Direitos e deveres

segunda-feira, 06 de outubro de 2014

Caros amigos, em tempos de eleição, cabe-nos pensar um pouco sobre alguns aspectos da vida social. De fato, a cultura vem passando por grandes transformações. Inegavelmente são muitos os progressos no campo social, mas também é lamentável a decadência de valores fundamentais para o indivíduo e para a sociedade.

O Santo Padre, o Papa Francisco, fez um interessante diagnóstico da atualidade na Exortação Evangelii Gaudium, quando escreveu: "Em uma cultura em que cada um pretende ser portador de uma verdade subjetiva própria, torna-se difícil que os cidadãos queiram inserir-se num projeto comum que vai além dos benefícios e desejos pessoais. Na cultura dominante, ocupa o primeiro lugar aquilo que é exterior, imediato, visível, rápido, superficial, provisório. O real cede lugar à aparência.” (n. 61-62).

A crise no compromisso comunitário é real e pode levar ao colapso social. Ela se manifesta de várias formas e pode ser identificada como uma crise na consciência de "direitos e deveres”. 

Reivindicar direitos é algo essencial à sociedade. Ela é como um "organismo vivo”, onde cada parte precisa ser atendida para que o conjunto esteja sadio e prospere. Assim, os direitos das "maiorias” e "minorias” precisam ser levados em conta para o bem de todos. Em íntima relação com esta verdade está a assertiva de que todos precisam conhecer e cumprir seus deveres, pois somente quando todos e cada um cumprirem suas obrigações a sociedade crescerá e prosperará.

O Papa João XXIII, de feliz memória, já dizia em sua emblemática encíclica sobre a paz que "os que reivindicam os próprios direitos, mas se esquecem por completo de seus deveres ou lhes dão menos atenção, assemelham-se a quem constrói um edifício com uma das mãos e, com a outra, o destrói” (PiT, 30).

Tudo isto, entretanto, seria pura utopia, alienação da realidade, se não começasse concretamente por algum lugar. Por onde se começa a dinâmica dos "direitos e deveres”, tão importante para a sociedade? Responde o Catecismo da Igreja: "A participação se realiza, antes de tudo, assumindo os setores pelos quais se tem a responsabilidade pessoal: pelo cuidado na educação dos filhos, por um trabalho consciencioso, o homem participa no bem dos outros e da sociedade” (n. 1914).

Ou seja, é na família que se aprende e se começa a viver a sadia relação dos direitos e deveres. Talvez por isso nossa cultura atual ataque tanto a família cristã. Talvez por isso ela esteja tão ausente nas prioridades daqueles que ocupam cargos públicos.


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Dom Edney Gouvêa Mattoso

A Voz do Pastor

Buscando trazer uma palavra de paz e evangelização para a população de Nova Friburgo, o bispo diocesano da cidade, Dom Edney Gouvêa Mattoso, assina a coluna A Voz do Pastor, todas as terças, no A VOZ DA SERRA.

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