Escolhendo o adversário

quarta-feira, 08 de outubro de 2014

Por que o PT bateu tanto em Marina? Sem dúvida alguma, tudo isso ajudou muito Aécio a assumir a segunda posição, é indiscutível esse aspecto, mas até que ponto isso ajudou o PT? Essa é a discussão no marketing político. 

Aécio precisou de nervos de aço para suportar o ritmo normal da população em esquecer a comoção do acidente do então candidato Eduardo Campos, e retornar ao duelo, já sabido e esperado desde o início, que seria PT x PSDB ou Dilma versus Aécio.

A queda do avião de Eduardo Campos, ironicamente, deu vida à candidatura de Marina, não somente nesta eleição, mas como liderança política do país pelos próximos anos, próximas eleições e neste segundo turno em especial. O ataque do PT foi muito mais do que uma ação desnecessária ou pessoal; foi, sobretudo, estratégica.

Será que o PT errou fazendo ataques? Suas chances eram bem maiores contra Marina, num segundo turno, do que contra Aécio, sob o ponto de vista de poder político, então por que o PT fez o que fez? O PT deveria ter deixado o serviço sujo, de bater, para o PSDB, mas não sei se por hábito ou por vingança pessoal, fez o serviço sujo já em primeiro turno e agora a sujeira encardiu.

Marina vinha numa estrutura que não era dela, mas de Eduardo; com partidos que não necessariamente a queriam encabeçando a chapa, com propostas que não eram todas dela, mas da composição, com discursos que foram necessários ajustar na última hora. Ela tinha fragilidades que num segundo turno podiam ser atacadas, por que o PT precipitou tudo isso, essa é a charada?

A resposta reside em "fidelidade”. Certamente fizeram isso porque sabiam que os eleitores do PSDB jamais votariam em Dilma, mas os eleitores de Marina estão mais propensos a votar nela. Assim, a escolha de ter Marina fora era a esperança de obter votos a mais num segundo turno. Isso explica a conduta.

O PT desistiu de seguir enaltecendo a si mesmo, dizendo o que fez nos últimos doze anos e prometendo fazer em quatro o que não fez nestes doze, mas desviou-se, e muito, e usou parte significativa de seu tempo na TV para atacar seus oponentes, num aparente clássico erro de liderança: atacar o segundo (e terceiro) colocado.

Seus ataques, por mais que ameacem ter fechado as portas na aproximação entre eleitores da Marina e PT, entre partidos coligados e PT, o PT fez o que precisava fazer para ter chances de ganhar essa eleição. Seria impossível converter eleitores de Aécio, por isso trazê-lo para o segundo turno era vital para o PT.

Na política partidária, tudo se resolve com ministérios, mas com o eleitor, em especial da Marina, que é mais volátil e sofre, como todos os demais eleitores, de memória fraca, o PT aposta na conversão destes para o partido neste segundo turno. Se Marina não se posicionar, o PSDB vai precisar de muito mais que propostas e denúncias para levar essa eleição. 

Se o PSDB puder, vai usar cada ataque do PT, apesar de seu telhado de vidro, para relembrar os eleitores de Marina, como o PT agrediu Marina, vai mostrar que o PT é vilão e como caberá a ele, Aécio, derrotar a mesmice, a continuidade. O PT já entendeu o grito de mudança e vai prometer mudança, aliás, o segundo turno vai ser de promessas!

O show vai começar agora! Promessas apelativas, compromissos que jamais serão cumpridos, muita imagem de criancinha sendo abraçada, muito pobre sorrindo com dentadura comprada, muito ator disfarçado de empreendedor e trabalhador vão poluir o vídeo do horário político gratuito de televisão. 

Num país que ainda tem 14 milhões de analfabetos absolutos (que o PT ajudou a aumentar) e 33 milhões de analfabetos funcionais (incapazes de entender o que leem e, principalmente, criticar) a linguagem de novela, de show televisivo ainda decide muito mais que propostas consistentes. Entre ataques e encenações, o Brasil ainda vai ficar na mão dos marqueteiros das campanhas.

Num país onde se reelegem Tiriricas pelo Brasil afora e esposas de candidatos fichas-sujas, nosso Brasil segue rumo ao segundo turno, e até dia 26 de outubro muita água vai correr, seguiremos com a certeza apenas de que o show não pode parar. O fato é que 22 milhões de votos estão voando e o PSDB precisa de metade disso só para empatar. É a outra metade quem vai decidir. Ao que parece, o PT escolheu seu adversário; agora, é preciso que o eleitor escolha seu presidente.


Roberto Mendes é publicitário, especialista em marketing pelo Instituto de

Administração e Gerência da PUC-Rio, pós-graduado em Engenharia Ambiental,

professor titular da Universidade Candido Mendes e sócio da Target Comunicação.


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