a maior de todas as trocas — de dinheiro por produtos e/ou serviços. Para que tudo isso aconteça é preciso entender e modificar os comportamentos sociais, uma natureza mutável e, ao mesmo tempo, teimosa.

A maior das teimosias é o fato de todos acreditarem que suas verdades são verdadeiras, e ignoram todo o passado que demonstra que todas as verdades já mudaram, ciclicamente. Já acreditamos que a vida valia pouco, que a Terra era o centro do universo, que a escravidão era meio justificável de crescimento econômico, que a homofobia era um princípio ou que o consumo é a salvação. 

Tempo, história e passado juntos explicam muito sobre nós, e a única coisa que se percebe é que existem duas minorias ruidosas e uma maioria mansa, que segue como manada, segue a trilha de uma destas minorias.

Recentes estudos sobre as propaladas técnicas de brainstorm demonstram que, na maior parte das vezes, o que acontece é a imposição de ideias dos que mais falam sobre os que menos falam. Em meio à tempestade de ideias temos a maioria silenciosa mansa, que ao final de tudo acredita serem suas as ideias que eram de outros, e por fim, a minoria silenciosa que discorda acaba engolida pela maioria passiva.

Seguimos nossos dias nesta métrica, onde poucos e barulhentos ditam novos comportamentos, e poucos e barulhentos se negam a aceitar; negam o que comumente se chama de modernidade, de novo, de diferente. Esperneiam como crianças não atendidas em loja de bala. Pirraçam, dizem que antigamente era melhor, que é um absurdo toda essa mudança, como se ela (pessoa) não fosse a própria representação da mudança, como se pudesse ter passado incólume sobre o efeito das mudanças. Temos meia dúzia que gritam contra as mudanças e temos dúzia e meia que gritam pela mudança, e o passado demonstra que nosso presente está condenado a mudar e nosso futuro irá se repetir, será novo.

É preciso entender que mudança é a única coisa permanente, e permanente é nossa necessidade de mudança. O passado tem duas personalidades, e sua bipolaridade dá resultados distintos no futuro que assume o papel de presente com o tic tac do relógio. Existe o passado que se mantém e assume o papel de antigo, de vencido, de encardido, e temos o passado que saiu e que volta, volta com cara de novo, de retorno, volta novo e não "de novo”, e sendo novo, ele vende, compra-se, deseja-se, substitui-se...

Vivemos num mundo onde comprar, vender e substituir são palavras de ordem, ordem da minoria ruidosa que detém meios e processos de comunicação; comunicação de valores, comportamentos, gostos, opiniões... Num mundo onde opinião define tudo sobre moda, consumo, marcas etc. Controlar a opinião é algo poderoso, poderoso porque é rentável.

Somos operários de uma fábrica de celebridades, em que um novo ilustre desconhecido sob os holofotes de qualquer novela aparecerá com novo corte de cabelo e por baixo de nossos capacetes mudaremos nosso corte e penteado, faremos fila em salões. Em pouco tempo cederemos e seguiremos. Nossa opinião será formada, moldada, direcionada por uma minoria ruidosa e por uma maioria silenciosa.

Nosso gostar, desejar ou querer se modifica em função da tecnologia, da cultura, do convívio, da novidade, por peso do presente, do passado e do futuro. Quase nunca por nós, quase sempre por todos os outros. 

Ainda assim seguimos acreditamos em nossas verdades, cheios de nós e cheios de tralhas, produtos e serviços que não precisamos, mas que os outros esperam que tenhamos. Seguimos com nossas verdades, ainda que não sejam tão nossas, e nem mesmo sejam tão verdades. O mercado funciona num grande brainstorm, onde outras ideias se vestem de nossas, ganhamos ideias todos os dias e isso é bom, bom pra quem vende, bom para quem quer comprar. Acreditar em novas verdades é seguir comprando e enquanto comprarmos a verdade sempre nos será entregue, afinal o que mais importa hoje (e será assim no futuro?) não é a verdade que se tem, mas o que se tem de verdade.


Roberto Mendes é publicitário, especialista em marketing pelo Instituto de

Administração e Gerência da PUC-Rio, pós-graduado em Engenharia Ambiental,

professor titular da Universidade Candido Mendes e sócio da Target Comunicação.


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