Santos Dumont e Congonhas, um desafio aos nossos pilotos

terça-feira, 02 de setembro de 2014

Nesse fim de semana fui a São Paulo para o casamento da filha de uma prima. Meu voo partia do Santos Dumont e parava no aeroporto de Congonhas, na capital paulista. Na realidade, são dois aeroportos a atestarem, todos os dias, a perícia e a competência dos pilotos profissionais brasileiros.

O Santos Dumont foi inaugurado em 1936, com uma pista de 700 metros de extensão. Hoje, são duas pistas, uma com 1.330 e outra com 1.350 metros. O problema é o mar nas duas extremidades das pistas e o morro Cara de Cão, em frente à pista. Apesar de alguns aviões já terem mergulhado na baía de Guanabara ao tentarem aterrissar, principalmente nas décadas de 50 e 60, ao que me lembre nunca nenhum avião se chocou com o morro em frente.

O aeroporto de Congonhas também foi inaugurado em 1936, na região da Vila Congonhas, distrito de Campo Belo, em São Paulo. Na época o local foi escolhido por suas condições naturais de visibilidade e de drenagem, longe das áreas de enchente do rio Tietê e por ser uma região afastada do centro da cidade e praticamente deserta. Suas pistas têm 1940m e 1540m, respectivamente, de extensão e é o segundo aeroporto mais movimentado, em número de passageiros e em número de aeronaves, do Brasil. Ao contrário do Santos Dumont, suas pistas, hoje, dão para uma região muito povoada, e as cabeceiras são cercadas por edifícios, numa demonstração da incompetência das autoridades brasileiras, que permitiram a ocorrência de tal aberração. Sempre digo, em tom de galhofa, que nas manobras de pouso pela manhã, é possível ver através das janelas dos apartamentos moradores nus a trocarem de roupa. Os passageiros dão uma de voyeurs, involuntários.

Portanto, decolar e pousar desses dois aeroportos requer perícia e competência, o que pode ser demonstrado com o baixíssimo nível de acidentes ocorridos nesses dois aeroportos. Pelas próprias características de Congonhas, nele a probabilidade de problemas mais graves é muito maior como, aliás, aconteceu em 2007. Naquele acidente morreram 199 pessoas, quando um avião da Tam, durante uma manobra de aterrissagem, não conseguiu parar, ultrapassou a pista e chocou-se com um prédio na frente, explodindo e pegando fogo.

Mesmo assim, gosto de utilizar os dois aeroportos, principalmente o Santos Dumont, considerado por mim um dos mais charmosos ou, pelo menos, o que mais me faz recordar minha infância passada no Rio de Janeiro. O único senão é o preço extorsivo, um verdadeiro assalto, cobrado no estacionamento ao lado. Das dez da manhã de domingo até o meio-dia de segunda-feira, paguei noventa e cinco reais.

Confesso que, tanto na ida como na volta, cumprimentei os dois pilotos após decolagens e aterrissagens perfeitas, realizadas em condições que deixam muito pouca margem para abortar tais manobras. Aliás, tanto num quanto noutro, quando as companhias aéreas começaram a operar com modelos Boeing ou Airbus, muitas ações foram parar na Justiça, impetradas pelo Ministério Público Federal, até que viesse a homologação definitiva da Infraero. Inclusive, a própria Boeing foi instada a fazer algumas modificações nos aviões que operariam no Santo Dumont, com o objetivo de aumentar a segurança nas manobras de pouso.

Para terminar, chegar ao Rio de Janeiro pelo litoral, passando pela Restinga da Marambaia, Barra da Tijuca, Copacabana e Enseada de Botafogo é um colírio para os olhos, digno de ter de pagar pedágio para o Criador.

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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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